Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Grato pelo Bambi

Victor Nogueira
Grato pelo Bambi. Em Luanda tínhamos uma corça no quintal, para além dum cão, gatos, galinhas e patos :-)
Victor accepted a Thank You For Being My Friend in @Kisses.
I am the #16 kissed amongst my friends.
25/12 às 2:45 através de @Kisses: · 
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*
o
Victor Nogueira Grato, Mana Lua :-)
25/12 às 2:57
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Eles são democratas - Victor Nogueira


* Victor Nogueira
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Eles são democratas
Amigos de Plutocratas
Com cidadania
De enguia
bem esguia !
Escorre-lhes dos dedos, dos lábios e da caneta ou do «computador»
Arrogância
Jactância!
Vestem bem e cheiram melhor
Para esconder o pior
perfume da sarjeta
Muitos vivem da gorjeta
Esquecidos que em pó se transformarão ,
acumulado num saco de ossos
em fossos, na fossa
Por isso não são dos nossos.
São sim democratas
Plutocratas
Aristocratas
Autocratas
Convencidos que são reis!
Mesmo em terra de cegos o «imperador» vai nú
Numa palavra sem palavra
Na família das piranhas
São PIRATAS

Victor Nogueira
2006.06.26


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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A quadratura do círculo ou do circo ?

È Natal
É fatal:
É peta :
a treta
bem preta
sem teta !

An'ovo
É ovo
do Povo
ou logro
do Polvo !?
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A fome
não some
No sono
ressono ?
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Bom tom
sem som
é bom
ou non?

Victor Nogueira 2010.12.29
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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Véspera de Natal sem rede :-P


Victor Nogueira
Hoje para este Kant_O há poucos olhares. Deve ser por me ter portado mal :-P
há 17 minutos · Amigos de amigos · GostoNão gosto · Comentar
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o
Manuela Miranda Comigo não Bom Natal bjs
há 5 minutos através de Facebook Mobile: · GostoNão gosto
o
Victor Nogueira És um Anjo, Nela. Bom Natal para ti, também :-)
há 2 segundos ·
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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

RECEITA PARA UMA MENINA CALADA

* Victor Nogueira
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[03:12] .
[03:12] Em toalha de renda
[03:12] planta-se uma seara de gestos e palavras
[03:12] sem novelo, q.b.
[03:13] azul de amizade, macia como veludo
[03:13] murmúrio do mar com sol a nascer
[03:13] ósculos, dois, odoríferos.
[03:13] Estende-se bem e junta-se um traço de união
[03:14] ternura e uma esmeralda
[03:14] Leva-se ao lume em fogo brando.
[03:14] À parte no almofariz mistura-se
[03:15] uma pitada de sal, pimenta, salsa vinho e pão.
[03:15] Junta-se tudo e agita-se com delicadeza suave.
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[03:15] Serve-se fresco com doce riso sem rodelas
[03:15] au clair de la lune
[03:16] Próprio para qualquer estação
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[03:16] acompanhado de açucenas
[03:16] malmequeres
[03:16] orquídeas e
[03:16] rosas em fundo verde.
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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Vida - Victor Nogueira

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c
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Obrigado - Victor Nogueira


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DECLARAÇÃO: O poeta é um fingidor


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Maria do Mar, Maria Papoila, Maria dos Mil Sóis Rendilhados, Maria Vai com as Outras, Niña do Beco dos Passarinhos, Joana Princesa com Sabor a Cravo e Canela, Fatma das Caldas, Fátma da Ilhoa da Floresta Queimada, Madre Abadessa Diabinho Diabeza, Nlña de Aguiar e Belmonte, Joana da Côr do Trigo em Flor ou Joana Ratinho são personagens talvez verdadeiros mas com nomes inventados. João Bimbelo, João Baptista Cansado da Guerra ou o Conde Niño são personagens e como tal não existem. Se existissem, então eles não estariam de parabéns por qualquer delas. Mas elas, talvez os merecesssem, apesar de inventadas pelo escriba, a quem teriam deixado para trás :-)
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Talvez porque o escriba, embora malabarista do verbo bordejando a chama, pouco valor teria nas histórias que inventava com a liberdade e arte que a todos os escribas é permitido.
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Victor Nogueira aka Kant_O_XimPi.Manog
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PS – Mais declara o escriba que não costuma ficar a chorar pelo leite derramado e do passado procura reter apenas aquilo em que foi feliz. O resto, o resto são «estórias», como agora se diz.
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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Hoje é domingo ...





* Victor Nogueira

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.  ... e continuei a arrumar livros, no átrio (literatura de expressão prtuguesa) e na secção de biografias, aqui no escritório. O frio continua e hoje e ontem resolvi cozinhar. Amanhã é um novo dia e no fim de semana .... Natal.
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Victor Nogueira LOL. Este ainda ninguém leu. Veramente Vero :-P
Ontem às 23:22 · GostoNão gosto
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Maria Clara Roque Esteves Acabei de ler este teu grito de solidão, seja quem for o personagem envolvido. Mas lembra-te também da solidão a dois ou a vários, tantas vezes sentida por detrás de muitas janelas, dentro de muitas residências por esse mundo nosso.Gostei do conteúdo e da forma.
Ontem às 23:42 · GostoNão gosto · 1 pessoaA carregar...
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Ana Albuquerque Será que é a vida que perde sentido ou seremos nós que nos esquecemos do caminho?...
há 21 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira
Ana - É o passado que perde o sentido quando o confrontamos com o presente e vemos que muitos dos/as companheiros/as de jornada trataram da sua vidinha, servindo-se e não servindo os ideais que proclamam aos quatro ventos. E verificar que a...final desde que não pertençamos à corte nem dela queiramos fazer parte, constatamos que somos descartáveis. E realmente, não procurados porque incómodos com as questões que fui levantando ao longo de 34 anos. E que sendo solidário, de muito pouca gente recebo solidariedade. Apenas palavras ! Donde concluo que no que a mim se refere, ser solidário rima com ser solitário e amizade com soledade!
há 9 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira
há 9 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira
há 9 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira

há 9 horas · GostoNão gosto
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Ana Albuquerque
Victor
Apesar disso tudo a vida não perde sentido, teremos que ser nós a mudar o sentido dos caminhos, indo por atalhos, pela estrada larga, ou por outro caminho qualquer alternativo. Quem quiser partilhar do mesmo percurso, será sempre bem ...vindo, quem não quiser, pode seguir e fazer outras viagens.
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Ser solitário não é sinónimo de viver na solidão. Podemos sempre abrir caminhos a novas gentes, mesmo sendo solitários. Não concordas?
há 4 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira Por isso, Ana, apesar de tudo continuo onde estou. O optimo é inimigo do bom e é preferível o bom ao mau :-)
há 2 horas · GostoNão gosto · 1 pessoa
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Maria Lua, Francisco Santos, João Fael e 3 outras pessoas gostam disto.
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Victor Nogueira Clicar na imagem para ler, se quiseres !
Sábado às 22:27 · GostoNão gosto · 1 pessoaA carregar...
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Ana Albuquerque Abre a porta que eu ofereço-te uma lareira...
Sábado às 22:30 · GostoNão gosto
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Lurdes Martins e o telefone...?
Sábado às 22:31 · GostoNão gosto
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Maria Clara Roque Esteves Pois é, Vitor. Cliquei, li e gostei de te sentir. Obrigada pela partilha do teu sentir.
Sábado às 23:04 · GostoNão gosto
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Ana Albuquerque Enviei-te um abraço caloroso mas tu não o recebeste. Assim sendo, fica o meu sorriso...
há 22 horas · GostoNão gosto
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Maria Lua Sentir num crescendo o o calor desse teu olhar sentido :)
Abracinho Victor
há 10 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira
Desculpa, Ana, mas como o mandaste? Se foi pelos programinhas ali à esquerda, debaixo do "pedidos de aplicações", recebi e agradeci. Nem todos aparecem no meu mural, por razões que desconheço Mas num dia gélido como estes que atravessamos... a caminho de outros infernais e mais gélidos, um abraço caloroso é sempre reconfortante e retribuível com mais calor,beijos e afecto, se possível, apesar de virtuais :-)
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Ah! Referes-te a eu abrir a porta? A minha ou a tua? Não sabes as coordenadas da minha nem eu as da tua :-)
há 10 horas · GostoNão gosto · 1 pessoaA carregar...
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Victor Nogueira Olá, Mana Lua, se ainda aí estás :-)
há 10 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira Olá, Mana Lua :-)
há 10 horas · GostoNão gosto
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Maria Lua ‎:-))) inté !
há 10 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira Isto encavou, Mana Lua, e não posso ler o último comentário :-(
há 10 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira Desencravou. Bjo grande e soalheiro :-)
há 10 horas
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Victor Nogueira

Grato Ana, pela presença presente :-)

by My Christmas Wish
My Christmas Wish:234 Gifts Available
1 :My Christmas Wish For You
2 :My Christmas Wish For You
3 :My Christmas Wish For You
4 :My Christmas Wish For You
há 10 horas através da aplicação My Christmas Wish Amigos de amigos · GostoNão gosto · Comentar · Ver opiniões (1)Ocultar opiniões (1) · Send My Christmas Wish Fo

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o
Ana Albuquerque
Ora bem, aqui está a lareira de que te falei. Descobri as coordenadas da tua porta. (Determinação, Solidariedade e Fraternidade). Entrei, acendi a lareira e deixei o calor do meu abraço, mesmo virtual. Descobre as minhas e devolve-me o abraço.
Feliz Natal
há 4 horas
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sábado, 18 de dezembro de 2010

Está um tempo gélido e de nortada ...





Victor Nogueira

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Está um tempo gélido e de nortada, as janelas cobertas de gotículas de água. Que pena não haver uma lareira para ver a dança das chamas e um grande aquário para repousar vendo os peixes a bailarem ! Mas não, nada disto existe e o Kant_O está só e quase abandonado, apesar da treta do Natal :-)
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clicar na imagem para ler
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Morte de Carlos Pinto Coelho



Lia Branco
Lisboa, 15 dez (Lusa) -- O jornalista Carlos Pinto Coelho morreu hoje, aos 66 anos, na sequência de uma intervenção cirúrgica à aorta, confirmou à agência Lusa o diretor da RTP2, estação à qual esteve ligado durante décadas.
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O director da RTP2 "saudou a enorme generosidade" de Carlos Pinto Coelho com a cultura e os autores, enaltecendo... "o seu papel na divulgação da atividade cultural".
Acontece :(((
há 20 horas ·
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Victor Nogueira Um homem culto, simpático, afável, sem lugar nesta sociedade mercantilista e de literatura light
há 19 horas
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Ler Mais Ler Melhor - Livro da vida Carlos Pinto Coelho seguido duma entrevista a Ernesto Rodrigues

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A Fotografia de Carlos Pinto Coelho

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Até logo noite, até logo pessoal, até logo Mundo,..

Victor Nogueira

Até logo noite, até logo pessoal, até logo Mundo, até logo facebook. Vou mesmo para Vale de Lençóis, no quarto logo aqui ao lado do escritório/biblioteca. Mas ... com um corredor de 13 metros, vamos ver se me não engano na porta e adormeço lá fora no átrio, ao pé dos elevadores :-P

20/10 às 2:41
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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Hoje o dia esteve quente, com sol e céu azul ...

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Victor Nogueira
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Boletim metereológico: Hoje o dia esteve quente, com sol e céu azul e as gaivotas esvoaçavam elegantes e rápidas para lá da janela. Agore é noite e até ao horizonte, em terra, brilham mil luzes como se estrelas fossem ! Tudo é silêncio, salvo o dedilhar no teclado !

 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

De manhã esteve sol ...

Victor Nogueira

De manhã esteve sol, à tarde o céu cobriu-se de variados matizes de cinzento, de aves nem sombra, aguaceiros e trovoadas rápidas mas ensurdecedoras, ficando o calor e os sapatos húmidos com o dia cedo enegrecido
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Victor Nogueira 
Tenho de estudar isso. Mas agora tenho de alimentar oito crianças, que são os meus blogs. Esta vídeo vai para o Carpe Diem - Atrás do tempo tempo vem ?, para além do inFaceLock e o moribundo hi5. Fico contente por nada teres sofrido com o temporal. Eu ia a descer umas escadas exteriores e ia levantando voo com, uma súbita rajada mais forte :-)
há 16 minutos · GostoNão gosto · 1 pessoa
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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

NOTÍCIAS DO BLOQUEIO - I por Victor Nogueira

 a Quarta-feira, 8 de Dezembro de 2010 às 0:48


NOTÍCIAS DO BLOQUEIO - I


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Do Victor Manuel para alguém, saudações



Não as notícias do meu amigo
mas apenas um aceno
entre a espontaneidade e a reserva
com maior ou menor lucidez e serenidade
neste deserto mais ou menos florido
neste caminho quotidianamente (des)feito


por entre os farrapos das alegrias
..........................dos sonhos
..........................das imaginações
por coisa nenhuma
um apelo
um gesto
........apenas
uma simples palavra

Olá amiga!

 .



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Victor Nogueira - Poesia

8508. 035.0 / 2. 014

1985.Agosto.11 - Setúbal


Foto Victor Nogueira

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Lia Branco e Carmen Montesino gostam disto.
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Carmen Montesino
Victor!
Estava a pensar que ia encontrar o poema do Egito Gonçalves, que tanto me maravilhou há uns tempos ...
Fiquei sem palavras perante a surpresa que me ofereces, meu querido amigo! Pelo modo como vives a amizade, pelo real carinho que não te inibes de exibir, apesar de todas as reservas que te conheço!
Um abraço e um beijo para agradecer a luz que iluminou o meu coração!
há 5 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira Carmen - a gentileza retribui-se! Bjo :-)
há 4 horas · GostoNão gosto · 2 pessoas
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Lia Branco Obrigada! Estás bem? Beijinhos :)))
há 46 minutos · GostoNão gosto
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Victor Nogueira Vai-se andando devagar devagarinho, à espera de melhores dias :-)
há 40 minutos · GostoNão gosto · 1 pessoa
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O dia esteve cinzento com várias tonalidades ...





Victor Nogueira

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O dia esteve cinzento com várias tonalidades, sem gaivotas nem pombas a voarem. Não está frio, já é noite e chove desalmadamente.
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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Uma aridez e o silêncio

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Victor Nogueira
Uma aridez e o silêncio marcam a presença de outrem aqui nesta minha "página" no inFaceLook. Ou será FaceLock? É a vida ou ausência dela !
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O dia esteve cinzento e de aguaceiros ...

Victor Nogueira
O dia esteve cinzento e de aguaceiros, com menos frio enquanto as gaivotas planavam velozes para lá da janela. O dia passou, agora é noite, amanhã será novo dia e assim sucessivamente até ao instante final e último !
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domingo, 5 de dezembro de 2010

O frio gélido e cortante ...

Victor Nogueira

O frio gélido e cortante e o céu coberto de cinza claro persistem, acompanhados de chuva miudinha. Um outono invernal à beira Sado, mas sem neve 
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sábado, 4 de dezembro de 2010

O frio gélido e cortante continua

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Victor Nogueira 
O frio gélido e cortante continua. O fim de semana está a meio. A lassidão persiste e não há lareira para ver a dança do fogo e das chamas, enquanto o corpo aquece
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PaolaPitanga | 19 de Maio de 2009 | utilizadores que gostaram deste vídeo, 0 utilizadores que não gostaram deste vídeo
Evento em Potim Roda Feminina de Capoeira - Dança do Fogo
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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sonetos do Kant_ O (1) por Victor Nogueira

a Sábado, 6 de Novembro de 2010 às 23:18
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* Victor Nogueira
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DE BREU ESTÁ O CÉU NÃO HA POR QUEM CHAMAR
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De breu está o céu, não há quem chamar;
Sem qualquer linha no horizonte,
Perdido farol, luzeiro luzente,
Não há motivo, nenhum, p'ra chorar!
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Não há estrelas nem brisa no mar;
Riso e pranto num silêncio crescente,
Em círculo de pedra envolvente,
Não há sol nem luar p(a)ra (en)cantar.
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Sem rio, nave ou ponte na calha,
Uma a uma vão-se partindo as cordas
Que à vida nos prendem com prontidão;
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Vagueando sem rumo, com a tralha,
Uma de cada vez, cerrando as portas,
Dia e noite, com tanta brusquidão.
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Setúbal 1991.07.01
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CAMINHANDO INTERROGATIVAMENTE
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Caminhando o caminho, bem ou mal,
Partindo a derrota que seguirei,
Em busca daquilo que serei
Usando faladura em areal.
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É razão instinto de animal?
Acordado pe(r)di o que sonhei?
Como águia ou pardal não voei
Atolado em verde lamaçal?
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Como posso dormir ficando desperto?
Onde vivem o amor e o ódio?
Como fazer a paz estando em fera guerra?
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Como afastar do mundo o mar, deserto,
Afastando a dormideira do ópio?
Caminho em busca do sol na terra!
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Setúbal 1089.09.12
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Fogoso é o fogo da juventude:
Amar longa e mui profundamente;
Logo restam o pó e a cinza, sómente,
Não trazendo qualquer boa virtude.
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No ribeiro, o arrulhar no açude,
Encanta de verdade, tão bem assente;
Mas o passar do tempo, só, desmente,
Mostrando não haver bem que não mude.
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E lento, passa o mundo bem veloz,
Com máscara ou riso no olhar
A cobrir ou mostrando o ser da alma.
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Mas de ontem fica a tenção, a voz,
Da paz e felicidade encontrar,
A juventude esvaída na calma.
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Setúbal 1989 09 11
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O MUNDO É COMPOSTO DE FAZENDA E MUDANÇA
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.Cada um de nós é só ele próprio
E a sua boa ou má circunstância,
Procurando em tudo uma substância,
Com arte ou não, o alfa milenário.
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Há na terra quem faça santuário
Do sentir ou razão, em abundãncia;
Mas é do cacau terna a fragância
Do fado ter um bom ou mau solário.
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O tempo bem diz que é tudo ilusão;
O amor, doçura, felicidade,
Em lixo ou pó substanciando.
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Honra, beleza, sentir, no caixão;
Erramos, pelo campo ou na cidade,
No mundo, bem ou mal, vagueando.
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Pinhal Novo -  1989 09 10
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Com desconcerto, há na vida tempo
P'ra estar sózinho ou na companhia,
Em paz ou na guerra do dia-a-dia
Com grã siso ou sem qualquer assento.

Devagar na viagem correndo,
Çom má tristeza ou boa alegria,
Os pés em terra ou na fantasia,
Palrando ou nada mesmo dizendo;

A casa com ou sem comodidade,
Com  comida em fartura ou faltosa,
Com amor, ódio, carinho ou secura.

Vivendo ou não, onde a felicidade,
Na vida, destemida ou receosa,
Perdida ou na doce candura?!
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Setúbal 1989 09 10
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Rico ou pobre estão sem paz, na guerra.
Na vida esta é a lei dos contrários,
Em tudo havendo tom, matizes vários,
Variando a qualidade na terra.
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Há quem mal entenda, por isso berra,
Não sabendo como dar volta ao fadário,
Roubando-se assim o operário
Do profundo vale ao cimo da serra.
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É preciso bem unir cem mil forças
Para um mundo novo construir,
Onde haja gosto e felicidade.
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Haverá tempo do leão e corça
Andarem juntos, em paz, a sorrir,
Sem ódio ou pressão, com liberdade?
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Setúbal 1989 09 08
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A VIDA É VARIADO GOSTO E DESGOSTO


Com boa fala ou coração calado,
A vida é um correr bom ou mau tempo,
Triste, ledo, colorido ou cinzento,
Dos outros próximo ou apartado.

Com ou sem casa, bem ou mal amado,
Macho, fêmea, trazem seu sentimento
Do mundo ser ou não um bom momento,
No quotidiano com diferente rendilhado.

É crer nervos crispados suavizar;
Leda ou triste, a dor desta jornada
Em florido peito acalmar, a rir.

Tal é a vida, sendo o respirar
Do viajeiro, com sua passada,
Tenção p'ro horizonte se atingir.
 .
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1989.09.08 Setúbal
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É a guerra o monstro que ceifa a vida
Ruína as casas, viola a criança;
Velhos, novos, não fogem à matança,
No campo a seara é já perdida.
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O fogo e a peste, em grande corrida,
Afastam do burgo a bela festança;
O mal, a vida e natureza alcança.
Só dos loucos pode ela ser querida.
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Homens, mulheres, crianças, lutam
Por outro mundo novo construir;
Cantam rouxinóis, bem alto voam águias.
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Na verde planura os cordeiros vivam;
Na festa, na eira, todos a bailar,
P'la paz lutando, sem demagogias.
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Setúbal 1989 09 06
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NO MUNDO ALGO SE PERDE OU MAL CRIA
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Na vida é bem, não desconcerto,
Em cada dia nascer novo mundo;
No cimo do monte ou no mar profundo
Natureza e vida buscam acerto.
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Desde sempre tem havido conserto;
Veio o homem meter-se no assunto
E agora bem dá volta ao bestunto
P'ra ver se isto não fica um deserto.
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Com fera guerra mata seu irmão,
A vida destruindo, chacinando,
Tudo coberto de fome e ruína,
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Sem que se possa cultivar o pão.
Sol, céu, flores e canto se calando;
Em nós a tristeza desta chacina.
.
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Setúbal 1989 09 05
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Odete Maria Botelho Botelho, Carmen Montesino, Lia Branco e 3 outras pessoas gostam disto.
#

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Lurdes Martins ‎(re)Nasçamos!
6/11 às 23:32 · GostoNão gosto
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Victor Nogueira LOL Só se nasce uma vez. Não há reincarnações. Mas a próxima fornada será mais levezinha e amorosa :-)
6/11 às 23:34 · GostoNão gosto · 1 pessoaA carregar...
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Lurdes Martins Isso é o que tu dizes... eu cá não sei... nem desta sei lá muito, quanto mais para la´desta... :-))) Nem sim, nem não, nem nim - não sei!
6/11 às 23:36 · GostoNão gosto
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Odete Maria Botelho Botelho Palavras para quê!!!Tudo que escreves é mto sentido, porisso é que se "caminha.....caminhando!!!!!!Beijinhos amigo.Obg.
6/11 às 23:36 · GostoNão gosto
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Paula Brito
‎" (...)
Haverá tempo do leão e corça

Andarem juntos, em paz, a sorrir,

...Sem ódio ou pressão, com liberdade? "

" (...)
Tal é a vida, sendo o respirar

Do viajeiro, com sua passada,

Tenção p'ro horizonte se atingir. "

Acredito, Amigo !
Obrigada !
Jinhos mil...Ver mais
6/11 às 23:53 · GostoNão gosto · 1 pessoaA carregar...
*
Alice Coelho gostei muito victor....como sempre!!!!
obrigado
7/11 às 4:51 · GostoNão gosto
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Victor Nogueira Grato às moças e seus comentários e um abraço ao jovem :-)
7/11 às 10:04 · GostoNão gosto
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Lia Branco Gosto sempre dos teus poemas. A mensagem que eles nos transmitem. Muito bons, Victor! beijinhos :)
7/11 às 19:08 · GostoNão gosto
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Ausenda Hilario Interminável inspiração... eu por mim, agradeço tamanha riqueza!
7/11 às 20:03 · GostoNão gosto
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Carmen Montesino Obrigada pela partilha e pelo destaque! Os anos 80 e 90 foram de criação literária profícua! Em vários géneros ; - ) Beijinho, amigo!
8/11 às 14:22 · GostoNão gosto
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Jose Eliseu Pinto O paradoxo da paz encontrada na inquietação. Seria isso que, porventura, Pessoa teria querido instilar-nos pelo desassossego.
É sempre tranquilizador encontrar os amigos neste frenesi.
Abraço grande.
8/11 às 14:24 · GostoNão gosto
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Maria Mamede Sabes (e não é de agora) que gosto dos teus poemas. No entanto, uma pergunta me surge...quando darás a conhecer os poemas mais recentes?
Bjs.
M.M.
10/11 às 19:15 · GostoNão gosto
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Victor Nogueira
Olá, Maria Mamede :-)
Deixei de escrever poesia. Fico-me às vezes pela prosa poética e sobretudo pelos escritos de raciocínios encadeados em alíneas e parágrafos com o máximo de palavras inequívocas :-)
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Foi bom ver-te por aqui e continuas com...... o Sabor do Olhar à tua disposição. Não sei se organizarei nele mais algum convívio virtual, pois os últimos tiveram fraca participação, ao contrários dos primeiros.
Bjo grande e amizade deste Kant_O :-)Ver mais
10/11 às 19:25 · Gosto
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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ELEGIA POR UMA CERTA JUVENTUDE


* Victor Nogueira
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Eram jovens
..........passeando como fantasmas
com fatos talhados à medida duma roda sem destino.
 .
Sorriam
e o sorriso era
.................uma vereda para lado nenhum
.................uma vida de sonhos amortalhados.
 .
Eram jovens
de gestos calculados
...............com mil olhos e
.......................dez mil bocas em cadeia
 .
 E no entanto
 para lá deste horizonte cinzento
 debruado a cetim
 as gaivotas (não) eram águias inatingíveis!




1991.03.20
Setúbal

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Lenda das Obras de Santa Engrácia

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Carlos Rodrigues
Não conhecias a lenda,Maga ? É bem bonita. O Arquiteto foi condenado e disse-se sempre inocente do que quer que fosse.A obra não estava acabada e à hora da morte ou da execução, ele disse pela última vez:
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" É tão verdade eu estar inocente,... como verdade é que esta Obra nunca será terminada " . Pois foi quase assim, durante anos e anos a fio.Só há bem pouco tempo conseguiram terminar a cúpula, pois sempre que o tentavam ( isto durou um ou dois séculos ) havia acidentes mortais, desabamentos, por via do assombro ou da maldição do Arquiteto. Agora a Igreja, perto de S. Vicente, é ou esteve para ser o Panteão Nacional ( acho que agora é na Igreja de S. Vicente ). Engraçado, não é ?
há 3 horas
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Victor Nogueira Carlos - A Igreja de Santa Engrácia, agora Panteão Nacional Republicano, foi dada por terminada mas sem as torres sineiras do projecto inicial. Há outros Panteões: o dos Jerónimos (Lxa), misto, e outros reais e em mosteiros - o de S. Vcente de Fora, (Lxa), da Batalha, de Alcobaça e de Santa Cruz (Coimbra), sem falar na Igreja do Mosteiro de Santa Clara a Velha (Coimbra)
há 6 minutos ·
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Lenda das Obras de Santa Engrácia

Diz a lenda que Simão Pires, um cristão-novo, cavalgava todos os dias até ao convento de Santa Clara para se encontrar às escondidas com Violante. A jovem tinha sido feita noviça à força porque o seu pai não estava de acordo com o amor de ambos.
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Um dia, Simão pediu à sua amada para fugir com ele. No dia seguinte, Simão foi acordado pelos homens do rei que o vinham prender acusando-o do roubo das relíquias da igreja de Santa Engrácia, que ficava perto do convento. Para não prejudicar Violante, Simão não revelou a razão porque tinha sido visto no local. Apesar de invocar a sua inocência foi preso e condenado à morte na fogueira. A cerimónia da condenação tinha lugar junto da nova igreja de Santa Engrácia, cujas obras já tinham começado. Quando as labaredas envolveram o corpo de Simão, este gritou que era tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem.
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Certo é que as obras da igreja iniciadas à época da execução de Simão pareciam nunca mais ter fim. De tal forma, que o povo se habituou a comparar tudo aquilo que parece não ter fim às obras de Santa Engrácia.



Como referenciar este artigo:
Lenda das Obras de Santa Engrácia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-11-29].
Disponível na www: .

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domingo, 28 de novembro de 2010

Está sol ...

* Victor Nogueira
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Está sol e em Luanda sol significa calor. Mas ao fim de 44 anos num país estrangeiro para mim, ainda não me habituei: estar sol com céu azul e brilhante rima também com frio gélido ! Malhas que o Império tece, jaz morto e apodrece o menino de sua mãe 
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cãtygas d'Amigo, Coitas d'Amor seguidas dum Madrigal três Sonetos e seis Quartetos heróicamente celebrados por Victor Nogueira

a quinta-feira, 4 de Novembro de 2010 às 0:26
Victor Nogueira
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SOSPIROS, CUYDADOS, PAYXOES DE QUERER,
SE TORNAM DOBRADOS, MEU BEM SEM VOS VER (Garcia de Resende)
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Sem feitio nem jeito
No mundo caminhando
Esta dor no meu peito
Levo, rindo e chorando!
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Ah!Ah!Ah!Ah!Ai!Ui!
Á procura d'amor
Ao teu encontro fui
Depressa, sem calor!
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É tam grande trysteza
Amar ssem sser amada
Que nam vejo beleza
Ssem ti, bem a meu lado
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 Belas, d'amigo são,
Cãtygas medievais
Chora meu coração
Ay, já nam posso mais!
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Ruiz, Camões não sou
Mas muytos mil beijinhos
E abraços te dou
Nam fiquemos mal, sózinhos!
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Oh! Ribeyras do mar
Que tendes mil mudanças
Minha dor e lembranças
Levai; trazei seu amar!
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O Ssol bem escurece
Cai, a noite se vem
Minha alma nam falece
Se és comigo, meu bem.
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Paço de Arcos 1989.08·30 
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SÃO TRISTE MADRIGAL E MELANCOLIA                                8909.153.0 / 2.045



Pus a bordada toalha de renda,
No candelabro acendi a vela,
Alindei a mesa com trigo e rosas,
Preparei o vinho e a codorniz.
Em surdina a música e a prenda,
Feliz contigo, poema na tela:
Ternura e beleza mui preciosas.
Mas faltaste ao amador-aprendiz;
O  jantar lixou-se, não estou feliz!
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DE PEDRA SOIS VÓS, COISA DURA?


Á minha porta bateu a Joana
Ar tímido, de não sobressair,
Com jeito, fala de sol a sorrir,
Deixando-me preso, bela magana,

Mas seu coração por mim não abana,
Nem no  meu canto vem ela cair
;Bem a convido mas sem conseguir
Fazer com ela nossa boa cama.

Não terei genica ou desembaraço,
Nem ouro ou rosas p'ra ofertar,
E assim lograr que seu bem mereça?

De mãos vazias, sem seu regaço,
Por aqui ando, com mau respirar,
Sem que por mim seu desdém faleça.

1989.09.08 Setúbal
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João Baptista Cansado da Guerra
Viu a zorra, ficou preso em liana;
Por ela ficou gamado, sacana,
Sem a conquistar, no céu ou na terra.
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Será melhor abandonar a perra?
No mundo há muito outra bela magana
Com amor e doce mel que abana,
Sem que o bimbelo esteja em tal berra.
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Dizem, são iguais no comportamento;
Vero, querem todas o o mesmo paleio;
Chicote, desprezo e doce fel!
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Ora, adeus, vá bem longe este cimento
A tal macho e fêmea sou alheio;
Antes só, que encenar o papel!
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Setúbal 1989.09.09
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CANTAI OLIVAIS, CANTAI DE ALEGRIA.
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Oh! Mil-Sóis, teu aspecto bem cativa;
O andar, o sorriso radiante,
Doce, valerosa como diamante,
Que pena tu pareceres tão altiva.
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.Pode a tristeza andar-me fugitiva
Se tu, trigueira, de ar tão sonante,
Me pões em terra, mal esvoaçante,
Sem por isso ficares pensativa?
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.Há bem grande alegria se te vejo
Nesta minha sala, mesmo calada,
Com teu jeito manso e delicado.
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Céus e terra cantam vero desejo
De me convidares p'ra jantarada,
Com fogo mal preso, estralejado.
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Setúbal 1989.Setembro.05
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ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE
(Camões)



Nada tenho para te ofertar
Que saiba: joias, discoteca, dança;
No tempo busco vária temperança
que também vos dão bom estimar.

Um com outro bem quiz enredar,
Mas parece ser outra a contradança
Que muda a tua dor em festança,
Por aqui me deixando a vaguear.

Lembro a tua lábia, seio moreno,
Tua feição que muito me agradou;
A pele, doce ardor despertou
Que na barca me fez vogar, sereno,

Porém não está o meu coração pleno
De alegria, que por vós soou:
Nem grã Camões ou milionário sou
Para contigo navegar, no Reno.

Erros meus, má fortuna, amor ardente,
Não fazem da jornada bom soneto
Nem do navegante melhor "gineto"
Pois em ti está meu pensar, descontente'


Assim na Luísa Todi jazente,
Vogando entre o lume e o espeto,
Bem vivo, com meu bom ou mau "aspêto"
Buscando tua razão e paz, somente.



1989.Setembro.10 - Setúbal
As mil e uma noites - A lanterna de aladino

Rimances do Kant_O_XimPi (1) por Victor Nogueira

 a Sábado, 6 de Novembro de 2010 às 0:18
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.* Victor Nogueira
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RIMANCE DE JOAO BAPTTSTA

Andando João Baptista
Mal descansado da guerra
Caminhava pela pista
Do mar ao cume da serra,

Bem ao longe avistou
Um Paço no horizonte;
Pela ponte atravessou
Chegando ao cimo do monte.

Viu uma bela Princesa
Que na fonte se banhava,
Por ela ficando acesa
A flama que incendiava,

    - Que fazeis aqui senhora
    Dona da pele morena?
    A noite será cantora
    Se vossa mão for serena.

    - Por alguém vim em caminho
    Com muitas naus voando
    Mas não ficarei sozinho
    Se convosco for ficando.

Ouçam qual foi a resposta
Calmosa, doce, brilhante,
Sem temor de lua posta,
Precioso diamante.

    - Num crescendo de calor
    Nesta fonte mergulhada
    Por vós espero, senhor
    Não me deixeis assombrada.

    - Belo é vosso cavalgar
    Vosso desejo um espanto
    Vinde comigo arrulhar
    Alegre, mas sem quebranto.

E com esta fala doce
Se prendeu o cavaleiro
Contente como se fosse
Um artista, jardineiro.

    - Andando me fui chegando
    Para convosco encantar
    E ao ver-vos nesse encanto
    Passo a descansar.

    - Pois vosso olhar é botão
    Em busca do sol e do mar;
    Sereís bela sem senão
    Vinde comigo bailar.

    - E convosco bailo a noite
    Dedilhando esta guitarra
    Não há quem não se afoite
    Vendo a fruta sem a parra.

 Da fala ficou suspenso
 Um punhal no coração
 Com olhar lembrando imenso
 0 vale da solidão,

 Veio o gesto finalmente
 Negro de rosa dourado
 Rosmaninho com semente
 Em seu rosto acobreado,

 Cem mil águias voaram
 Mais, seguidas dum faisão
 E com leveza abalaram
 Silentes que nem trovão.

     - Convosco não bailo eu
     Bem gosto da liberdade,
     Ide-vos embora, oh! meu,
     Sou presa da soledade.

 Com esta fala malina
 A pensar ficou João.
 Era uma fala felina
 D'ensombrar o coração,

 Dez mil pássaros em viagem
 Sem nada no horizonte,
 Fechada aquela portagem
 Como arvore sem ponte,

     - Sinhá moça, a vida é jogo
     Sabemos nós muito bem;
     Ele há fumo sem fogo
     Sempre que tal nos convém.


 Como era belo seu sorriso
 D'encantar o navegar!
 À Princesa achou preciso
 Ver de novo seu falar.

     - Como tu desejas ficam
     Estrelas no meu olhar:
     Doçuras, beijos que picam,
     A brisa e o marulhar,

 Com esta fala ficou
 A Infanta Gabriela,
 Um pintarroxo voou
 P’ra lá do castelo dela.


1991.06.19 (2)
SETUBAL
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RIMANCE DO CONDE NIÑO


Ia o Visconde Niño
Pelo caminho real
Com andar bem pequenino
Por causa do areal.

Cavalgava noite e dia
Por rio, vale e montes,
Quando o sol refulgia
Bebia água das fontes.

Um falcão no ar voava
Em busca do céu d'anil
Com o seu olhar buscava
Mui para lá do redil.

Numa curva do caminho
Oh! céus, cantando estava
Só, num ermo sózinho,
Quem pelo Niño chamava.

Era uma fada princesa
Com um manto de jasmim
Envolto em muita sageza
Num campo de alecrim.

Com pós de perlimpimpim
Seus cabelos penteava
Enquanto um bom lagostim
No fogaréu se cozinhava.

Bom, soberbo, valioso,
Cálido refrigerante,
Um apelo precioso,
Raro, belo, cativante.

Parou Niño, o Visconde,
Em pose primaveril;
Ao chamamento respondeu
Mui garboso, senhoril.

Com um gesto desenvolto
Tirou, de breu, o capuz,
Com o cabelo revolto
Guardou o arcabuz.

O cavalo à rédea solta
Ali ficou a pastar,
Sua verde crina envolta
Na doce brisa do ar.

A viseira levantada,
Pé em terra, sem temor,
Ao coração descansado
Cantou pacificador:

"Sinhá moça, és tão linda!
Com teu corpo donairoso
Comigo vem na berlinda
Mais teu mosto precioso;

Ao ver-vos sinto o luar
Aquecer-me sem ardor."
Disse o Conde sem pasmar,
armado em versejador.

"De vós não quero eu ser
Prisioneira, cativa,
Ide-vos, ensandecer
Qualquer outra nativa."

"Eu não vos quero guardar
Como o vento vós sois livre,
Assim ide cavalgar
Que não sóis do meu calibre!"

De negro ficou o céu,
De branco, o Visconde Niño,
Na montanha um escarcéu
Mui descontente o malino!

"Chorai, gaivotas, chorai,
Por dona tão altiva,
Na tempestade vogai
A nau presa, fugitiva."

No seu cavalo real
O herói vai abalar.
O canto acaba mal
Se o Conde não ficar?!


1991.Maio.23/28 - Setúbal
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*****.
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RIMANCE de D.LUCIANO ROBERTO RODRIGO


D. Luciano é marinheiro
Navegando em alto mar;
É bem malino artilheiro
Sem terra onde aportar,

D.Roberto é pregoeiro
Caminhando pela terra dentro
Com bom fato sem dinheiro
Guardando novas do vento.

D.Rodrigo é narrador
De quadras ou verso branco,
Nas feições levando ardor
De ser como saltimbanco.

Luciano Roberto Rodrigo
Não é herói de novela;
Ide ouvir bem o que digo
Acerca de MarPorTela.

Mulher moça era aguardada
Com vera interrogação:
Seria colega apartada
No tempo da dispersão?

Finalmente a moça veio,
Trigueira como mil sóis,
Era pão, vinho e centeio
Num campo de gira-sóis.

Era outra MarPorTela,
Nunca vista e maneirinha,
Com ar doce, mui singela,
Cravo, rosa, porreirinha,

Era triste seu sorriso;
No seu magoado olhar
Sembrava ter muito siso!
Como iria navegar?!

Sendo mulher pensativa
Com seu ar muito sério
Parecia fugitiva
Com receio do despautério.

Tudo queria muito recto,
Direitinho, com acerto;
Sem mil voltas, mas directo,
P'ra matar o desconcerto.

Era sinhã moça bela,
Moça bela, d'encantar,
Raro se via à janela,
Palavrosa ou a veranear

Ao virar-se para D.Roberto
Seu sorriso era canção;
Papoila em céu aberto
Medrava por ele, não!

Mulher de maravilhar
Andando, mas sempre sózinha;
Ele com ela quis bailar
Liberto como andorinha.

- 01á, doce MarPorTela,
Como vais, bem ou mal?
Sem vagar vem à janela,
Vem bailar no arraial.

Mas a falar só ficava,
Nas mãos rolando o chapéu,
0 mote não encontrava:
Distante ficava o céu!

Pois na mansão dele entrava
Sem lhe lançar saudação;
Era andor que mal ficava
No meio da encenação.

P'ra Princesa tão galante
Mal era tal pedestal;
Parecia bem distante
Do povo, do maralhal.

Luciano Roberto Rodrigo
Tinha dela outra feição,
Bem ele quis ser amigo:
Não achou embarcação.

Se toda a vida é jogo
Biscando boa ou má vaza,
É preciso haver bom fogo
Para não ficar sem asa.

Pois a moça era gentil
Valerosa, bem sonante,
Não seria qualquer ceitil
Falso, de passar avante.

- Viva D. MarPorTela
Que fabricas, que me dizes?
Menina, deix'a sentinela
Não te cuides com juizes!

Luciano Roberto Rodrigo
Por si buscava El Dorado,
Cantando-lhe "Vem comigo,
Com andor bem torneado."

... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ...

Bem tocava o clarim!
Luciano em mau concerto,
Roberto perlimpimpim,
Rodrigo sem epicentro.

Palavras, tudo ilusões
De quem castelos no ar
Faz, em tarde com sezões,
Com sorriso a dar-a-dar.

Quem vir nisto semelhança
Com personagem real
Tire d'aí lembrança
Pois adivinha bem mal.

Nem tudo o que luz é d'ouro
Em verde campo florido:
Fica, porem sem estouro,
Rimanso, descolorido

1991.07.09/11
Paco de Arcos/Setúbal
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Rimance no deserto desertificado

 Sete anos andou João
 Vagueando p'lo deserto
 Sem vinho, água ou pão,
 Indo por destino incerto.

 A mingua d'água mirrava
 Sem o frescor duma fonte
 Em fome se esgotava
 Sequioso duma ponte.

 Em tiras estava o fato
 Sem veludo que se visse!
 Descalço o pé, sem sapato,
 A vida era uma sandice.

 Fizera grande viagem
 Com o coração cinzento
 Sem escudeiro nem pagem
 Ou pedra que fosse assento.

 Pela areia caminhava
 Joelho aqui, pé além.
 Na jornada trauteava
 Sem saber o que lá vem!

 Seu coração era grande
 Para quem lá coubesse
 Cantando mui radiante
 Como se mal não houvesse,

 Seu cavalo não era novo
 Cansado da caminhada
 De Luanda a Porto Covo
 Por terra já navegada,

 Que buscava não dizia
 Calado com seu segredo
 Por ver que não merecia
 Ser mal preso, em degredo.

 Seu caderno era escrito
 Com tinteiro invisível,
 Silencioso, sem grito,
 Em novela incredível.

 Então que é feito bela
 Deste rimance heroina,
 Personagem da novela,
 Tão certa como haver sina?

 Assim perguntava arraia
 Miúda como convém,
 Atenta ao rolar da saia
 Que na cintura mantém.

 Bem pesado é o fado
 De quem quer algo inovar
 Logo está ameaçado
 De não poder inventar!

 Não há princesa no conto
 Assim quero, pois então!
 Por isso aqui aponto
 0 que tenho na razão.

 Bem podeis vociferar
 0 cavaleiro vai sozinho
 Não tem quem acompanhar
 Indo só pelo caminho.

 "Sete anos serviu Labão ..."
 Assim Camões escreveu
 Mas não tem dona João
 Por nenhuma ensandeceu.

 Esta vida é um novelo
 Numa roca a girar
 Sem forma nem modelo
 Nunca para de rodar.

 Aqui nesta lazeira
 Em remanso vai surgindo
 Uma grande cantareira
 Verso a verso subindo.

 Deixemos o cavaleiro
 Seguindo a sua jornada,
 A caneta no tinteiro:
 Até 'manhã, camarada!



1991.06.20
SETUBAL