O Arco da Praça de Espanha - Duas opiniões
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Este arco andou muito em bolandas na sua já longa vida. Imaginado por Manuel da Maia numa celebração do Aqueduto, era um dos mais majestosos da cidade, assim como o das Amoreiras. Esse ainda sobrevive no seu local original. Este desgraçado não
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Assim vejamos: mentes iluminados resolvem demoli-lo em 1938. Fica assim orfâ a rua e o actual Parlamento menos nobre. E a marca nas paredes, ragadas que foram.
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Os restos , pobres pedras, são despejados para o Convento das Francesinhas e depois para a Ajuda. Até 1988. O presidente Abecasis resolveu recolher as peças do puzzle e mandar colocá-las na Praça de Espanha. Mas resta um gigantesco enigma.
Como se reconstrói? Alguns dizem que faltavam pedras, outros os planos originais. O certo é que durante quase dez anos o panorama do Arco foi quase igual ao desta foto.
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Desde 1998, contempla indiferente o trânsito e a feieza da Praça de Espanha. É um monumento a qualquer coisa. Há quem diga que ele faz barulhos estranhos à noite, refila que se farta. Eu acho-o só encolhido e entediado. Deve estar a suspirar para que o mudem outra vez de sítio. Afinal um arco mimoso daqueles, não se fez para aquele perfeito desastre urbano que é a Praça de Espanha.
Todos os dias o olho e sinto pena, sem saber explicá-la muito bem. As pedras também sofrem.
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Intervenções na Cidade – Praça de Espanha
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* Ivo Poças Martins
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A proposta (resumo):
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(...) A praça de Espanha, embora situada no interior da cidade, tem um significado de lugar de transição. Funciona como um grande vazio urbano: um espaço arborizado contornado e cruzado por vias de grande fluxo. No seu centro, um arco triunfal, reaproveitado de outro local de Lisboa, marca timidamente que este espaço é também uma porta. O Arco triunfal, para além de lembrar algum esquecido feito histórico, celebra a ausência de muros: o seu derrube ou simplesmente o facto de não serem precisos. A liberdade de movimentos aumenta à medida que se expandem e diluem os limites da cidade. O espaço público representa uma conquista colectiva e a porta giratória monumental (à escala do espaço que serve) no lugar do antigo arco, relança o debate sobre a necessidade de conquistar este lugar de transição. A rotunda e a via rápida deixariam de existir como resposta imediata no desenho da cidade.
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Fica no entanto a memória do ritual antigo: o monumento, que se quer estático, induz o movimento de rotação dos carros. Os painéis de vidro e alumínio misturam as imagens que enquadram à transparência com as que reflectem. O museu, a embaixada, o teatro, a mesquita, o mercado e as casas ganham aqui um novo espaço de interacção à medida que o jardim isolado que escondia um monumento antigo vai sendo redescoberto. A praça recupera o seu significado de fórum servindo de suporte às actividades que a limitam.
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O que disse o júri:
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Excepcionalmente admitiu-se uma proposta de carácter “escultórico”: uma “porta giratória” sobredimensionada, para a Praça de Espanha, no lugar da Porta existente que se propõe deste modo devolver ao seu local de origem (São Bento). A Praça de Espanha pouco tem de praça, com esta proposta afirma-se o seu carácter de passagem rápida e motorizada, e chama-se atenção para o actual desenvolvimento das cidades inerente a uma ausência de “portas” ou limites. Bem argumentada, esta escultura é também uma metáfora que actualiza o sentido de Porta Romana numa Europa sem fronteiras.
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Contributo para uma reflexão:
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A intervenção de Ivo Poças Martins constitui-se como provocação urbana; uma grande peça escultórica – a “porta giratória” – serve de metáfora para um espaço de transição que, desse modo, se vê abandonado de um uso real. Um vazio preenchido de movimento, uma não-praça oculta pelo ritmo da vida quotidiana.
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1 comentário:
Olá
Realmente este Arco não fica nada bem onde está colocado. Parece um monte de Pedras que não se podem mexer e ir embora como que seja um gigante na terra dos liliputianos...
Beijos estrelados
de
Belisa
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