Victor Nogueira
De súbito um breve relâmpago logo seguido do ribombar dum trovão, a chuva peguinhenta caindo em cortinas desde o amanhecer. A cozinha está inundada e a intervenção do pedreiro no telhado não resultou, pois não resolveu aquilo que seria a causa principal: a escorrência das águas pelo interior da chaminé em dias ou noites de ventos fortes. Combináramos também essa intervenção, mas ele depois resolveu não fazê-la. Assim, hoje a cozinha é, pela segunda vez, não um estendal de nenúfares, mas um retalho de tapetes para absorver a água.
Embora a maioria dos móveis que há dois anos enviei de Paço de Arcos já estejam nos lugares, graças à prestimosa ajuda da vizinha Amélia, falta montar um guarda-fatos num dos quartos para as visitas e mudar o que lá está para o quarto da frente, para depois decidir como serão nele dispostos os armários. Mas para isso terei de desistir da ajuda do carpintero, que vem quando lhe apetece e não quando eu quero, e procurar outro ajudante. Só depois disso poderei começar a abrir as caixas para arrumar o conteúdo nos devidos lugares. Entretanto terei de fotografar tudo o que vai fora antes de passar a camioneta dos monos, para que algumas das minhas incrédulas amigas se convençam do seu engano. "Homens" dizem algumas, como se não houvesse homens, organizados e sábios, que sabem cuidar duma casa como deve ser, mas tivessem de ser eternos dependentes dos cuidados duma qualquer fada/escrava do lar, doce e amargo lar! Fada/escrava, mãe, companheira, filha ou irmã, simultaneamente dominadora e dominada. E eu "amo a Liberdade, mesmo que seja um punhal cravado no meu peito"-
No quintal o restolho continua amontoado, aguardando melhores dias para ser queimado, enquanto mais adiante, os regos no campo do milheiral estão espelhados de água, como se fossem lilliputeanos canais. A chuva em catadupas parou, o sol faz uma tímida aparição, e a casa está menos fria pois liguei dois dos aquecedores, para não andar aqui tolhido de frio, com as juntas dos ossos a protestarem e a rangerem silenciosamente, devido à humidade. Isto, a norte do Mondego, é outro país, sem a claridade, luminosidade e ameno clima como o de Lisboa a Setúbal. Aqui chove muito mais, o tempo é mais pluvioso, brumoso e depressivo.
São horas de tratar do almoço, enquanto os aviões trovejam pelos ares e alguns raros pássaros, para lá do muro do quintal sulcam vertiginosamente os ares,
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O tempo amainou e o céu está ligeiramente neblinado, dum azul acinzentado, aqui e ali manchado de branco-cinza. Tudo é silêncio, para lá do zumbido os ouvidos, do baque seco e ritmado no teclado e do troar, agora longínquo, das aeronaves, talvez por mudança do rumo dos ventos. A casa está aquecida, menos agreste, e o almoço será de almôndegas com ervilhas.
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O almoço ficou saboroso, o que sobrou será para congelar para duas ou três outras refeições. tarde esteve amena, não choveu, mas acabei por não sair. Amanhã, fá-lo-ei, pois de acordo com a meteorologia a partir de amanhã seguir-se-ão dias de sol. Irei talvez ate Vila Chã ou ao Castro de Sam Paio.
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O almoço ficou saboroso, o que sobrou será para congelar para duas ou três outras refeições. A tarde esteve amena, não choveu, mas acabei por não sair. Amanhã, fá-lo-ei, pois de acordo com a meteorologia a partir deste domingo seguir-se-ão dias de sol. Irei talvez ate Vila Chã ou ao Castro de Sam Paio
vídeos em 2019.10.19
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