* Victor Nogueira
Há uma imagem asséptica, inodora,
romantizada de Veneza, "ilustrada" por inúmeros filmes, tal como
sucede nas películas "medievais" ou na "Bíblia", de John
Huston. Mas creio que é em "Morte em Veneza", de Visconti, que
tomamos consciência da outra face, decrépita, insalubre, que refere, para lá os
circuitos turísticos. Veneza é uma cidade que gostaria de ter conhecido
palmilhando os seus caminhos terrestres ou aquáticos. A cidade que
conheço virtualmente (a)parece-me representada em dois filmes, um drama, Morte em Veneza (Morte a Venezia), de
Luchino Visconti (1971), baseado numa novela de Thomas Mann, com Dirk
Borgard e uma comédia dramática, O perfume do dinheiro (The
honeypot), de Joseph L. Mankiewicz (1967),
com Rex Harrison, Susan Hayward, Cliff Robertson e Capucine, baseada na peça
Volpone, de Ben Jonson, e em duas outras obras.
A Veneza de Visconti oscila entre a luminosa, para turistas, e a que está para lá desta, decadente, degradada, escura e pestilenta, por ambas vagueando o compositor Gustave Aschenbach, que se sente atraído por um jovem adolescente, tal como ele em férias e hospedado no Lido. E o que prevalece é a tristeza do compositor, porque sem esperança de retribuição é a sua atracção pelo jovem. Aschenbach encontra a morte estirado numa cadeira de lona, com a maquilhagem desfazendo-se, numa triste e feia Veneza, um cenário não maquilhado, decadente e em "ruínas", fora dos circuitos turísticos que o maestro percorrera!
Luminosa e leve é a Veneza de Mankiewicz. Fingindo estar prestes a morrer, o excêntrico milionário Cecil Fox (Rex Harrison) convida três ex-amantes para seu palazzo veneziano para uma visita final. Cada uma delas traz um valioso presente para oferta, esperando virem a ser “a” beneficiada em testamento. A principal intenção de Fox é ver a reacção das mulheres após a leitura de seu testamento, mas as coisas não saem como planejado, com inesperadas mortes e um final não previsto.
Outros filmes que vi, cada um com a sua Veneza, são total ou parcialmente rodados nesta cidade. 007 – Ordem para matar (From Russia with love), de Terence Young (1963) e 007 - Casino Royale (Casino Royale), de Martin Campbell (2005), com Daniel Craig, baseados em obras de Ian Fleming, O Talentoso Ripley (The Talented Mr Ripley), de Anthony Minghella (1999), com Matt Damon, baseado no romance policial homónimo de Patricia Highsmith, Loucura em Veneza (Summertime), uma comédia dramática de David Lean (1955), com Katherine Hepburn e Rossano Brazzi, Os Contos de Hoffmann (The tales of Offmann), uma fantasia musical de Michael Powell e Emeric Pressburger (1951), Indiana Jones e a Grande Cruzada (Indiana Jones and the last crusade), de de George Lucas (1989), Os Três Mosqueteiros (The three Musketeers), de Paul W.S. Anderson (2011), uma divertida, mas controversa adaptação do romance de Alexandre Dumas, Todos Dizem Que Te Amo (Everyone says I love You), de Woody Allen (1998), que nesta comédia pretendeu homenagear os filmes musicais, O Paciente Inglês (The english patient), de de Anthony Minghella (1992), O Mercador de Veneza (The merchant of Venice), de Michael Radford (2004), com Al Pacino e Jeremy Irons, baseado na peça homónima de Shakespeare transposta para o séc XXI, A peça Othelo, de Shakespeare, desenvolve-se no séc XVII, tendo Veneza como pano de fundo e servindo de argumento a diversos filmes dramáticos, como o de Orson Welles (1952), com o realizador no papel principal Anónimo Veneziano (Anonimo veneciano), dirigido e interpretado por Enrico Maria Salerno (1970), com Florinda Bolkan e Tony Musante, mostra-nos uma Veneza decrépita nas perambulações dos protagonistas (Enrico e Valéria) por um dédalo de ruas e canais, becos e praças, aqui e ali com fugazes cenas da vida quotidiana dos habitantes, enquanto vão relembrando o passado. Enrico havia convidado Valeria para um breve encontro, por razões que se vão descobrindo ao longo do passeio e do diálogo entre ambos, por vezes tumultuoso e violento. após anos de separação, vivendo em cidades diferentes. Nem sempre as tomadas de cena por Veneza, nos deslumbram, parecendo toscas, dum inábil camera man, com deficientes ângulos de visão, nada encantadores. Enrico é um maestro que se não tornou famoso, que pretende dar um espectáculo, regendo uma orquestra de estudantes num concerto com peças dum autor "anónimo" de origem veneziana, o que serve de motivo para a banda sonora, que inclui obras de compositores clássicos. A partitura do “anónimo veneziano“ foi para o filme expressamente composta por Stelvio Cipriani. Mistério em Veneza (A Haunting in Venice), interpretado e dirigido por Kenneth Branagh (2023), baseia-se num romance policial de Agatha Christie (Hallowe'en Party), com um desencantado e aposentado Poirot, que se refugia em Veneza, acabando envolvido no decifrar dum homicídio. (Hallowe'en Party)
A peça Othelo, de
Shakespeare, desenvolve-se no séc XVII, tendo Veneza como pano de fundo e
servindo de argumento a diversos filmes dramáticos, como o de Orson Welles
(1952), com o realizador no papel principal (2024 08 15)
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