Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

terça-feira, 27 de abril de 2010

Novas de mim e o que mais se verá


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.Viva quem vive e não vegeta !


Já tirei os pontos, a cicatrização correu bem, já fiz o molde para ir esticando dedo e o tendão com uma tala ajustável para gradualmente distender o tendão; já posso conduzir e teclar com as duas mãos.


As notícias estão dadas e se não quiserem ser poupadinhos digam-me de vós.


Até lá, beijos às moças e abraços aos moços


Victor Manuel

“Appertura” – Allegro  ma non troppo e Gavissimo




NOTA IMPORTANTE
.
Esta não é uma mensagem de SPAM mas sim enviada a alguém que por qualquer motivo conheço na vida real ou na WEB. Se não quiser receber mais mensagens devolva esta com a indicação «Retirar da Lista» na barra de assunto.

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Saudações do.
Victor Nogueira




Beijos às raparigas e abraços aos rapazes
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domingo, 25 de abril de 2010

Victor Nogueira e o 25 de Abril

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.-

 * Victor Nogueira
-->


O nosso partido
é o futuro no presente construído
Na praça se demonstra
Na praça se vê
Na praça se ouve
Na praça se diz
.

Abril é passado
presente o deserto
esperança o futuro
.

fora dele....... deste nosso partido
sem vida é o presente
sem humanidade o futuro
vazios os campos
inóspita a cidade

.



1982 | 1992
No comboio para o Barreiro
_____.



De negro vermelho
Em campo aberto mal fechado
              pela paz em construção
              pelo pão que se não faz
               pela  liberdade sem caridade ...
Coisas           belas só de vê-las
         uma criança em contradança
         com imaginação no coração
         esperança e alegria
         pedra a pedra no dia-a-dia
         da cidade em democracia.
Não há criação         sem mim, diz o patrão
                     amigo da servidão
                     de porrete na mão !
Quem assola o sossego de quem teme o povo demente
                 seja ou não terra-tenente
                 com o zé  povão em baraço ?
Mas   poderá haver outra inspiração
                     poderá um homem dizer sim ou não
                     deixando de ser solidário
         com quem tem mau solário
quando lhe pesam a fome
                       a sede e
                       a opressão
              de quem não tem pão no meio da escuridão ?!


1991.06.25 | 1992.03.12|
Setúbal



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-->
 ELEGIA POR UMA CERTA JUVENTUDE
.
Eram jovens
..........passeando como fantasmas
com fatos talhados à medida duma roda sem destino.
 .
Sorriam
e o sorriso era
.................uma vereda para lado nenhum
.................uma vida de sonhos amortalhados.
 .
Eram jovens
de gestos calculados
...............com mil olhos e
.......................dez mil bocas em cadeia
 .
 E no entanto
 para lá deste horizonte cinzento
 debruado a cetim
 as gaivotas (não) eram águias inatingíveis!




1991.03.20
Setúbal





_____
.
.
-->
DAS KAPITAL EO MANIFESTO COMUNISTA


Era um homem
Era um livro
bembelo
Era o livro com paredes de vidro
Era o Partido
Quando falavam ou agiam
não eram eles
era o Partdo
contido!
Foram Marx e Engels
Estaline após Lenine
Era o tempo da revolta
do fascismo e da guerra
Era o tempo da Revolução
o tempo escasso
de Abril em Maio
o tempo da alegria e do sonho
do mundo novo a construir.
A esperança era um canto na cidade aberta e
o futuro começava ali numa criança a sorrir
ao virar da esquina
ao alcance da nossa mão
O riso enchia a praça e tão leve o ar! ...
Era o tempo dos slogans
da liberdade da fraternidade da justiça e
da paz
Havia é certo
Maio de 68 e o conflito sino-soviético
o Chile e o Vietname
e o despertar das colónias sob novas cadeias
E também havia
a Universidade em 69
a Hungria e a Checoslováquia
a Polónia e o Afeganistão
E vieram alguns outros
Khruchev e BreJnev
e também Gorbatchev
Havia é certo, lá longe ...
as cortinas
de ferro ou de bambú
Havia barreiras e fronteiras
no tempo da escuridão
da luta pela unidade na Revolução
Havia paredes
de vidro transparente ou translúcido
frágil como o cristal ou
forte se aramado ou martelado
espelho na reflexão
Era um homem
Era um livro
E eles não sabiam
que era o tempo da Revolução.
E os homens ficaram
E os homens partiram
E eles não souberam
estender a sua mão
esquecidos da Revolução
na noite da reacção
E fecharam-se as portas
E cerraram-se as janelas
e eles dividiram-se na maré da inflexão
e não souberam camaradas
dar a sua mão
esquecendo que a revolução
começa com o nosso irmão
E levantaram paredões e lançaram ao chão
o camarada e amigo que tinha outra razão
porque tinham em si o que pretendiam
construir ou destruir
E falavam em coisas belas
falavam da liberdade da fraternidade
da justiça e da paz
para outra criação
Eram homens e mulheres
alguns assassinados
que não queriam a morte
nem a espoliação ou humilhação
e passavam
passavam sempre
azafamados ou com lentidão
simples ou cheios de razão
com as virtudes e defeitos
do lugar e tempo em que estão
Uns e Umas com delicadeza, como é óbvio
e outros com distracção ou brutidão
a franqueza do clarão na escuridão
esclarecido ou não
Era um homem
uma mulher
Era um livro
partido
porque não souberam vencer a solidão e
construir outra fabricação
Eram só homens
Eram só mulheres
Era só um livro
bimbelo
se não houvesse
em gestação
outra reflexão!

Até amanhã camarada ou não





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Ver textos de Victor Nogueira
.
1974 - 25 de Abril a 28 de Setembro - Victor Nogueira
Em 25 de Abril de 1974 e outras memórias - texto e fotos de Victor Nogueira
O 25 de Abril - Os Prós e os Contras da Democracia - Victor Nogueira e outros
25 de Abril - Dia da Liberdade - Victor Nogueira e outros

No D'ali e d'Aqui
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No Ao (es)correr da pena e do olhar

No Kanto_XimPi
1974 - 25 de Abril a 28 de Setembro - Victor Nogueira
Em 25 de Abril de 1974 e outras memórias - texto e fotos de Victor Nogueira
O 25 de Abril - Os Prós e os Contras da Democracia - Victor Nogueira e outros
25 de Abril - Dia da Liberdade - Victor Nogueira e outrosUma sessão cultural em Évora - 1972 - Victor Nogueira 
 

Fotos de Victor Nogueira
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sábado, 24 de abril de 2010

E no entanto ela move-se (Galileu)

Entre Abril e Maio foi o tempo da esperança, dum Mundo Novo a construir, destruídos pelos súcialistas e Cia e o voto deixou de ser uma arma do Povo ! O Império paga aos traidores do Povo ! VN

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tu és a clara madrugada

* Victor Nogueira
.
Tu és a clara madrugada
esperança minha
de ser amada

Tu és a risonha
            serena  madrugada
esperança minha
de ser amado
 .
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Setúbal
2005.03.07

sábado, 17 de abril de 2010

Arte e Poesia em Modus Vivendi



COMENTÁRIOS (2)

Olá :-)

Passei apenas para um aceno, já que leio habitualmente este blog e por vezes reproduzo alguns dos seus posts no D'Ali e D'Aqui, esperando que se não importe

.
Também é um meio de conhecer mulheres elegantes embora d'outras eras LOLPk não coloca tb mulheres dos últimos cem anos, incluindo mulheres do povo?

Um abraço e a estima do

Victor Manuel
ana roque:
Caro Victor Manuel, obrigada! Quanto à sugestão, tenho muitas fotos nos arquivos do modus de mulheres bem actuais, pelo Helmut Newton ou Edward Weston...

No 1º aniversário do Francisco


O que estás a fazer agora?
Hoje o Francisco comemora o 1º aniversário. Já anda e diz algumas palavras, como mamã, e continua risonho
há 1 minuto   »

♥ﻉ♥Feяmina The Bonaiяean Flamingo♥ﻉ♥
My baby Boy will be 4 years old monday 19~04~2010. God bless u, Ingvar!!!
hoje 


Margarida Garcia
" É possível ser jovem sem ter dinheiro, mas não se pode ser velho sem ele." Tennessee Williams

há 1 hora  

yolanda botelho
UM RAIO DE SOL,OUTRO DE LUAR.
há 2 horas

zéca Martins
BOM E FELIZ FIM DE SEMANA
hoje 

Rosa Lapinha
Enquanto ainda vivos... aproveitar para fazer coisas boas
hoje 

JoséPereira
Viver é muito fácil, porque meço a partir de ti o norte e o sul. Basta que existas para que os meridianos se arrumem e os oceanos não transbordem. (Teolinda Gersão)
hoje 

Odete Botelho
Basta a cada dia as coisas de cada dia....
hoje 

Alentejano de Évora
..No Merecido Fim de Semana..Tem que ser... o Corpo não é de Ferro...
hoje 

vitor correia
A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõe. William Shakespeare
hoje 

KRISTINA JUST ME
COM VONTADE DE VIRAR AS COSTAS ...E DESAPARECER. ESTOU FARTA DE GENTE FEIA E POBRE DE IDEIAS...
hoje
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Jorgina
Bom Fim de Semana! Great Weekend! Szép hetveget! Week-end minunat! milutkiego weekendu! Bon week-end! Hezký víkend!

hoje
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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Operação" facadas à direita e à esquerda "


Victor diz:
15/Abr 21:05
Estado foi alterado para 2ª vou tirar os pontos; a cicatrização está a correr bem. Depois é outra facada, na mão esquerda, e o processo de recuperação
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Victor diz:
9/Abr 16:15
Estado foi alterado para A operação correu bem mas agora ando de braço direito ao peito :-)
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filipa diz:
9/Abr 23:41

espero que a recuperação seja rápida e indolor.um beijinho pa si ,victor.

Vitor Correia diz:

10/Abr 11:10
As tuas rápidas melhoras amigo.E um bom final de semana.Um abraço
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Odete diz:
10/Abr 11:11
Meu amigo Victor não tenho vindo ao HI5, porisso não sabia do seu estado.Espero que tenha corrido tudo bem e que a recuperação seja rápida.
Pois é, é que o bracinho faz mta. falta principalmente o direito...(estou a brincar)
Rápidas melhoras meu amigo e até lá fique bem e descanse os HI5.Beijinhos do coração.
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Alentejano diz:
11/Abr 22:08
Rápida Recuperação companheiro.
Abraço
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Victor diz:
7/Abr 2:16
Estado foi alterado para Semi-ausente durante umas semanas !
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Alentejano diz:
7/Abr 7:17
Então e como é que decorreu essa porrra?As melhoras.
Abraço
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Jorgina diz:
7/Abr 11:59

(_) (_)
(_) @ (_)
(_) (_)
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\ |
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Espero que esteja tudo bem contigo...bjs
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Victor diz:
2/Abr 21:29
Estado foi alterado para Estou na contagem decrescente para levar duas de três facadas :-)
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irene diz:
2/Abr 22:05

feliz pascoa beijos grandes
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Alentejano diz:
4/Abr 11:13
Conta la ao teu camarada o que se passa?Vais á Faca?!!
Abraço
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Victor diz:
2/Abr 21:20
Estado foi alterado para Estou na contagem decrescente para lavar duas de três facadas :-)

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Victor diz:
23/Mar 4:49
Estado foi alterado para A Primavera parece ter chegado, apesar do Sócrates. Os dias estão quentes e soalheiros, o céu azul luminoso VN
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Alentejano diz:
23/Mar 8:18
Mas o Inverno foi muito chuvoso!!
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Victor diz:
20/Mar 22:32
Estado foi alterado para A quem interessa o que esteja eu a fazer no momento em que alguém leia isto? Quem me lê e quem me lê sem iletaricia? Haverá alguém? Os dedos duma das minhas mãos chegam e sobram ! VN
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Alentejano diz:
20/Mar 23:01
Mas o tê amigo é um dos 5.
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Victor diz:
21/Mar 4:57
Obrigado, cumpadre :-)
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Victor diz:
16/Mar 12:28
Estado foi alterado para Bom tempo e boa disposição para todo o Mundo :-)
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Victor diz:
12/Mar 15:49
Estado foi alterado para Inspirando e expirando com pulsação e batidas cardíacas normais :-)

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Odete diz:
15/Mar 13:45
Amigo Victor andas a fazer algum teste ao coração é????Beijinhos
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Jorgina diz:
12/Mar 16:59


....................-.'.....'.-.
...............-(......\..../.....)-.
............./.....'....oOo...'....\.
..,..........\.--.oOOOOOo.-'-./.
..|\..,.....(..'..:oOOOOOo:...’).
._\.\/|...../'--'oOOOOOo'-'\.
.'-...;/|....\.......''oOo''......./.
..--`'..:/|..'-(...../....\.....)-.
..'--..`../..//..'--'.__.'--´.
....`'-,_';//.
...........'((
.............\\ .
...............\\ .
................\\ .Bom Fim de Semana!
\\\\|/  . \\\\|/  . \\\\|/    \\\\|/
.
Susana ♥★ diz:
12/Mar 23:07
Amigo Victor andas a praticar algum exercicio fisico é?bjs
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Alentejano diz:
14/Mar 21:56
E por vezes tenho a Tensão um pouco alata. És um Sortudo!!
Abraço
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,

Notícias de mim, a quem interessar

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Vivam – duas das tês facadas já lá vão e 2ª feira vou tirar os pontos. Depois será uma facada à esquerda, não politicamente falando mas à mão sinistra me referindo. Parafraseando Pangloss, "Tout est pour le mieux dans le meilleur des mondes possibles" ("É tudo para o melhor no melhor dos mundos possíveis")
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Se quiserem dar novas, terei gosto em recebê-las. Se preferirem o silêncio, guardai o ouro em vez de gastarem a prata (O silêncio é de ouro e a palavra de prata)


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Eu deixo-vos a prata nos verso de Craveirinha
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quarta-feira, 17 de Março de 2010

Reza, Maria - José Craveirinha

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REZA, MARIA (1. versão)
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Suam no trabalho as curvadas bestas
e não são bestas
são homens, Maria!
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Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos
e não são cães
são seres humanos, Maria!
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Feras matam velhos, mulheres e crianças
e não são feras, são homens
e os velhos, as mulheres e as crianças
são os nossos pais
nossas irmãs e nossos filhos, Maria!
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Crias morrem á míngua de pão
vermes na rua estendem a mão a caridade
e nem crias nem vermes são
mas aleijados meninos sem casa, Maria!
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Do ódio e da guerra dos homens
das mães e das filhas violadas
das crianças mortas de anemia
e de todos os que apodrecem nos calabouços
cresce no mundo o girassol da esperança
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Ah! Maria
põe as mãos e reza.
Pelos homens todos
e negros de toda a parte
põe as mãos
e reza, Maria!
.
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JOSÉ CRAVEIRINHA
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Victor Nogueira 

 De negro vermelho
Em campo aberto mal fechado
              pela paz em construção
              pelo pão que se não faz
               pela  liberdade sem caridade ...
Coisas           belas só de vê-las
         uma criança em contradança
         com imaginação no coração
         esperança e alegria
         pedra a pedra no dia-a-dia
         da cidade em democracia.
Não há criação        sem mim, diz o patrão
                     amigo da servidão
                     de porrete na mão !
Quem assola o sossego de quem teme o povo demente
                 seja ou não terra-tenente
                 com o zé  povão em baraço ?
Mas poderá haver outra inspiração
                     poderá um homem dizer sim ou não
                     deixando de ser solidário
                     com quem tem mau solário
quando lhe pesam a fome
                       a sede e
                       a opressão
                      de quem não tem pão no meio da escuridão ?!


1991.06.25 | 1992.03.12|
Setúbal

Beijos  às moças e abraços à rapaziada
Victor Manuel
.

Fechadura – Allegro  ma non troppo

NOTA IMPORTANTE
.


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Saudações do.
Victor Nogueira

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Boa semanada ...

... mesmo para quem está na Galeria dos zombies
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* Victor Nogueira

A VIDA É VARIADO GOSTO E DESGOSTO
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Com boa fala ou coração calado,
A vida é um correr bom ou mau tempo,
Triste, ledo, colorido ou cinzento,
Dos outros próximo ou apartado.
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Com ou sem casa, bem ou mal amado,
Macho, fêmea, trazem seu sentimento
Do mundo ser ou não um bom momento,
No quotidiano com diferente rendilhado.
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É crer nervos crispados suavizar;
Leda ou triste, a dor desta jornada
Em florido peito acalmar, a rir.
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Tal é a vida, sendo o respirar
Do viajeiro, com sua passada,
Tenção p'ro horizonte se atingir.
.
.
__-
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7. E João Bimbelo caminhava pelos caminhos da vida em busca de coisa nenhuma. Pensava nela por vezes com uma grande ternura e acordava no silêncio da madrugada com um desejo sufocante do ouvir o seu sorriso, ver a sua voz, sentir a carícia do seu corpo de mulher apetecida. Mas os seus dedos e os seus lábios não a encontravam e a madrugada era um poço sem fundo e o tempo cada vez mais curto. .
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Nas suas longas caminhadas João por vezes entrevia uma janela aberta, uma porta mal fechada, uma luz para além da curva da estrada. E o coração de João vestia-se com os melhores fatos e o seu andar tornava-se leve e fresco e as palavras eram um rio a cantar. Mas era tudo uma ilusão, porque a imaginação dos homens não tem limites e os gestos e as palavras ora são límpidos como cristal translúcido, ora um cristal multifacetado, ora um espelho baço de mil imagens e sons, mesmo se adornado com as cores do arco íris.
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E João procurava Aquela Cujo Nome Se Não Desvenda, volúvel como o vento, contrastante como o dia é da noite sem luar, e perante o seu silêncio e as suas fugas em redondel, ficava João sem norte como navio no mar alto em dia de tempestade, como frágil pardal de asas cortadas sem nada de águia altaneira, como cana agitada pela mais leve brisa sem a solidez do roble centenário. Estados de alma que se não perdoam a guerreiros vestidos com suas armaduras que nunca devem despir, mesmo se cansados da guerra, mesmo quando perdidos ou cavalgando no meio das quentes areias do deserto (porque os cavaleiros não andam pelos gelados desertos polares).
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E João procurava de novo pôr a máscara, erguer as muralhas, tapar as fendas e os interstícios nela abertos por onde entravam em golfadas crescentes a fragilidade, o desamparo e a tristeza que afogam o coração mesmo dos mais fortes se não mudarem de rumo em busca de portos e marés onde os dias sejam tudo menos uma noite cinzenta, fria, triste e sem esperança.



Foto Victor Nogueira
Lisboa - Rua Soeiro Pereira Comes
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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Victor Nogueira - Um dois, três textos em tempo de Páscoa

Data - dom 04-04-2010 01:48
Para - 'Clube sem estrelas'
Cc -    'Sinal.de.vida.vicnog'
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Abertura – Allegro  ma non troppo

NOTA IMPORTANTE
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Esta não é uma mensagem de SPAM mas sim enviada a alguém que por qualquer motivo conheço na vida real ou na WEB. Se não quiser receber mais mensagens devolva esta com a indicação «Retirar da Lista» na barra de assunto.
Saudações do.
Victor Nogueira

 



 



1 - Carta aberta em tempo de Páscoa



* Victor Nogueira


Assunto:
Carta aberta em tempo de Páscoa
Data:
3/Abr 13:59
Caríssimo
Eu fui trabalhador da Administração Pública e tu ainda és !
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Que eu saiba, fazes parte dum serviço indispensável às populações. Como o pessoal da Saúde, do Ensino, da Segurança Social, da Justiça. Farto estou de «modelares» empresas privadas que nada valem, a começar pela Banca e pelos grandes accionistas e seus capatazes, ou que controlam o processo produtivo a montante e a jusante. Como as grandes superfícies comerciais, que nada produzem!
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A tua juventude não desculpa a irreflexão deste mail.
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Negar aos trabalhadores o direito de se manifestarem por melhores condições de vida e de trabalho ou defender um serviço público de qualidade, só é reaccionário para o patronato. E a cantilena do «pénis rasca» não passa disso! Se todos fossem empresários não haveria trabalhadores e se todos fossem serventes de pedreiro ou mulheres a dias não haveria empreiteiros nem patrões ou patroas!
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Estou-me borrifando que os ricos não paguem mais para usufruírem do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, da Segurança Social, da Justiça … O que exijo é que esses sejam de qualidade, públicos, gratuitos e universais. E que as empresas e os ricos não fujam ao fisco e as empresas não esmifrem os trabalhadores sugando-lhes o tutano, sem pagarem impostos, salários justos, estabilidade de emprego, direito a terem vida social para além da empresa e descontarem para a segurança social.
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As pensões de reforma não são uma esmola, são um direito !
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O que os sucessivos governos PS/PSD/CDS fizeram desde 1976 foi destruir o sector produtivo, colocando o país na completa dependência do exterior, impedindo quaisquer veleidades dum governo de esquerda! Fecham a torneira e acaba a «reforma». Enchem-nos os ouvidos com o deficit, mas não falam do crescente deficit da balança comercial !
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Um abraço

Victor Nogueira
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Obviamente que não repasso o teu mail nem me parece que distribuas este :-)

Basta-me reflectires 
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O Salário da Miséria ...
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Victor Nogueira

 

 

2. - Goios - a Páscoa numa aldeia minhota (1974)


 Na casa de Goios - Na janela eu e o meu tio Zé Barroso

(foto de família)



Victor Nogueira


Aqui na cidade [do Porto] a maioria das freguesias paroquiais já não têm "compasso", isto é, procissão pascal - o pároco leva a cruz às várias residências; por ser uma manifestação inadequada aos dias de hoje. Mas na aldeia [Goios, ao pé de Barcelos] (e não só) ainda as pessoas aguardam a visita pascal - o padre deslocando-se pelas aldeias, cujas casas aguardam a sua visita. Na sala de entrada, bolos secos e vinho. No ar estralejam foguetes ! As pessoas dizem: " O compasso vai na casa de Fulano, daqui a xis horas está aqui!" As horas vão diminuindo e eis que aquela malta irrompe pela sala dentro, o povo ajoelha-se para beijar a cruz, (mais ou menos devotamente), e depois começa a comezaina e a copofonia. Ah! Ah! Ah! Ao fim do dia de certeza que o padre e seus acompanhantes estarão já um tanto ou quanto toldados!

(...) São 16 horas e o meu avô já me chamou ali do lado para me pedir um favor, muito de mansinho: que me ajoelhe e beije os pés da imagem. Se o não fizesse seria um escândalo, que as pessoas reparam em tudo: "Então ele é um ateu ?!" Quem diria, o sobrinho-neto do senhor D. António [de Sousa] Barroso", [que foi] Bispo do Porto (e esteve em S. Salvador do Congo, em Angola) ! Enfim ...

Na varanda coberta e fechada e comprida para onde dão os quartos de dormir a família aguarda o compasso. O primo Adelino tem o gravador aos berros, transmitindo música de ranchos folclóricos. É uma música mexida e movimentada, própria para bailar. Gosto muito mais da música alentejana.

Ali do guarda-fatos e das arcas retirou-se já a roupa domingueira. Estão todos enfiados nas fatiotas, colete, camisa de ver-a-Deus e gravata. Das arcas retiraram-se as cortinas, agora colocadas nas janelas, o soalho lavado, na casa velha cujo solo treme com o peso dos passos. Olho pela janela e a minha vista alcança os campos verdejantes, no meio da pequena e densa mata arborizada. O meu primo, dono da casa, sai descalço do quarto, sapatos e calçadeira na mão. O avô Barroso fala com o António e o resto da malta fala alto atrás de mim, enquanto o tio Zé [Barroso] está ali embrenhado na leitura dum "Précis de Statistique", dizendo‑me que ainda não percebe para que serve a Estatística.

Estralejam foguetes neste entardecer frio, cinzento e nublado. O compasso já está ali a dois passos: Vim agora da ponte que atravessa além o riacho, ao cimo da estrada, junto à pequena escola abandonada e arruinada onde o meu avô estudou.

Trouxeram o televisor lá de baixo da cozinha, onde estivemos no Natal, Estão a transmitir uma tourada do Campo Pequeno [em Lisboa] e toda a gente está entusiasmada, esquecida de meditar na Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, nesta casa onde há imagens e estampas devotas nas paredes da sala de estar, para além das fotografias do já falecido "Senhor D. António "e do seu secretário e sobrinho, também padre mas que não chegou a bispo.

A dona da casa, minha prima, pede‑me que avise quando o compasso se aproximar. Pego em mim e venho até aqui à janela, assim transformada em posto de vigia. No peitoril continuo o relato dos acontecimentos.

A malta ali na sala e na varanda está entusiasma: "Aquilo é que foi uma pega!".


A sineta toca e o compasso prepara-se para sair da casa do primo Manuel, nosso vizinho. Não, afinal não: acabou foi de entrar e o maralhal pode ainda assistir um pouco à tourada.

A estrada está atapetada de flores, melhor, de pétalas.

Reparo que sou o único barbado das redondezas. Tenho desculpa (terei ?) porque sou da cidade.

A televisão pode mais que o Nosso Senhor!

O compasso veio, as pessoas foram para a sala de entrada. Toca a sineta, que um miúdo traz adiante; uma cruz florida transportada por um homem de opa vermelha é dada a beijar às pessoas - que não se ajoelham - e o jovem seminarista aperta a mão aos presentes, desejando Boas Festas. Segue‑se uma "orgia" de apertos de mão e votos de boas festas. Alguns velhotes detêm‑se a falar com a sra.Elvira, criada do avô Barroso. Este está muito sorridente, apresenta a filha "que é professora em Luanda" e o neto. Não posso deixar de sorrir‑me e enternecer‑me com o ar jovial do avô, enquanto cumprimento "gravemente" as pessoas.

É para aí o 5º compasso em 8 anos e alguns destes homens são "habitués" nestas andanças (Sempre se come e bebe à custa dos outros). Mas ainda o compasso não abandonou a casa e já os meus primos e alguns amigos se precipitam para o televisor, "onde" um forcado é retirado de maca do redondel.
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São 18:20 e ainda estralejam foguetes. O pessoal continua a assistir à tourada. A prima Clementina - mãe das que vimos a conduzir um carro de bois - tem um linguarejar (pronúncia) muito catita. Ali na outra casa [do primo Manuel] só se fala de terras e riqueza! Safa! Fazem parte da "elite" cá do sítio. Mas enquanto que os filhos do José são folgazões e desinibidos, mais que o pai, os do Manuel são muito acanhados.([1])

A senhora Elvira foi visitar uma amiga e ainda não voltou. A tourada já terminou e agora transmite‑se um programa de ginástica. (MCG - 1974.04.16)


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[1] - Em 1975, com a morte do meu avô Barroso e com o meu casamento com a Celeste, perdi o contacto com os primos de Barcelos (Goios e Pedra Furada). Em 1989, sediados no Mindelo no Verão, fui com a minha mãe, o Rui, a Susana e a Joana Princesa a Goios, para (re)vermos os primos. Mas uns tinham morrido, os mais sociáveis, e os outros nem apareceram, deixando-nos a secar na estrada. Como na altura me não lembrava do nome dos da Pedra Furada, não fomos a esta aldeia, onde regressei mais tarde, com a Fáfá das Caldas, mas apenas numa das nossas múltiplas deambulações turísticas por Portugal de lés a lés, amiga, navegadora, auxiliar de fotógrafo e scipt-girl dum Livro de Viagens inacabado do qual restam milhares de fotos e o borrão duma «peregrinação» em livro inacabado, casa vez mais perdido nas brumas do tempo e da memória.
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VN in RETRATOS
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3. - 6ª FEIRA SANTA - Victor Nogueira



6ª FEIRA SANTA


Ah! 15 horas!


Sim, foi há uns dois mil anos


Houve um Deus feito homem


- ou um Homem feito deus -


não sei bem.


A memória dos homens é fraca.





Mas, ... não interessa


Há dois mil anos alguém morreu numa cruz


Vejam lá!


Até disse coisas simples


"Que o vosso falar seja sim, sim,


"Amai-vos uns aos outros!"


"Perdoai as nossas ofensas


"Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido"


Tudo coisas neste género,





Bem, também falou em choro e ranger de dentes


em maus servos,


infiéis,


Lembro-me, bem, lá lembrar não lembro


- ainda não era nascido


pois, lembro-me


NÃO!


Dizem-me que esse alguém disse


para não cortar as ervas daninhas


antes de vir o tempo da ceifa,


não fosse estragar-se a seara.





Foram assim coisas nesse género.


Coisas simples..


Pois só os simples as entendiam.





"Não julgueis para não serdes julgados"


Parece-me ser também de sua autoria.





Não interessa.


Deve ter sofrido muito


-até chorou lágrimas de sangue! -


Vejam lá!


A mesma multidão que lhe cantou hosanas


ululou selváticamente no Calvário


- não confundir com o António.


Não brinco.


Sei quanto pesa a solidão,


a traição dos amigos


o sono dos que dizem acompanhar-nos


Ah! sei! Oh! se sei!


Quão pesados são os risos de escárnio


as galináceas multidões


cacarejando


aos uivos.


E eu não tenho pretensões de morrer


para salvar as meus irmãos


- só dou para alguns.





Dizem que foi há dois mil anos


que os seus frágeis ombros de Homem feito deus


ou Deus feito homem


suportaram o pesado madeiro


feito das nossas lágrimas,


dos nossos desesperos,


das nossas angústias,


das nossas raivas,


das nossas faltas


que não são nossos,


mas do Adão e da Eva.





Morreu sózinho,


abandonado,


numa a cruz


ladeado por dois ladrões


- o bom e o mau,


o Judas e o João


o espírito e a matéria


o homem e a mulher


o lupanar e a igreja


Gabriel e Lúcifer


o bem e o mal ...


Dizem que foi por mim, por nós.





Depois


os homens pegaram na sua solidão


Institucionalizaram-na


(é um termo bonito)


Juntaram-lhe artigos


alíneas,


parágrafos,


ritos


gestos


penumbras,


trindades,


Trentos e Vaticanos.





"Quem não for por mim


é contra mim!"





Organizaram-se cruzadas


Alcácer Quibir


a Inquisição


o Index


os autos de fé


- ah! o fogo purificador -


Vá, em fila


Auschwitz Bergen-Belsen





Está tudo bem escrito


o que deve fazer-se


o que não deve fazer-se


artigo 8º e suas alíneas


É preciso estudar muito


Direito Natural


Doutrina Social da Igreja


Filosofia


Teologia


Teodiceia


Direito Canónico


Internacional Público





Ética


e muita matemática


cálculo infinitesimal


para extrair a média aritmética


da raiz quadrada disto tudo


(parto sem dor)


e planificar bem. a distribuição dos pecadores


e dos bem aventurados,


para que não haja inflação


para que se equilibrem


as curvas da oferta e da procura.








Hoje não se come carne·


nem se ouve música


deve comungar-se ao menos·


uma vez cada ano


Pela Páscoa da Ressurreição


Domingo


Mete-se a moeda


sai a confissão - perdão - absolvição


despache-se


não vê a multidão


enorme


quedesejalavaraalma?


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Escrito no passado milénio, em Évora


O artº 8º era o da Constituição Fascista, que consagrava as liberdades, direitos e garantias e logo de seguida os limitava ou negava.


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Victor Nogueira