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De vez em quando tenho de interromper o meu bate-papo para tratar de outros assuntos. Fui há pouco a casa levar uns sapatos que estavam no sapateiro e aproveitei para trazer o rádio que neste momento está tocando. Mas o aparelho está cansado, tem mais de vinte anos de uso e trabalha com um volume de som ondulante.
Hoje é um grande dia. A Teresa já veio dar-me trabalho: fazer o levantamento das escolas primárias do município, sua localização em carta topográfica e respectivas populações. Depois seguir-se-ão creches, infantários e escolas preparatórias e secundárias, de modo a permitir a sua criação à medida das necessidades decorrentes do aumento ou construção em novas urbanizações.
Bem, vou interromper de novo a nossa conversa, para continuar as minhas leituras; presentemente ando às voltas com a "Peregrinação" do Fernão Mendes Pinto e com os "Sermões" do Pe. António Vieira.
Setúbal, 1986.06.05
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Hoje está uma brisa fresca, agitando as árvores além na rua e a roupa desfraldada nos estendais do prédio fronteiro. A Arminda come iogurte, enquanto lê um livro sobre legislação que encomendei e chegou hoje. Está sempre a comer e não sei se é da gravidez adiantada, se sempre foi assim, embora antigamente, quando ia ao Departamento de Pessoal, fosse magrinha.
No estirador a V. desenha fichas para os inquéritos que ela e outros jovens do OTJ irão fazer -levantamentos dos edifícios com interesse municipal e dos estabelecimentos de ensino escolar e pré-escolar. A V. tem 18 anos e tivemos de pô-la aqui no [meu] Gabinete, pois com o seu ar ingénuo e a vestimenta à punk já trazia os desenhadores ali na sala ao lado muito alvoreados. Enfim ...
Quarta feira vou à Câmara do Barreiro falar com o meu colega Rui (...), do Planeamento Urbanístico, para "cultivar-me".
(Entretanto chegou uma carta da Maria do Mar, plena de silêncio e sombra, pelo que estas linhas e outras foram arrumadas para um canto)
Setúbal, 1986, Junho
1 comentário:
Amargor contínuo; a decepção laboral, a decepção amorosa, a exposição da alma...a vida, por vezes, encarrega-se de nos proporcionar um marasmo, que nos invade até ao tutano...
Bj
Maria Mamede
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