Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

.

Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

domingo, 19 de dezembro de 2021

Textos em dezembro 19

 *  Victor Nogueira


2012 12 19 Foto victor nogueira - O homem da bicicleta





as palavras são
dentro de mim
um clarim
um rio
.
rio não
lagoa
mar interior
duro e seco
sem ti
.
os gestos são
fatiados
fatigados
mal talhados
fogo e frio fátuo
.
sem mágoa
nem água
a tua anágua
seca
.
eu um tronco
bronco
queimado
atravessado
no caminho

setúbal
2012.12.19 (2)

Maria Rodrigues é um grande poeta,lindoooooooooooooo,gostei muito obrigada amigo,nâo tinha o meu pc.estava arariado(y) · 9 ano(s) Maria Rodrigues (y) · 9 ano(s) Nádia Patricia Estou aqui para ti. · 9 ano(s) Nádia Patricia ❤ · 9 ano(s) Margarida Piloto Garcia A ler baixinho o que escreveste, como se precisasse que as palavras fizessem eco. Beijos Victor. · 9 ano(s) Mia Pires Griff ...floresça a semente! Obrigada Victor...bjo. · 9 ano(s) Diamantina Evaristo Parabéns pelo momento de inspiração. Bj. 9 ano(s) Belaminda Silva Lindo camarada, beijinhos e uma noite feliz 🙂 · 9 ano(s) Deolinda F. Mesquita Muito Bonito.... adorei Victor . Parabéns bjs. · 9 ano(s) Manuela Vieira da Silva a semente // o grão liberta desperta // da pele germina… Ver mais · 9 ano(s) Filipe Chinita abraço meu, victor. · 9 ano(s) Maria Jorgete Teixeira Belos, breves, em respiração apressada, ao ritmo do coração. Bjs · 8 ano(s) Isabel Maria As palavras que te habitam e te arrastam para um mar de emoções,bjs · 8 ano(s) Graça Maria Teixeira Pinto As palavras saltitam, voam, são emoção e acabam retidas em nós. · 8 ano(s)

19 de Dezembro de 2013  ·   O PINTOR FOI ASSASSINADO - José Dias Coelho (Pinhel, 19 de Junho de 1923 — Lisboa, 19 de Dezembro de 1961)  artista plástico e militante e dirigente do Partido Comunista assassinado pela PIDE há 52 anos.

«Há [52] anos, num dia como [hoje], a morte saiu à rua. Semanas antes, um grupo de dirigentes comunistas tinha escapado de Caxias no carro blindado oferecido por Hitler a Salazar. Em  Goa, o colonialismo português desmorona-se e as sucessivas derrotas do fascismo lançam a PIDE sobre todas as direcções. A 15 de Dezembro, vários membros da direcção do PCP são detidos. Entre eles estavam Octávio Pato, Pires Jorge, Carlos Costa e Américo de Sousa.

No dia 19 de Dezembro, a brigada da PIDE encabeçada pelo criminoso José Gonçalves detecta o responsável pelo Sector Intelectual de Lisboa do PCP e um dos principais especialistas em falsificações de documentos. Aos 38 anos, José Dias Coelho é assassinado a tiro na rua que anos mais tarde receberá o seu nome.» [Bruno Carvalho no blog 5 dias]

Em Angola, o 4 de Fevereiro de 1961 marca o início da guerra colonial, na sequência de séculos de resistência à colonização portuguesa, guerra colonial que a 25 de Abril de 1974 teve o seu epílogo.

 A Morte Saiu à Rua é um poema musicado  da autoria e interpretado por José Afonso, incluído no  LP Eu Vou Ser Como a Toupeira, lançado em 1972

CARTOONS  João Abel Manta


2021 12 19 Homenagem a José Dias Coelho cartaz

2021 12 19 - HÁ 62 ANOS, EM 1961, A MORTE SAIU UMA VEZ MAIS Á RUA , EM LISBOA - José Dias Coelho, dirigente do PCP, era assassinado pela PIDE, tal como Catarina Eufémia o fora pela GNR, em 1954, nos campos do Alentejo, durante uma manifestação por melhores condições de vida e de trabalho.
LP José Afonso "Eu vou ser como a toupeira" | 1972


sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Lurdes Nobre - morreu a Lídia Cascalho.

 


* Lurdes Nobre

7 de novembro de 2021 às 17:13  · 

Soube pelo António Couvinha que morreu a Lídia Cascalho.

Hoje Évora fica muito mais pobre, não porque a Lídia fosse rica ou tivesse sido presidente do que quer que seja, mas porque ela foi uma das primeiras Mulheres Livres que Évora viu. Foi uma das primeiras contestatárias, uma das primeiras a traçar o seu caminho sem pedir licença e nem desculpas!

Conheci a Lídia muito miúda, o Pai o Cascalho era o cabeleireiro da minha mãe, muitas vezes enquanto esperava pelo arranjo dos cabelos, subi ao 1º andar e ficava na sala com a Lídia, naquela época uma adolescente e eu uma menina. Lia-me trechos de livros que eu não entendia, ria quando eu fazia uma pergunta idiota de miúda perguntadeira,  e deixava-me fascinada com as pinturas que me mostrava, não sei se dela se de outos, mas eram muito diferentes dos quadros de frutas e mulheres elegantes que estava habituada a ver. Fascinava-me com as suas roubas exuberantes, com o seu cigarro sempre na mão,  Depois voltei a encontrar a Lídia na adolescência, muitos anos depois dela ter aberto a porta dos cafés grandes às mulheres para que pudessem entrar sozinhas, eu entrei, mas se me escapei das balas que a tinham atingido, nao me livrei das farpas, tantos anos depois mesmo assim não foi fácil, ainda era mal visto, mas a Lídia tinha-nos aberto a porta e nós lá estávamos, quisesse-se a cidade ou não. Também ali a Lídia me surpreendia, dava o peito às balas quando alguém lhe fazia algum reparo à forma de pensar e de estar. Assumia as suas escolhas, os seus amigos e não levava desaforo para casa. Lia alto e bom som o trecho de um qualquer livro que achava servir para mudar as mentalidades mesquinhas de uma cidade burguesa e profundamente covarde nas suas formas de aceitar a diferença. Saia de cabeça erguida, com a certeza de que só ela era senhora do seu destino. O café Portugal fechou e deixei de ver a Lídia todos os dias, varias vezes ao dia, afinal tínhamos em comum a segunda casa o Café. Cada uma foi para um lado e durante anos só nos cruzávamos nas ruas da cidade, muitas vezes perto dos correios onde trabalhava, o cumprimento era rápido, como rápidas se tornaram as nossas vidas, mas o tempo não transformou a Lídia, continuou a ser o que sempre foi, num desses dias parou e cheia de uma felicidade transbordante disse-me ter sido reformada, via-se livre das amarras de um emprego que a consumia e que sempre detestou. Voltei a perder a Lídia de vista, passou a ficar em casa a maior parte do tempo e apesar da nossa amizade eu não era visita da sua casa, erro meu e perda minha pois muito teria a aprender com a Lídia, mas as coisas são como são. Há uns anos passando de carro pela rua de Aviz via-a caída na rua, tinha-se sentido mal mesmo à porta, parei o carro, interrompi o transito e fui levantar a Lídia, tentei chamar a ambulância, não me permitiu, era só um ataque epilético, disse, não lhe fariam nada só precisava dormir e disso percebo eu, só quis que a colocasse em casa, foi o que fiz com muito custo e a ajuda da Midus,  que ela era nesta fase da sua vida  uma mulher pesada, sentei-a no sofá, deixei-a com um livro ao lado e uma garrafa de agua, como me pediu. Cá fora os carros atras desatinavam nós estávamos nas tintas, que se esgoelassem, rimos disso as duas, que esperassem, cambada de gente que não entende a solidariedade. Bati-lhe à porta no dia seguinte, já estava bem. O rumo das nossas vidas seguia. E hoje soube que ela se foi. A mulher que desafiou Évora, quando ninguém o tinha feito, que quebrou tabus, que teve a audácia de escolher o seu caminho, que nos mostrou que o bolor e a castração da cidade amuralhada podem ser enfrentados, deixou-nos sem fazer alarde, ao contrario do que fez toda a vida, partiu sem dar nas vistas. Évora ficou mais pobre mesmo que não saiba, todas as cidades ficam mais pobres sem os seus cidadãos de coragem.  Eu e as mulheres ficamos muito mais pobres, pois parte uma das que mais lutou pela nossa liberdade, sem nunca empunhar a bandeira do que quer que fosse, aquela que sempre esteve na linha da frente enfrentando o conservadorismo e o machismo da cidade medieval, encarrando as balas de frente sozinha, e foram muitas as balas que foram desferidas ao peito da Lídia Cascalho, peito que nos protegeu a todas as que também quiseram trilhar o caminho da Mulher Livre. Lidia Cascalho não terá o seu nome numa rua da cidade, não terá um minuto de silencio nas reuniões institucionais, não receberá homenagens nos movimentos feministas, mas foi uma das eborenses mais importantes das décadas de 60 a 80. Lídia, a corajosa, Lídia a rebelde, Lídia a contestaria, Lídia a escritora que nunca editou um livro, Lídia a mulher que Évora nunca percebeu, mas que ela obrigou a aceitar,  pode não ter nada disto, mas ficará na minha memoria e na de muitos outros como a mulher mais Livre que  Évora teve, mais livre que a própria liberdade,

Até já Lídia, obrigado em meu nome, da minha filha e da minha neta!

https://www.blogger.com/blog/post/edit/7871625280202208315/6330954244622990163

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Lídia Cascalho, em évoraburgomedieval

  * Victor Nogueira


Lídia (1950 - 2021) – Foto Victor Nogueira

 * Ricardo Reis


Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlaçemos as mãos).

.

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida

Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,

Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,

Mais longe que os deuses.

.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.

Mais vale saber passar silenciosamente.

E sem desassossegos grandes.


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

 

Não queiras, Lídia, edificar no espaço

Que figuras futuro, ou prometer-te

Amanhã. Cumpre-te hoje, não esperando

.          Tu mesma és tua vida.

Não te destines, que não és futura.

Quem sabe se, entre a taça que esvazias,

E ela de novo enchida, não te a sorte

           Interpõe o abismo?

 

 

In memoriam

Soube ontem, pelo Zé Pinto e acidentalmente, que a Lídia morreu há uns dias.  A Lídia, mas não só, fez parte do nosso grupo de "estrangeiros" ou "exilados" em évoraburgomedieval,

Nunca me esqueci da Lídia [Cascalho], com aquele seu ar de menina, e da malta, que "vivem" nas minhas memórias escritas, apesar das voltas da vida. Da Lídia tenho fotos duma perambulação de alguns de nós pelas ruas do burgo   (2021 11 17) 

 


Jardim de Diana - Victor Nogueira, Lídia e Carlos Nunes das Ponte - Foto Luís Tobias


Jardim dos Colegiais - Carlos Nunes da Ponte, João Garcia, Lídia, Camilo Monteiro e Victor Nogueira - Foto Luís Tobias

Á porta do ISESE - Lídia, Camilo Monteiro Carlos Nunes da Ponte e Victor (Foto Luís Tobias ?)


 Carta para a Lídia

Os Companheiros das horas vazias - Abraça por mim a malta da mesa do café Arcada, companheiros das horas vazias. Como estas no Porto, aguardando os exames de Fevereiro. Um abraço especial para a Guida [Morgado] e para a "terrorista" que é a Zeca. (Carta para a Lídia - 1972.01.01)

 Cartas para Luanda

1971

O ar abafado, a vozearia imperceptível, mas não inaudível, enchem o café Arcada, para onde vim estudar (...) É um domingo indefinido, um começo de tarde. (...) O café está cheio, na sua grande maioria homens na casa dos quarenta, que cavaqueiam. Logo, a meio da tarde, a clientela será diferente: os homens trarão as esposas e a prole. Nos outros dias apenas as [mulheres] mais "evoluídas" aqui virão. Mas são já muitas mais do que antigamente, se a memória me não atraiçoa. (...) (in "em Évora, espraiando pelos cafés" NSF - 1971.01.31)

Cartas para Amareleja

1972

Nas minhas deambulações de hoje encontrei a Lídia e o Jorge. Este andava á procura de dez tostões para o cinema - eu fiz que não percebi a indirecta; informou-me que esteve em Beja a trabalhar no circo e á minha observação sobre a sua magreza retorquiu "É da fome que passo." (e que não está em mim remediar) (MCG - 1972.02.23)

O café é um mar de gente barulhentamente conversadora. As ventoinhas giram, mas nem por isso o ar está mais fresco. Évora civiliza-se: conto cerca de dezoito elementos do sexo feminino aqui no Arcada (minha pátria em terras alentejanas). O mundo caminha para a perdição, diriam os "moralistas" de porta para fora! (MCG - 1972.07.24)

Passei pelo café, que estava vazio de quem me interessasse.  Apenas a Lídia, o Tobias e o Luís, muito entusiasmados porque em Évora "rebentara um golpe de estado" (!) O Tobias teria visto um movimento desusado e aparatoso de polícias com capacetes de aço e metralhadoras aperreadas nas imediações do Governo Civil. Para lá seguiu o grupo, mas sem mim, pois tenho mais que fazer. Amanhã lerei os jornais e logo saberei.

Évora moderniza-se. Este ano o Giraldo terá iluminações natalícias. Vamos ver se as colocam antes de eu abalar ou não as retiram antes do meu regresso. (MCG - 1972.12.15) 

1973

Volto a página e pergunto-me que mais vou eu escrever? Levanto-me, dou uma volta pelo quarto, remexo numas quantas coisas e torno a sentar-me para escrever isto.

Entretanto a D. Vitória regressa, para levantar a bandeja do lanche e despejar o cinzeiro (o João, o Carlos, o Tobias e a Lídia empestaram-me o quarto com cigarros). Há cinco anos que lido diariamente com a D. Vitória e nunca as nossas relações foram muito cordiais nem estreitas!

Acendo o candeeiro, não porque seja absolutamente necessário, mas num gesto algo inconsciente ou automatizado. 

 Olho para a minha direita e vejo um enorme calhamaço: "Os Macondes de Moçambique", vol III - "Vida Social e Ritual". Terei de consultar este e os dois primeiros para redigir a monografia de Antropologia Cultural. (MCG - 1973.01.26)

1974

Safa, que fartura! Isto não devia ser assim; cada vez que um tipo muda de casa é uma chatice. P'ra quê um tipo levar a tralha atrás? Sim, para quê? O sentido de posse é uma invenção diabólica, um atentado à liberdade. 7 caixotes, um MALÃO e uma mala, eis a bagagem que fica em casa da D. Vitória.... E deitei fora 6 sacos enormes cheios de papelada. Safa! (...) Estou para aqui todo partido. Vá lá que tive ajuda para transportar os caixotes do 2º andar para o r/c: o Cabeça, a Lídia e mais dois casais. (...) Foram uns tipos porreiros. O sr. Veladas, contínuo do ISESE, ajudou-me a serrar tábuas e pregar os caixotes. Amanhã à tarde devo ter tudo pronto! (MCG - 1974.09.02)

 

os primeiros poemas – 03

O profundo desenraizamento e "solidão" numa évoraburgomedieval castradora, opressiva, sexista, repressiva e fechada aos "estrangeiros" [nunca qualquer alentejano ou eborense durante o meu longo exílio de 6 anos me convidou para sua casa, salvo a Lúcia Carmelo e a Margarida Morgado], não obstante o meu quarto na rua do Raimundo, ter sido sempre uma praça aberta - talvez o único quarto de hóspedes em évoraburgomedieval onde a malta entrava livremente, incluindo as raparigas que ousavam afrontar a "censura" das pessoas de públicas virtudes e privados vícios. Era o quarto dos debates culturais e políticos, onde se estava também para estudar, conversar, jogar ás cartas, ouvir a minha discoteca ou ler os livros da minha biblioteca, apesar das censuras e oposição da minha hospedeira. E no entanto, quando frequentei Económicas de 1966 a 68, dava-me com bastantes colegas alentejanos, simpáticos, afáveis e com uma abertura que não vim a encontrar em Évora e na maioria das suas gentes.

Este meu isolamento minorou com a formação daquilo que eu chamo o "grupo" ou a "malta do Arcada", quase todos não alentejanos - a que eu chamaria o "núcleo duro" que o sustentava - o Camilo (Angola), o Lira Fernandes (Moçambique), o Carlos Nunes da Ponte (Porto), o João Garcia (Santarém), o Rocha (transmontano), o Manuel Antunes (Covilhã), o Carlos Mota de Oliveira (Lisboa), entre outros, para além dos alentejanos, como o Vidigal Pereira, o Humberto Valentim, a Domingas Lobato, a Lúcia Carmelo, a Dídia e o irmão, a Suzete Chaveiro, a Margarida Morgado, o Luís Tobias e a Lídia ou o Ilhéu, para além do António Viegas (Manteigas) ou do Victor Gil (Trancoso) ou a Antónia, Para lá do que chamo "núcleo duro", isto é, permanente, outros membros iam saindo quando terminavam o curso ou iam para a tropa ou entretanto iniciavam o seu percurso no ISESE, como o Jacinto Morte e o António Campos e o João Gonçalves ou a Filomena, o Zé Pinto, o Ribeiro, o "Chinês", como se vê seguidamente: (in “os primeiros poemas – 03” 2013 11 05)

 

évoraburgomedieval no antigamente (4)

No café é que fiava mais fino e no Arcada, para além das mulheres dos engenheiros da Siemens, só por lá apareciam a Dídia (com o irmão), a Antónia, a Lúcia e a Domingas (com o Valentim), para além da Lídia, todas elas mal vistas pelas castas e marialvas mentes masculinas, a que a maioria das mulheres se sujeitavam, mesmo que dentro delas lavrasse o mais intenso fogo que não deixavam transparecer. (in “évoraburgomedieval no antigamente (4)” 2011 08 24)

 

memória de zeca afonso e do fascismo

évoraburgomedieval no antigamente (4) 

Terminado o Liceu [em Luanda], rumei para Economia no Porto, onde apenas estive 15 dias e mudei-me para Económicas em Lisboa e depois para Sociologia em Évora. Esta era uma sociedade muito fechada e nós, os «estrangeiros das colónias», medianamente abonados, formávamos um grupo: o Henrique, da Beira, (Moçambique), o Camilo, de Benguela e este escriba, de Luanda. Ao nosso grupo reuniram-se os estrangeiros semi-abononados, de fora do Alentejo, o João e a Filomena, de Santarém, o Luís Filipe de Lisboa, o Carlos do Porto, o Valentim, namorado da Domingas, ele de Beja e ela de Évora, a Lúcia de Évora, e um casal de irmãos, salvo erro o Henrique e a Dídia,  a Suzete, e dois ou três transmontanos e outros tantos da Beira Interior. Depois havia as aves de arribação de Évora e arredores, que umas vezes se sentavam à nossa mesa, outras no Café Portugal, como o Pingarilho, o Janicas, o Zé Pinto,  o Ilhéu, o Custódio, a Lídia, o Tobias e o Carmelo, para além do Cabral que era o único filho de agrário que convivia connosco.

A Lídia e o Tobias, que não estudavam e creio que já trabalhavam, eram os únicos eborenses que conviviam connosco, para além da Lúcia, da Domingas, do Pingarilho e do Custódio. Mais tarde juntou-se-nos a Isabel, de quem já falei noutro post, sobrinha do Conde de Vilalva.

Também havia o Aristides, dos Açores, um homem bom, ex-seminarista que tinha já feito a guerra colonial, um «revoltado» que dizia que convivia connosco porque não éramos tão «reaças» como a maior parte dos nossos colegas embora não tão «radicais» como ele, mas enfim, ele tinha de dar-se com alguém, como nos dizia. Os da Beira interior e de Trás os Montes também eram ex-seminaristas que, embora menos abonados, andavam mais ou menos «perdidos» na medievalidade de Évoranoantigamente.

(…) Os cafés da malta eram dois, O Portugal, que já fechou, ponto de encontro dos eborenses e da malta do reviralho, e o Arcada, mais fino, também «escandalosamente» frequentado pelas esposas dos alemães da fábrica Siemens e pelas nossas colegas, acima referidas. As outras, ou estavam hospedadas em lares religiosos, em casa dos pais ou em quartos alugados, segregadas dos hóspedes masculinos, e com horas de entrada e saída, atentamente vigiadas pelas «hospedeiras», ciosas do bom nome e reputação das suas casas de hóspedes. Era assim como nas aldeias e vilas alentejanas onde existiam quase sempre duas sociedades recreativas: a dos ricos/agrários e a dos pobres/assalariados rurais, completamente estanques.

(…) De modo que aquilo era uma comunidade, onde cada um partilhava com os outros o que estes não tinham. No meu caso, tinha uma biblioteca e uma discoteca razoáveis, um gira-discos e um quarto enorme. De modo que quando me sabiam em casa aquilo era um corrupio, para lerem livros ou os jornais, ouvirem música, conversarmos ou estudarmos. Como aquilo era uma casa de hóspedes eu subverti as regras todas da hospedeira, a D. Vitória, que me dizia que me tinha alugado o quarto a mim e não a um bando de cavalgaduras que passavam o dia escada acima escada abaixo. Outra das regras subvertidas era a das raparigas, as que estavam na mesma casa, iam até lá ouvir música, conversar ou pedir-me livros emprestados, tal como algumas colegas do Instituto. Aquilo então exasperava a D. Vitória: uma vergonha, isto é uma casa de respeito, onde é que já se viu meninas enfiadas nos quartos dos senhores?!

Também pousavam pelo meu quarto alugado algumas colegas nossas, como a Antónia e a Isabel Pimentel, sobrinha do Conde de Vilalva, para além da Lídia e das hóspedes da casa.

Apesar de todos os protestos, amuos e resmungos da D. Vitória, a única concessão que por minha iniciativa lhe fiz foi ter a porta do meu quarto aberta sempre que lá estivessem elementos do sexo feminino [Aliás a D. Vitória  aguentava  as minhas «bizarrias» e reclamações sobre a comida pois eu pagava mais de mensalidade que qualquer dos outros hóspedes pois tomava banho e mudava de roupa diariamente - hábito de Luanda - e lhe emprestara o meu aparelho de Televisão - na altura um luxo - que ela colocara na sala de jantar e era usufruído pelo restante pessoal da casa, indo eu para o Café Alentejano sempre que   havia um raro programa que me interessasse]

Claro que nunca recebi ordem de despejo. De modo que fiz uma concessão à D. Vitória: quando estivessem as meninas ou senhoras no meu quarto eu deixava a porta aberta. (in “memória de zeca afonso e do fascismo” 2014 02 23 “évoraburgomedieval no antigamente (4) 2011 08 24)


A malta do Café Arcada em Évoraburgomedieval - A Lídia, a quem se dirigia esta carta, era uma das nossas companhias num tempo em que as meninas sérias não andavam com os rapazes nem iam ao café. Por isso tinha má fama perante as boas consciências eborenses. Depois empregou-se nos correios e entretanto nunca mais soube dela. ("A malta do Café Arcada em Évoraburgomedieval" 2018.04.10)

  

Memórias em évoraburgomedieval

«A malta do Arcada III - No Arcada o João [Garcia], a Filomena, o Camilo, o Zé Pinto, o Ribeiro, o "Chinês" e o irmão cantavam em coro desde as cantiguinhas da primária ("Ó Rosa, arredonda a saia", "Tia Anica de Loulé"...) às excursionistas ("Santa Catarina", "Rapsódia Portuguesa" ...) passando por cânticos gregorianos e pelos coros alentejanos e canções da Beira Baixa. Enfim, uma grande audição, no café cheio e entretido com outros assuntos.» (MCG - 1974.02.11) :-)  (in “Memórias em évoraburgomedieval” 2018 11 15)


Foto Victor Nogueira - Évora - 1974.Dezembro - dum voo com Carlos Seruca Salgado

 

                  NATUREZA MORTA

 

Évora é uma terça -mercado numa praça

…......numa praça em terça-mercado um café

…......de um café em praça numa terça-mercado

de agrários cinzentos

como cepos sem vida

  

e o meu cansaço

o meu cansaço é uma ilha escarpada em

….....................passos em pontes pontas sem margens

 

Por onde os mares com arvoredos nas encostas verdejantes

…............as mãos..........armas ou arados

…..................................nos dias que vão?

  

…..onde o tempo das papoilas

.…........................dos cantares

….......... cabelos soltos ao vento

…......... de abril em maio?

  

Évora é uma ilha

…......ilha em pedra e cal

….....de ruas estreitas e tortuosas

….....as miúdas em bandos cerrados

….....nas mãos dos homens

….....rapazes velhos em

 

Évora há colunas pântanos lamaçais

…......relógios parados ponteiros partidos

…......pesos ….sombrios.....de âncoras em cadeias

….....de casebres refulgindo

….....em dias fechados

….....de ferro e cinzento


Évora

…...... é

…...... uma

…...... escarpa

…...... agreste

…...... com

…...... lábios

…...... cerrados

…...... em

…...... deserto

…...... sem

…...... fundo

Victor Nogueira - Poesia

7210. 016.3 / 3. 008

1972.Outubro.17 (1985.Outubro.13/1989.Março.01)


VER  

Retratos (8) - Breve história dum miúdo: o Jorge

sábado, 13 de novembro de 2021

Hoje o meu avô Luís comemoraria o seu 122º aniversário,

 * Victor Nogueira



Hoje o meu avô Luís, nascido em Mora no virar dum século, comemoraria o seu 122º aniversário, com o seu ar franzino, o bom humor, a gargalhada fina e a boa disposição de "Zé não te rales"!

Na foto de M Luísa CF - Porto, Natal de 1969

domingo, 31 de outubro de 2021

Esperança Luís (1902 / 1984)

 * Victor Nogueira


Escrevo no antigo laboratório da Farmácia [Sanitas, no Largo Luís de Camões], no tempo em que as mezinhas eram manipuladas aqui nas traseiras. São cerca de 17:00 e os empregados tomam chazinho com bolos. (...) Ah! o chazinho é porque a minha tia Esperança faz... 71 anos. (MCG - 1973.10.31)

O Guerreiro chegou ontem e temos percorrido Lisboa em busca dum emprego que não aparece, apesar do coração de Portugal estar doente e ser uma chatice se deixar de trabalhar (Pelo menos é o que diz o anúncio da RTP). Assim, temos deixado impressos devidamente preenchidos... aguardando. As minhas tias, especialmente Esperança, andam inquietas, pois dizem que eu sou bolchevista (ai, credo!) e assustam-se quando digo que vou começar a assaltar bancos. (...) (MCG - 1974.10.22)

Daqui a pouco vou almoçar depois de fazer uma visitinha à tia Esperança. (…) Está calor e estou cansado de andar com o saco. De manhã estive na Livrelco onde comprei uns livros. Logo, enquanto faço horas para o comboio, tenciono ir ao cinema ver “O Cerco”, de Cunha Teles. Amanhã começam as aulas. Saí de Évora há apenas dois dias e já parece uma eternidade (NDF 1970.10.26)

Mestre "Cuca" I - Estou com um grave problema, pois já me esqueci das recomendações das minhas tias (eu bem lhes disse para deixarem-mas escritas): será que as batatas se põem ao lume durante 15 minutos? E quanto ao feijão verde? Deita-se no tacho quando a água ferver. E depois? Continua? Apaga-se o lume? Bem, o que for se verá! (MCG - 1972.08.23)

Mestre "Cuca" II - Contrariamente aos outros anos, parece-me que desta vez a casa [de Paço d'Arcos] anda mais desarrumada. Ainda nem sequer lavei a louça do almoço, ali empilhada na pia. Hoje os meus parcos dotes culinários sofreram um rude golpe, ao tentar grelhar lulas. Ah!Ah!Ah! Uma "pessegada"! Espero que o esturricado saia e não dê cabo da frigideira (daquelas que estrelam ovos sem gordura!) Se não, lá vou entrar em despesas. (MCG - 1974.09.12)

P'ráqui estou num café no Cais do Sodré. Os autocarros e os eléctricos passam lá fora na rua. O ambiente está ruidoso e o tempo ameaça chuva. A sandes e o galão estavam uma merda. (São 18:30 de sábado) (...) Parece que vai chover. Esperemos que consiga chegar a casa antes do aguaceiro, pois não trouxe guarda chuva. (...) E por aqui me fico hoje. Tenho de ir apanhar o comboio [para Paço de Arcos]. Não avisei que ia jantar e vai haver sermão, pois não contam comigo. [No Verão as minhas tias iam de férias e a casa ficava por minha conta] (MCG - 1974.10.19)

Estas temporadas de ópera a preços populares eram organizadas pela FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho), que após 1974 deu origem ao INATEL (Instituto Nacional para os Tempos Livres dos trabalhadores). Os bilhetes eram-me arranjados pela minha tia Esperança. (1998.Maio).

«(...) Minha tia Esperança. farmacêutica no Chiado
das primeiras mulheres na Universidade
minha amiga que não mais verei
partida em Janeiro de 84. (...) Do meu poema "Elegia pela minha família dispersa" 1985.11.13

domingo, 12 de setembro de 2021

Moscambilhas no "Público"



Victor Nogueira

A "reportagem" diz que «A excepção desta amostra é Daniela Lopes, comercial numa garagem em Pêro Pinheiro, que foi comunista mas nunca militou na CDU, nem participou em reuniões ou acções do partido. » Sendo assim, não se apresentando qualquer outro exemplo, é no mínimo pouco sério e desonesto o título tablóide «Chega atrai profissionais da política e dissidentes do CDS à CDU: oito casos», pois a pessoa em causa, segundo a "reportagem", nunca foi autarca nem participou em acções de campanha da CDU ou no PCP nem neste militou. Foi apenas uma pessoa que no máximo terá votado acidentalmente em listas da CDU ou em candidatos do PCP. Mas o Público ignora a deontologia jornalística e persiste no ardil: noticiar e realçar este personagem, que nunca foi candidato pela CDU ou "dissidente" do PCP.


  1. Sandra.
    Moderador

    Caro Victor Nogueira, subscrevo na íntegra o seu comentário. Tomei a liberdade de, (entre aspas claro), o fazer chegar, ao caro Provedor do Jornal Público, junto à minha semelhante indignação. Não pode valer tudo.

  2. EM TEMPO - Diz a ardilosa “reportagem” «É mais do que mudar o sentido de voto: estes oito cabeças de lista do Chega passaram anos a fazer política, a representar ou a defender cinco partidos com assento parlamentar na Assembleia da República.» Sobre o personagem que BB escolhe como “representativa” da CDU já falei antes: nunca foi candidata pela CDU ou participou em acções desta ou militou no PCP. Mas a moscambilha do Público, que suspendeu “colaboradores” com vínculo partidário, estilo areia para olhos de “tótós”,estende-se ao Bloco, indo pescar alguém que diz ter neste andado não sabe bem durante quanto tempo e ter sido candidato, presumivelmente não eleito, que afirma ter-se desvinculado “ali pela troika” e "saiu por discordar de uma posição do BE sobre o corte de um subsídio de férias"

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Contra-Natura ?


* Victor Nogueira

A  tragédia que não passa de farsa ou a poeira em torno do Orçamento de  Estado e a sua eventual não aprovação. Basílio Horta declara que se tal  viesse a suceder seria uma tragédia ! Com Passes de Coelho e de Portas  abertas com Sócrates a trindade faz a faena mas o touro sobreviverá !  Cavaco abençoa a união de facto: bastam dois para o ajuntamento: dois  serão cordeiros e o terceiro o anjo ! O que é preciso é que a tosquia renda !

Na R A da Madeira  para derrubar  o PSD e o menino Alberto João perfila-se uma aliança democrática: PS+BE  a que agora se junta o PND.(1)  Mas que Aliança: sociais democratas,  maoístas, trotsquistas e ex-comunistas mais uns independentes com a  direita xenófoba e patriota nacionalista, saudosa de Salazar ! Seria  preciso chegar a  tanto? Só faltava agora o PND apoiar Alegre !

O  Bardo avançou alegremente para as presidenciais com o apoio do BE e  tardio do PS com Só-Ares, como sempre, a puxar a carroça para outro  lado, Mário Nobre puxa por Fernando Nobre. Para tornar a candidatura  abrangente, vá de ressuscitar o adormecido MIC, insuflando-lhe vida como  o Príncipe à Bela Adormecida pela peçonha da madrasta. Segundo o MIC nas anteriores eleições presidenciais foi Alegre que "salvou" a face do PS (1) . Acrescento PS/Sócrates/Só-Ares? Quantos PS existem ? Coitado do Narciso Miranda que foi expulso com mais cem  militantes por se candidatarem em listas que eram concorrentes com as oficialmente apoiadas pelo PS ! Não  há dúvida que no PS há pelo menos duas bitolas, a dos filhos, como Só-Ares Alegre e Guterres e a dos enteados, como Narciso !

Enfim,  caldeiradas à portuguesa e depois dizem que o povo é quem mais ordena  ou que o voto é a arma do Povo. Carlos Cruz que o diga, com os restantes  condenados em 1ª instância com shows mediáticos e tempo de antena que é  negado aos trabalhadores e ao PCP. Exceptua-se Carlos Silvino, o mexilhão do Processo. Em termos publicitários, em horário  nobre, quanto custariam aqueles longos minutos ? Lá estavam as  audiências a espreitar sofregamente pelo buraco da fechadura !

O  tempo de antena televisivo é para os amigalhaços e não para os  deserdados da fortuna. Nem outra coisa seria de esperar quer nos vários  canais de televisão, quer nos restantes órgãos de comunicação social.  Mantê-los custa dinheiro e dinheiro é algo que cada vez mais vai  faltando à maioria. Em termos publicitários, quanto custam ou fazem  entrar como receitas os shows publicitários proporcionados aos amigos do  "dono" ? E naqueles órgãos de referência, que dando prejuízo, continuam  a publicar-se, não existem se não para formatar as consciências num  determinado sentido. No Público, a Festa do Avante mereceu meia dúzia de  linhas e no crescente líder de audiências que é o Correio da Manhã nem  uma. Mas Cruz e Companhia tiveram direito a espaço ! .

Pela  Europa, manifestações por causa de xenofobia de Sárkovski e perseguição  aos ciganos e pela retirada de direitos sociais aos trabalhadores. Mas a  besta continua fazendo o seu trabalho e um dia se nos descuidarmos  teremos os gansos a desfilarem pelas ruas com a Cruz de Cristo em  braçadeira.

O tempo cá pela terra da moirama refrescou e já chuviscou ! 

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.(1) - Público 2010.09.07, pág 7

https://www.facebook.com/notes/365754041332765/

sábado, 4 de setembro de 2021

Balsemíadas

 


* Victor Nogueira

PB fez parte da "ala liberal" de Marcelo, Caetano, a maioria da qual apressadamente fundou o Partido Popular Democrático, em 6 de maio de 1974 (Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão e Joaquim Magalhães Mota), para não perderem o comboio da história. Tal como Freitas de Amaral e o CDS foram unha com carne com o General Spínola, no 28 de Setembro e no 11 de Março. Com o 25 de Novembro saiu-lhes a "taluda". Foi membro influente do Clube Bilderberg e 1º Ministro dum Governo da República post 25 de Novembro, acumulando desde Marcelo, Caetano, um império crescente na comunicação social escrita e televisiva. Com tão vasto e diversificado curriculum, seria de esperar que as suas memórias o reflectissem e fossem um testemunho para a História. Mas não, as suas memórias são muita rasteirinhas, ajustes de contas, uma "saravaida" ao pé das quais as 5ªs feiras de Cavaco são um must.

No tempo em que PB foi 1º Ministro, surpreendia-me a "independência" do Expresso face ao Patrão do semanário. Puro engano, que as Memórias de PB desvendam. Na ausência dos lápis azul dos coronéis de Salazar e de Marcelo, Caetano, Balsemão lamenta que então não pudesse "controlar" as notícias que lhe eram desfavoráveis impedindo a sua publicação.


Ainda o processo Casa Pia e dos ciganos

* Victor Nogueira

Ainda o processo Casa Pia e dos ciganos

O importante acima de tudo não é  que se faça justiça  mas sim que se construa uma sociedade onde  a violação dos direitos humanos não sejam espezinhados em favor dum punhado de mandantes encobertos  e com homens de mão e capatazes aliciados por um prato de lentilhas para darem a cara em nome dos Senhores !

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Mesmo a propósito: uma rede cigana pedófila! Como toda a gente sabe quem comanda a invasão do Afeganistão onde desde então floresce a produção de droga são os ciganos! Hitler e os nazis eram todos ciganos, como ciganos eram os implicados nos Ballet Rose e nos Processos Casa Pia, Freeeort, Apito Dourado e similares. Ciganos são também todos aqueles políticos e governantes que por esse mundo fora prometem uma coisa e fazem o contrário, vendendo gato por coelho à vara larga! Ciganos são os grandes banqueiros e acionistas que embolsam lucros fabulosos no meio da miséria crescente. Todos ciganos são os mil homens e mulheres mais ricos do mundo. E toda a gente sabe que a Inquisição era constituída por ciganos para defender o catolicismo, que eram ciganos os esclavagistas e que Cristo foi crucificado por ciganos como ciganos são os palestinianos e israelitas! Não há pachorra!

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Em tempo: Joana, menina pobre, desapareceu e o corpo nunca foi encontrado, mas a mãe e o tio apodrecem na prisão pelo assassinato dela diz o tribunal. E pelo meio a comunicação social achincalhou-os sem dó nem piedade! Maddie nunca foi encontrada mas ninguém foi preso e são boas pessoas, não vão os jornalistas e investigadores levar com um processo por difamação em cima ou ver o livro proibido, como aconteceu ao Amaral! Ah! e todos os dias os jornais noticiam violência doméstica e assassinatos cometidos por brancos cristãos, perdão, por ciganos!

Rectifico - Não se trata duma rede pedófila, mas de rapto. E a talhe de foi-se acrescento que Guantánamo é uma prisão chefiada por ciganos e que são ciganos os donos da mina onde ficaram soterrados 33 mineiros e que se preparam para declarar... falência, contristados, assim procurando escapar ao pagamento de salários e de indemnizações no Chile doutro cigano que foi Pinochet e seus muchachos. A fuga de petróleo na plataforma da BP também foi provocada por ciganos. E fico-me por aqui, que já me doem os dedos de teclar

. ____ .

Como esperado, no Processo Casa Pia, quem apanhou a pena maior foi o mexilhão, sem ofensa a Carlos Silvino! Mas por parte dos condenados e seus advogados o show continua! Sá Fernandes, advogado de Cruz, afirma que as trevas se abateram sobre a Justiça em Portugal. Mas nenhuma referência às cirúrgicas alterações às leis penais para aliviar penas, como se opina no Correio da Manhã, nem a casos de corrupção que acabam em nada!

Publicada por Victor Nogueira em Sexta-feira, Setembro 03, 2010 no Mu(n)do Phonographo


Processo Casa Pia .

É difícil mas a Justiça num estado demo-crático tem um cunho de classe, hoje ou no tempo da outra senhora, onde nos Ballet Rose havia peixe graúdo, ao contrário destes, jaquinzinhos para entreter! Os tubarões, esses continuam à solta!

Publicada por Victor Nogueira em Sexta-feira, Setembro 03, 2010  no Mu(n)do Phonographo


Borralho em tempo de verão

Há um filme norte americano cujo nome me não ocorre de momento em que há um show mediático em torno da salvação dum soterrado, cuja duração se faz esticar para gáudio das audiências e da publicidade que enche os bolsos não me lembro se à custa dos radio-ouvintes se dos telespectadores. Assim se prepara um show mediático para esta sexta feira, em que ao fim de oito anos será ou não lida a sentença dos  arguidos do Processo Casa Pia. Outro show mediático relaciona-se com o moroso processo de salvamento dos 33 mineiros soterrados no Chile, por causa do nebuloso acidente de re-abertura duma mina sem condições de segurança, apesar de acidentes anteriores que levaram ao seu encerramento. Contristados, os donos da mina preparam-se para abrir falência, deste modo escapando ao pagamento de indemnizações e de salários. Não há dúvida que as vidas de pescador e de mineiro são muito dolorosas!

.

Os incêndios continuarão com mais gravidade pois este ano há casas e povoações destruídas pelo fogo. É todos os anos a mesma "seca”! Lembro-me que uma tal fundação cujo nome não posso precisar ofereceu ao Governo quatro helicópteros para apagar fogos, mas dois despenharam-se pelo que a outra metade não chegou a levantar voo. Terão sido comprados no refugo, como sucede com os autocarros de transportes públicos das ineficientes empresas privadas?

Outra saga é à volta do treinador da Selecção Nacional de Futebol, agora suspenso por seis meses por alegadas ofensas aos agentes anti-doping. Claro que Queirós não é Scolari nem leva uma Madonna para garantir a vitória nem mandou encher as janelas e varandas com a bandeira portuguesa, num autêntico negócio da China! Parece-me que Scolari terá esmurrado um jogador, em 2007 mas isso não terá sido uma falta grave! Mistérios dos meandros do Futebol.

Maddie volta à cena. Não terá morrido, acidentalmente ou não, mas raptada para venda! Sobre a sua homóloga Joana, nada mais se soube: a mãe e o tio estão presos, como aliás a maioria dos pedófilos com excepção dos arguidos no Processo Casa Pia, peixe miúdo em comparação com os implicados no Caso Ballet Rose do tempo da salazarenta figura que por aí terá deixado sementes.

Marcelo afilhado de Marcello predica para que Cavaco quebre o tabu e para que todo o PSD o apoie na sua re-eleição na Presidência da República. O Sonho de Sá Carneiro está realizado, mas é preciso levantar alguma poeira para o terno: uma maioria no Parlamento, um Presidente, um Governo! Nada como uns passes de Coelho não vá comprar-se gato por lebre! Os esfolados são sempre os carneiros, mas desses não reza a História.

Amanhã é sexta feira, dia 13 menos 10

.

Publicada por Victor Nogueira em Quinta-feira, Setembro 02, 2010 no Mu(n)do Phonographo

Ainda o processo Casa Pia e dos ciganos

O importante acima de tudo não é  que se faça justiça  mas sim que se construa uma sociedade onde  a violação dos direitos humanos não sejam espezinhados em favor dum punhado de mandantes encobertos  e com homens de mão e capatazes aliciados por um prato de lentilhas para darem a cara em nome dos Senhores !

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Mesmo a propósito: uma rede cigana pedófila! Como toda a gente sabe quem comanda a invasão do Afeganistão onde desde então floresce a produção de droga são os ciganos! Hitler e os nazis eram todos ciganos, como ciganos eram os implicados nos Ballet Rose e nos Processos Casa Pia, Freeeort, Apito Dourado e similares. Ciganos são também todos aqueles políticos e governantes que por esse mundo fora prometem uma coisa e fazem o contrário, vendendo gato por coelho à vara larga! Ciganos são os grandes banqueiros e acionistas que embolsam lucros fabulosos no meio da miséria crescente. Todos ciganos são os mil homens e mulheres mais ricos do mundo. E toda a gente sabe que a Inquisição era constituída por ciganos para defender o catolicismo, que eram ciganos os esclavagistas e que Cristo foi crucificado por ciganos como ciganos são os palestinianos e israelitas! Não há pachorra!

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Em tempo: Joana, menina pobre, desapareceu e o corpo nunca foi encontrado, mas a mãe e o tio apodrecem na prisão pelo assassinato dela diz o tribunal. E pelo meio a comunicação social achincalhou-os sem dó nem piedade! Maddie nunca foi encontrada mas ninguém foi preso e são boas pessoas, não vão os jornalistas e investigadores levar com um processo por difamação em cima ou ver o livro proibido, como aconteceu ao Amaral! Ah! e todos os dias os jornais noticiam violência doméstica e assassinatos cometidos por brancos cristãos, perdão, por ciganos!

Rectifico - Não se trata duma rede pedófila, mas de rapto. E a talhe de foi-se acrescento que Guantánamo é uma prisão chefiada por ciganos e que são ciganos os donos da mina onde ficaram soterrados 33 mineiros e que se preparam para declarar... falência, contristados, assim procurando escapar ao pagamento de salários e de indemnizações no Chile doutro cigano que foi Pinochet e seus muchachos. A fuga de petróleo na plataforma da BP também foi provocada por ciganos. E fico-me por aqui, que já me doem os dedos de teclar

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Como esperado, no Processo Casa Pia, quem apanhou a pena maior foi o mexilhão, sem ofensa a Carlos Silvino! Mas por parte dos condenados e seus advogados o show continua! Sá Fernandes, advogado de Cruz, afirma que as trevas se abateram sobre a Justiça em Portugal. Mas nenhuma referência às cirúrgicas alterações às leis penais para aliviar penas, como se opina no Correio da Manhã, nem a casos de corrupção que acabam em nada!

 

Publicada por Victor Nogueira em Sexta-feira, Setembro 03, 2010 no Mu(n)do Phonographo

 

Processo Casa Pia .

É difícil mas a Justiça num estado demo-crático tem um cunho de classe, hoje ou no tempo da outra senhora, onde nos Ballet Rose havia peixe graúdo, ao contrário destes, jaquinzinhos para entreter! Os tubarões, esses continuam à solta!

 

Publicada por Victor Nogueira em Sexta-feira, Setembro 03, 2010  no Mu(n)do Phonographo

 Quinta-feira, 2 de Setembro de 2010

Borralho em tempo de verão

 .

Há um filme norte americano cujo nome me não ocorre de momento em que há um show mediático em torno da salvação dum soterrado, cuja duração se faz esticar para gáudio das audiências e da publicidade que enche os bolsos não me lembro se à custa dos radio-ouvintes se dos telespectadores. Assim se prepara um show mediático para esta sexta feira, em que ao fim de oito anos será ou não lida a sentença dos  arguidos do Processo Casa Pia. Outro show mediático relaciona-se com o moroso processo de salvamento dos 33 mineiros soterrados no Chile, por causa do nebuloso acidente de re-abertura duma mina sem condições de segurança, apesar de acidentes anteriores que levaram ao seu encerramento. Contristados, os donos da mina preparam-se para abrir falência, deste modo escapando ao pagamento de indemnizações e de salários. Não há dúvida que as vidas de pescador e de mineiro são muito dolorosas!

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Os incêndios continuarão com mais gravidade pois este ano há casas e povoações destruídas pelo fogo. É todos os anos a mesma "seca”! Lembro-me que uma tal fundação cujo nome não posso precisar ofereceu ao Governo quatro helicópteros para apagar fogos, mas dois despenharam-se pelo que a outra metade não chegou a levantar voo. Terão sido comprados no refugo, como sucede com os autocarros de transportes públicos das ineficientes empresas privadas?

Outra saga é à volta do treinador da Selecção Nacional de Futebol, agora suspenso por seis meses por alegadas ofensas aos agentes anti-doping. Claro que Queirós não é Scolari nem leva uma Madonna para garantir a vitória nem mandou encher as janelas e varandas com a bandeira portuguesa, num autêntico negócio da China! Parece-me que Scolari terá esmurrado um jogador, em 2007 mas isso não terá sido uma falta grave! Mistérios dos meandros do Futebol.

Maddie volta à cena. Não terá morrido, acidentalmente ou não, mas raptada para venda! Sobre a sua homóloga Joana, nada mais se soube: a mãe e o tio estão presos, como aliás a maioria dos pedófilos com excepção dos arguidos no Processo Casa Pia, peixe miúdo em comparação com os implicados no Caso Ballet Rose do tempo da salazarenta figura que por aí terá deixado sementes.

Marcelo afilhado de Marcello predica para que Cavaco quebre o tabu e para que todo o PSD o apoie na sua re-eleição na Presidência da República. O Sonho de Sá Carneiro está realizado, mas é preciso levantar alguma poeira para o terno: uma maioria no Parlamento, um Presidente, um Governo! Nada como uns passes de Coelho não vá comprar-se gato por lebre! Os esfolados são sempre os carneiros, mas desses não reza a História.

Amanhã é sexta feira, dia 13 menos 10

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Publicada por Victor Nogueira em Quinta-feira, Setembro 02, 2010 no Mu(n)do Phonographo


A justiça ...


... e o borralho!

  • Carmen Rosário Montesino

Quando faço uma boa leitura o tempo voa! Bela nota, tudo nas doses certas! Um abraço e até amanhã camarada 

João Paulo Fonseca

Hoje, milhares de pessoas rejubilam com a promessa de uma migalha de justiça. É bom lembrar que o abuso sexual tem uma relação estatística com a pobreza extrema. Que em Lisboa, como em todo o país, há crianças e jovens que se continuam a prostituir, que milhares de mulheres continuam a ser atiradas para a prostituição. Sobretudo, não devemos esquecer que quando um destes miúdos ou uma destas mulheres é violada, ou forçada pelas circunstâncias, há três tipos de pessoas envolvidas: a vítima, o violador e aqueles que com o seu voto ou a sua acção política mantêm os este país no estado miserável em que está.

olha gostei de ler essa nota mas ja nao era sem tempo sair esse julgamento esperado ha anos como a justica portuguesa trabalha em camera lenta e assim e vai ser sempre eu sou portuguesa mas imigrada nos estados unidos aqui nao e assim fez pagou logo nao ha anos a espera gostei amigo uma boa noite

Carlos Rodrigues

Bom dia, Amigos. O Julgamento do Processo Casa Pia está feito e é certo que as vítimas mereceram ouvir pela primeira vez chamar os bois pelo seu nome. Aqui acho que ninguém falou em ciganos e, finalmente, os ofendidos foram tratados como tal e assim é que tem de ser. Pena que o Processo se tivesse arrastado por tanto tempo, pior ainda que os recursos possam ainda fazer com que muita coisa prescreva, mas é a Lei que temos. Quanto ao facto de a propósito de tudo e de nada se lançar as culpas ao cigano, ao africano, aos do Leste, aos amarelos e outros, isso é do foro dos estudos sociológicos e psicológicos, porque é preciso explicar os porquês do horror às diferenças étnicas e sociais. A verdade é que em vez de se dizer que a culpa é do "cigano ", é muito mais difícil admitir que a culpa é de todos nós e é afinal entre nós e os outros que se deve procurar a verdade do mundo que vivemos.

Um abraço

Victor Barroso Nogueira

Carlos - O artigo é sobre a Justiça em Portugal ou o estado a que ela chegou após um breve interregno a seguir o 25 de Abril. Portanto, em vez de "chegou" eu deveria ter escrito "voltou" A referência aos ciganos resulta duma notícia da imprensa sobre o caso Maddie, uma nova manobra de diversão a favor duns pais no mínimo "descuidados" mas nórdicos. A propósito, alguém mais ouviu "falar" no alemão que teria assassinado a amante negra e a filha de ambos? Em momentos de crise, como aquele que se vive pelo mundo e cujo final não se sabe qual possa vir a ser e pode ser mesmo a destruição da vida na Terra, os ciganos ou o outro são julgados sem apelo nem agravo e condenados como responsáveis por tudo e mais alguma coisa. Em relação aos ciganos temos em Portugal o exemplo de autarquias, que os expulsam para as vizinhas, às claras, ou sub-repticiamente como a da Amadora, que adquire casas na de Sintra para alojar os seus desalojados. Anote-se que em Portugal e no tempo do fascismo os ciganos foram perseguidos pela GNR e na Europa pelos nazis e assassinados nos campos de concentração (onde não foram também eliminados apenas judeus, mas ciganos, opositores políticos, especialmente comunistas, prisioneiros de guerra soviéticos, homossexuais, deficientes mentais ...) Mas as pessoas, formatadas, só falam nos judeus e nos goulags e no Muro de Berlim, esquecendo o muro que separa o México dos EUA ou Israel dos Colonatos em território da Palestina, ou o muro "virtual" resultante do Acordo de Schengen ou Guantánamo e outras prisões que nada ficam a dever ao Campo de Concentração do Tarrafal e outros, incluindo os nazis!

Abraço

De acordo, Victor. Aliás podes acrescentar aí que para além dos Judeus, dos Ciganos e dos Comunistas, no Holocausto também existiram vítimas árabes, de que evidentemente ninguém fala.

Quanto às injustiças em Guntánamo e sobre os próprios Mexicanos também é um facto conhecido. Acredita-se que o Obama possa por cobro ao escândalo, nessa parte do mundo, se tiver força para tanto.