Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

sexta-feira, 27 de julho de 2007

In Memoriam do que foi o Poeta da Liberdade


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«Trova do Vento que Passa»
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Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
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Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
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Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
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Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
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Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
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Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
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E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
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Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
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Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
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Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
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E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
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Ninguém diz nada de novos
e notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
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E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
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Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
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Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
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Manuel Alegre

O MENINO PERDIDO


* Pablo Neruda (1904-1973)


Lenta infância de onde como de um pasto comprido
Cresce o duro pistilo, a madeira do homem.
Quem fui? O que fui? O que fomos?
Não há resposta. Passamos.
Não fomos, Éramos. Outros pés, outras mãos, outros olhos.
Tudo foi mudando folha por folha na árvore.
E em ti? Mudou a tua pele, o teu cabelo, a tua memória.
Aquele não foste.
Aquele foi um menino que passou
Correndo atrás de um rio, de uma bicicleta,
E com o movimento foi-se a Tua vida com aquele minuto.
A falsa identidade seguiu os teus passos.
Dia a dia as horas se amarraram,
Mas tu já não foste, veio o outro,
O outro tu, e o outro até que foste,
Até que te arrancaste do próprio passageiro,
Do trem, dos vagões da vida, da substituição, do caminhante.
A máscara do menino foi mudando,
Emagreceu a sua condição enfermiça,
Aquietou-se o seu volúvel poderio:
O esqueleto se manteve firme,
A construção do osso se manteve,
O sorriso, o passo, o gesto voador,
O eco daquele menino nu que saiu de um relâmpago,
Mas foi o crescimento como um traje!
Era outro o homem e o levou emprestado.
Assim aconteceu comigo.
De silvestre cheguei a cidade, a gás,
A rostos cruéis que mediram a minha luz
E a minha estatura, cheguei a mulheres que em mim
Se procuraram como se a mim tivesem perdido,
E assim foi sucedendo o homem impuro,
Filho do filho puro, até que nada foi como tinha sido,
E de repente apareceu no meu rosto um rosto de estrangeiro
E era também eu mesmo: era eu que crescia,
Eras tu que crescias, era tudo,
E mudamos e nunca mais soubemos quem éramos,
E às vezes recordamos aquele que viveu em nós
E lhe pedimos algo, talvez que se recorde de nós,
Que saiba pelo menos que fomos ele,
Que falamos com a sua língua,
Mas das horas consumidas
Aquele nos olha e não nos reconhece.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

O MUNDO É COMPOSTO DE FAZENDA E MUDANÇA



Cada um de nós é só ele próprio
E a sua boa ou má circunstância,
Procurando em tudo uma substância,
Com arte ou não, o alfa milenário.
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Há na terra quem faça santuário
Do sentir ou razão, em abundãncia;
Mas é do cacau terna a fragância
Do fado ter um bom ou mau solário.
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O tempo bem diz que é tudo ilusão;
O amor, doçura, felicidade,
Em lixo ou pó substanciando.
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Honra, beleza, sentir, no caixão;
Erramos, pelo campo ou na cidade,
No mundo, bem ou mal, vagueando.
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Victor Nogueira

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Ao (es)correr da pena desbloqueado

-----Mensagem original-----De: Blogger Help [mailto:support@blogger.com]

Enviada: quarta-feira, 25 de Julho de 2007 20:47
Para: kantoximpi@----- {U 521445776223 B 7871625280202208315}
Assunto: Re: [#178063059] Blogger Beta non-spam review and verification request: http://aoescorrerdapena.blogspot.com/

Hello,

Your blog has been reviewed, verified, and cleared for regular use so thatit will no longer appear as potential spam. If you sign out of Blogger and sign back in again, you should be able to post as normal. Thanks for yourpatience, and we apologize for any inconvenience this has caused.
Sincerely,
The Blogger Team

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Victor Nogueira

Antecedentes

Ao (es)correr da pena

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Recebemos o seu pedido de desbloqueio a 24 de Julho de 2007. Em nome dos robots, pedimos desculpa pelo bloqueio do seu blogue protegido contra spam. Aguarde pacientemente enquanto analisamos o seu blogue e verificamos se o mesmo está protegido contra spam.

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domingo, 22 de julho de 2007

Personagens de Lisboa (1)

Monumento ao ardina - Largo de S. Roque, Lisboa


António Ribeiro, o Judeu (dramaturgo)
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No coração da Baixa Lisboeta, junto ao Bairro Alto, encontra-se a zona do Chiado. Nela está a estátua do poeta homónimo, inaugurada a 18 de Dezembro de 1925, por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, para homenagear o poeta. A estátua, de bronze, é da autoria de Costa Mota (tio) e a base, em pedra lioz, de José Alexandre Soares. Nela se vê a representação do poeta sentado num pequeno banco, envergando o hábito de monge, sorrindo com escárnio, numa posição arqueada, de convite. (Wikipedia)


Fotografia de Antonio Primero de Ribeira




Em 1775 foi inaugurada a estátua equestre de Dom José I, em Lisboa,


no dia do 61º aniversário do monarca. Os festejos duraram três dias e foram dos mais grandiosos que a corte já vira até então.




Lisboa. Estátua de Camões - 1868

Praça e monumento de Luiz de Camões


Fotografia, Moreira, 1868 In Album, Moreira Photographo, [1868], ft. 1BN EA. 126 V.

Autoria Victor Bastos, entre 1860 e 1867 Inauguração contém a estátua de Luís Vaz de Camões, bem como as de Fernão Lopes, Fernão Lopes de Castanheda, Francisco Sá de Menezes, Gomes Eanes de Azurara, Jerónimo Corte-Real, João de Barros, Pedro Nunes e Vasco Mouzinho de Quevedo. Foi a primeira estátua pública dedicada a um escritor. O pedestal da estátua, em pedra, mede 7,5 m, sustentando a estátua figurativa de Camões, em bronze, com a altura de 4 metros.



Monumento a Eça de Queirós,

Largo do Barão de Quintela, Armando Serôdio, 1959, Arquivo Municipal de Lisboa - AFML, A29234

Autoria Réplica do original de Teixeira Lopes, de 1903

Inauguração 26 de Julho de 2001
Réplica em bronze da estátua original (em pedra) da autoria de Teixeira Lopes, inaugurada no mesmo local em 1903. O original foi removido para o Museu da Cidade, em consequência dos repetidos acto de vandalismo que mutilaram a estátua.O escultor inspirou-se na frase do escritor "Sob a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia", e representa o escritor segurando uma figura feminina, representando a alegoria da Verdade.





Manuel Maria Barbosa du Bocage



Fernando Pessoa nas ruas da baixa lisboeta


Fonte: Livro "Fernando Pessoa na Intimidade", de Isabel Murteira França.

Publicações Dom Quixote, Lisboa 1987.

Lisboa . Cafés com História



Fernando Pessoa no Martinho da Arcada



Café Nicola


Café a Brasileira do Chiado

Regressado do Brasil, Adriano Teles abriu em Portugal a rede de cafés A Brasileira, tornando-se no maior exportador de cafés do Brasil. A Brasileira abriu as portas no Chiado em 1905. Em 1908 resurgiu como um elegante salão de café com mobiliário de carvalho em estilo Renascença, talhas douradas e espelhos nas paredes

Estátua de Fernando Pessoa, da autoria de Lagoa Henriques


Café A Brasileira do Chiado, 1911, Joshua Benoliel, AFML-A4220

Data 19 de Novembro de 1905
O café A Brasileira foi fundado por Adriano Telles, o qual vivera largos anos no Brasil e aí mantinha contactos para a importação de bom café Foi o primeiro estabelecimento a vender cafés moídos em frente ao cliente, e foi aqui que nasceu o termo "bica", utilizado pelos lisboetas para designar uma chávena de café. A partir de 1920, torna-se o centro onde se reúnem as tertúlias lisboetas, frequentado por escritores, artistas, gente do espectáculo, das ciências, revolucionários, etc.O interior de A Brasileira foi remodelado nos anos sessenta, substituindo-se os quadros existentes por outros, da autoria de renomados pintores, como João Hogan, Manuel Baptista, Joáo Vieira, Azevedo, Vespeira, Eduardo Nery, Palolo e Noronha da Costa. Frequentado, entre outros ilustres, por Fernando Pessoa, a esplanada possui uma estátua do Poeta, sentado a beber café, da autoria de Lagoa Henriques.

Lisboa - Bairro Alto


Teatro da Trindade - pormenor





Palácio do Marquês de Pombal - alçado lateral


O Palácio Pombal, classificado como imóvel de interesse público, foi mandado edificar por Sebastião Carvalho e Melo, avô do futuro Marquês de Pombal, no século XVII. Após o terramoto de 1755, o Marquês de Pombal procede a uma profunda remodelação e redecoração do edifício. O palácio passa, então, a caracterizar-se por uma extensa implantação em L, constituindo-se em quatro núcleos edificados que se articulavam com um cenográfico jardim em patamares. O que hoje subsiste corresponde à parte central e principal do palácio, na posse do município de Lisboa desde 1968. Do interior destacam-se o excelente conjunto de tectos em estuque de composição ornamental e figurativa, o oratório e o interessante conjunto de silhares de azulejo.













Bairro Alto, s.a., c. 1898 a 1908, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML - A1614
No local onde foi construído a Vila Nova de Andrade, em Dezembro de 1513, surgida num alto, desenvolveu-se ao longo do séc. XVI e transformou-se num bairro, o Bairro do Alto. Freguesia: Encarnação



Bairro Alto - Convento dos Inglesinhos

Lisboa Ribeirinha (2)


Lisboa no século XVI





Terreiro do Paço - Arcadas Pombalinas






Terreiro do Paço - século XX







Terreiro do Paço - século XIX






Terreiro do Paço - seculo XVI





Terreiro do Paço no séc. XVII- autor não identificado



Terreiro do Paço - Após o terramoto de 1766 iniciava-se a construção da Baixa Moderna, de ruas largas e dotadas de redes de esgotos
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Terreiro do Paço, em Lisboa, local da experiência com o Passarola
Óleo de Dirk Stoop, no Museu da Cidade, em Lisboa/Portugal
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Essa primeira experiência foi feita no pátio da embaixada na Casa da Índia (castelo de São Jorge, em Lisboa), tendo o aparelho aterrado no Terreiro do Paço. Na segunda, em outubro daquele ano, "o balão subiu novamente, mas foi de encontro a uma parede ou cimalha e incendiou-se igualmente", conforme o historiador Visconde de Taunay. Ocorreu ainda uma terceira tentativa, em 1709, também na capital portuguesa, em que o balão, denominado Passarola, subiu quatro metros, considerando-se a experiência exitosa. A julgar pelos raros e imperfeitos desenhos que restaram, e pela parca documentação que sobreviveu ao grande terremoto de Lisboa em 1755, Bartolomeu de Gusmão estaria a bordo de seu aeróstato no momento em que ele subiu, tornando-se portanto o primeiro homem do mundo a elevar-se aos ares por meio de um balão.

Lisboa Ribeirinha (1)



VARINAS NO CAIS DA RIBEIRA - LISBOA 1909

Varinas na venda do peixe no cais da Ribeira em Lisboa (Cais do Sodré) 1909 - outra das actividades dos Portugueses que se deslocavam da sua Terra à procura de melhores condições de vida. As Varinas (vendedoras de Peixe),a maior parte delas vinha de Ovar.




BARRA DE LISBOA VISTA DO CAIS DO SODRE


Barra de Lisboa, vista do Caes do Sodré [Visual. - [Queluz : Núcleo - Centro de Publicações Cristäs, D.L. 1983]. - 1 reprodução de obra de arte : p&b ; 18x23 cm. - Rep. de uma gravura com vista da época

Deambulando por Lisboa (2)

Do Terreiro do Paço ao Cais do Sodré

* Victor Nogueira


Olho para o Tejo à minha frente, cintilante como prata. Um ferry-boat acostado espera por ninguém, enquanto barcos sulcam o rio e gaivotas esvoaçam sobre ele. O autocarro vai se enchendo, ouço os passos das pessoas que sobem para o 2º piso, o lugar ao lado do meu é ocupado por uma senhora idosa, de preto. O cobrador diz que já não há mais lugares e dentro em pouco o Tejo ficará para trás.(MCG - 1973.01.02)
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Defronte a mim o Tejo refulge como um espelho. (1) Passa uma fragata e há barcos ancorados. O ferry-boat prepara-se para acostar. Passam pessoas ali em baixo na rua e as gaivotas evolucionam sobre o rio. Estou no 2º piso dum autocarro, aguardando que ele parta. Começou a andar. Até já. (...) Almocei com a Emília [Dias]. O almoço no "Isaura", ali na Av.Paris, estava bom e falámos dos nossos velhos companheiros de lides associativas - quantos já se integraram no sistema? Outros continuam a lutar, alguns mesmo à custa da própria liberdade. (MCG - 1973.10.02)
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P'ráqui estou num café no Cais do Sodré. Os autocarros e os eléctricos passam lá fora na rua. O ambiente está ruidoso e o tempo ameaça chuva. A sandes e o galão estavam uma merda. (São 18:30 de sábado) (...) Parece que vai chover. Esperemos que consiga chegar a casa antes do aguaceiro, pois não trouxe guarda chuva. (...) E por aqui me fico hoje. Tenho de ir apanhar o comboio [para Paço de Arcos]. Não avisei que ia jantar e vai haver sermão, pois não contam comigo. (MCG - 1974.10.19)
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Já era tarde para jantar em Paço d'Arcos e dei uma volta, acabando por vir parar a um restaurantezeco aqui no Cais do Sodré, mesmo na rua dos bares e das prostitutas. Na cadeira ao meu lado ronrona um enorme gato. (MCG - 1975.03.25).
Amanhã regresso a Évora com o João Lucas. Vim ontem com o Viegas e a Violete; chegámos já tarde a Lisboa, onde jantei na tasca habitual lá para o Cais do Sodré, onde passeia o "bas fond" cá da cidade: prostitutas, chulos, clientes e chuis. (1975.06.29)
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O Chiado, o Bairro Alto e a Madragoa
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De manhã fomos a um mercado no bairro da encosta do Castelo (2). Depois visitámos o Castelo de S. Jorge, que é grande. Gostei bastante de vê lo. Regressámos ao Hotel, tendo antes ido à Igreja do Carmo, subindo no elevador [de Santa Justa]. As ruínas nada têm de especial, mas há lá um xe Museu Arqueológico interessante, com objectos da Idade da Pedra, túmulos, múmias e outras coisas do meu agrado. (...) (3) (1963.09.10 - Diário III)
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Custou, mas na camioneta, rumo a Lisboa, senti me renascer, como se tivesse saído dum opressivo ambiente tumular. Esta Lisboa do miúdo que choraminga. E do velhote, límpidos olhos azuis, humildemente vestido mas não enxovalhado, que é brutalmente arrastado para o passeio por um pai rude, exaltado, mal barbeado, que lhe torceria o nariz, o esmigalharia, lhe daria duas bofetadas,... se ele não estivesse bêbedo. Enquanto aquele retorquia: "Estavam a maltratar os pombinhos", sem muita firmeza, de olhos perdidos sabe Deus onde Ou do miúdo que me aponta uma pistola: "Mãos ao ar", num Chiado repleto de gente azafamada. Que é admoestado por uma mãe derretida. Que se perdeu no rio das gentes que sobem ou descem. Das duas "meninas bem" que, especadas no passeio qual escolhos, lançam olhares furibundos ao pirralho esfarrapado e sujo que lhes aponta uma espingarda de lata. Do café Nicola, donde sou desalojado sem cerimónia, pois um "garoto" e um "croissant" não permitem a ocupação indefinida de uma mesa para escrever, especialmente à hora de almoço. Dos vendedores ambulantes, que jogam ao corre corre com os polícias, de tabuleiros cheios de quinquilharia, jogando ao passo passa com os automóveis.(NSM - 1968.12.27)
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Lisboa está cheia de movimento e colorido. (NSF - 1969.12.19)
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Escrevo no antigo laboratório da Farmácia [Sanitas, no Largo Luís de Camões], no tempo em que as mezinhas eram manipuladas aqui nas traseiras. São cerca de 17:00 e os empregados tomam cházinho com bolos. (...) Ah! o cházinho é porque a minha tia-avó Esperança [que é a Directora Técnica] faz... 71 anos. (MCG - 1973.10.31)
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São quase 19 horas e hoje o meu poiso para escrever é a Praça Luís de Camões o qual, imponente no alto de pedestal, rodeado de pombas, "olha" para o movimento dos carros e pessoas. A base da estátua está enfeitada com faixas bicolores da bandeira portuguesa. (MCG - 1974.10.23)
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A toda a largura da 1ª página a "Capital" anuncia que as "Eleições não serão alteradas". (...) Estou aqui num cafézito no [Largo de] Camões e pergunto me porque está ali a estátua do autor d´"Os Lusíadas" envolta com as cores da bandeira portuguesa. (4) Pergunta para a qual não encontro resposta. Vim há pouco da Livraria Bertrand onde comprei alguns livros para o 7º ano. (MCG - 1974.11.21)
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Esta é a zona do Bairro Alto, de ruas estreitas mas mais largas que as da encosta do Castelo, do outro lado do vale. O seu traçado é ortogonal, limitado a sul pela Madragoa, outrora bairro de pescadores e anteriormente de negros para duro trabalho, a NW pela Lapa, bairro aristocrático, e a Este pelos Largos do Carmo e do Chiado. Pela Madragoa (5) havia muitos conventos e por toda esta zona inúmeras igrejas, grandiosas, quase como se fora porta sim porta não, bem como palácios. (6) Até 1755 desenvolveu-se o Bairro Alto. Aqui tinha o Marquês de Pombal o seu palácio citadino, tal como outros nobres, mas após a expulsão dos jesuítas e perseguição aos nobres pelo Marquês de Pombal o bairro ganhou outras características, nele coexistindo com populares, que mais tarde, com fados, fadistas, facadas e prostitutas lhe deram outro cariz. Está hoje mais civilizado, embora dele tenham saído por encerramento ou falência jornais que fizeram época, como o Século e o Diário de Lisboa. Deste tempo subsiste a Casa da Imprensa e da cultura dão notícia os inúmeros alfarrabistas, alguns museus, nenhum cinema e os teatros de S. Carlos, S. Luís e da Trindade, o Gymnásio transformado em Centro Comercial cintilante em cujo interior subsistem troços da muralha fernandina, medieval.
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Na rua do Alecrim, ligando o Cais do Sodré ao Chiado, encontra-se uma estátua célebre, de Eça de Queiroz tendo nos braços uma figura feminina desnudada, interpretação da frase do escritor Sobre a nudez forte da verdade o manto diáfano da fantasia. Defronte fica o palácio do Barão de Quintela, capitalista dos finais do século XIX que ficou tão escandalizado com tal despautério que mandou cerrar as janelas que davam para o largo e para a estátua!
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A maior parte dos cafés do Chiado (e do Rossio) fecharam, um deles transformado em gigantesca loja de música, dele se conservando apenas a escadaria, como do cinema Éden se conservou apenas a fachada, e outro, dos alentejanos, ao lado do Teatro D. Maria II se converteu em estabelecimento bancário. O Nicola, após muitos anos, reabriu ao público, sendo um ex-libris da cidade, como a Brasileira do Chiado, com a sua fachada arte nova ou, para outra banda, na Praça do Comércio, o Martinho da Arcada, por onde poisou o poeta Fernando Pessoa, que por estes lados passou parte da sua vida lisboeta, cidade onde nasceu defronte ao Teatro de S. Carlos. São cafés com uma tradição de intelectualidade, do tempo em que havia tertúlias e outro convívio. Alguns, hoje em dia, como a Brasileira do Chiado, têm mau serviço e são procurados sobretudo pelos estrangeiros, que neste tiram fotografias sentados na cadeira vazia ao lado da mesa e do Fernando Pessoa, ali mesmo ao pé do poeta Chiado e da estátua do Camões, a quem pouco ligarão, tanto como ao cauteleiro que no largo de Trindade Coelho, defronte da Igreja de S. Roque, a caminho de S. Pedro de Alcântara, está rodeado de pombos. Doutros apenas ficou o nome, como o Chave d'Ouro, A Brasileira do Rossio ou o Mónaco. Com nome mas resistindo ainda a pastelaria Suíça, outrora da gente bem, como a Versalhes e a Ferrari, estas no Chiado.
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Zona intelectual e comercial, o Chiado tem perdido estes atributos, com o desenvolvimento urbano e a mudança de modos de viver. O incêndio de 25 de Agosto de 1988 só foi possível devido à desertificação nocturna da zona, levando à destruição de estabelecimentos emblemáticos como os dos Grandes Armazéns do Chiado, o Eduardo Martins ou o Grandella (este último capitalista progressista ao tempo, com vila operária em Benfica) Entre o Chiado e o Príncipe Real encontram-se inúmeras lojas de alfarrabistas, para além de antiquários na rua D. Pedro V. Por esta rua adiante se vai dar ao Largo do Rato, passando pelo jardim do Princípe Real (7) e pela Faculdade de Ciências, junto à qual existe o Jardim Botânico, que remonta ao último quartel do século XIX. No trajecto encontram se o elevador da Glória e, logo ao lado, o jardim de S.Pedro de Alcântar, com miradouro com vista panorâmica para a Avenida e encosta coroada pelo castelo de S. Jorge.
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Entre a Calçada do Combro e Santa Catarina situa-se mais um dos miradouros de Lisboa, este com vista para o Tejo e zona portuária, com uma pequena esplanada e uma medonha estátua do Adamastor, de boca aberta, olhos esbugalhados e cabelo revolto, emergindo das ondas do oceano. (8) Perto situa-se o elevador da Bica, que liga esta zona a S.Paulo, lá em baixo. (Notas de Viagem, 1998.Maio)
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1 - Será devido a este fulgor que o estuário é conhecido por ... Mar da Palha?
2 - Seria a Feira da Ladra? Era uma 3ª feira.
3 - Este Largo do Carmo haveria de ficar na história pelo que nele ocorreu alguns anos depois. Foi no Quartel da GNR, no antigo Convento do Carmo, que se refugiou Marcelp Caetano, Presidente do último Conselho de Ministro do fascismo, e que nele entrgou o poder ao General Spínola, para que este não caísse na rua. Tempos depois quem caíu foi o General, então 1º Presidente da II República. Quanto ao povo, esse viu o poder escapar lhe pouco depois, dele não sentido o cheiro e a embriaguez senão por instante breve. No entanto no lajedo do Largo ainda lá está uma inscrição referindo o oficial que comandava as forças revoltosas, o capitão Salgueiro Maia, a quem o novo regime democrático em vida recusou uma pensão que no entanto atribuiu a dois Pides, entre os quais Rosa Casaco, que chefiou a brigada que assassinara em Badajoz o Generel Humberto Delgado, cuja campanha eleitoral para a Presidência da República, em 1958, fez tremer o regime fascista. Mas isto são outras histórias (1998.Maio)
4 - Já anteriormente referira fenómeno idêntico.
5 - O bairro do Mocambo deu origem aos bairros da Lapa e da Madragoa, resultando a denominação deste da corrupção de Mandrágora, planta afrodisíaca muito utilizada pelas prostitutas que actuavam nessa zona ou, segundo outros, dum convento lá existente, das Madres de Goa. Qualquer que seja a origem, este entrelaçar da devassidão com a santidade não é escandalizável, pois os conventos masculinos e femininos muitas vezes eram antros de luxúria. Dizem que S. Bento estava ligado ao Quelhas por um túnel subterrâneo, para facilitar a vida a frades e freiras. E D. João V, não tinha por amante a Madre Paula, do Convento de Odivelas? E já agora, mocambo eram as choças para onde fugiam os escravos negros, sendo também hoje em dia a marca dum café de mistura.
6 - Com tanta igreja e convento, quem frequentaria uns e sustentaria outros? É bem verdade que testemunhos dos séculos XVII e XVIII indicam que nem todos os frades e freiras viviam bem, havendo muitos que pouco se distinguiam de vagabundos esfarrapados.
7 - Este jardim está ladeado de palacetes contruídos por brasileiros, i.e. , emigrantes enriquecidos no Brasil, e dele se avistam maravilhosos pôr dfo sol para lá das torres e do zimbório da Basílica da Estrela.
8 - Conta-se que deste miradouro Junot, impotente, viu a família real portuguesa demandar a barra rumo ao Brasil, daqui derivando a expressão "ficar a ver navios"

sábado, 21 de julho de 2007

Lisboa e a vida quotidiana - Memórias Dispersas


* Victor Nogueira

1962

O movimento nas ruas de Lisboa é enorme. Neste dia andei nas escadas rolantes pela 1ª e comi um cachorro quente, também pela 1ª , tal como vi também televisão pela televisão 1ª vez. Foi um dia em cheio.(1) (1962.12.15 - Diário III)
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Andei de metropolitano pela 1ª vez. (1962.12.17 - Diário III)
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1967
Não conhece Lisboa? Então falemos um pouco desta tão cantada cidade, paraíso dos turistas. Podemos talvez fazer umas comparações com o Porto. Como todas as grandes cidades tem ruas ladeadas de casas, umas velhas, outras novas, automóveis, gente, muita gente, barulho (de prédios em construção, de buzinas, de travagens, pessoas que falam, pessoas de todos os feitios, para todos os gostos). É mais alegre que o Porto: mais luminosa, mais ampla, com muitas ruas modernas, tal como em Luanda. Mas, como no Porto, também possui os seus bairros antigos, de vielas estreitas e tortuosas [como na ribeira], tão estreitas que o vizinho do prédio em frente facilmente nos dá uma "bacalhoada". Esta é a parte que eu conheço pior. As outras são me mais familiares. Gosto de andar por estas ruas, cheias de gente, que anda em todas as direcções, com os mais variados destinos. Gosto... e não gosto. Podemos andar à vontade, sem encontrar alguém conhecido. Mas... nem sempre nos agrada a solidão que transpira por estas ruas. Cada qual preocupa se quase exclusivamente consigo; é o preço das grandes cidades, onde os homens frequentemente se transformam em máquinas, em autómatos. Enganar me ei ao dizer que no Porto respira se um ar mais humano, menos artificial ?!!! De qualquer modo foi esta a impressão que me ficou da visita feita esta Páscoa e confirmada esta semana.
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Mas entre o Porto humano, que me atrai, e esta Lisboa alegre, sem dúvida, cheia de sol, mas por vezes fria, irritante, continuo a preferi la. (MFR - 1967.08.02)
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Que mais contar? Começou o frio, o suplício das quatro ou cinco mangas, do Chamberlain - vulgo guarda-chuva - as caminhadas por ruas escuras alumiadas - aqui e além - por um candeeiro; alguma vez [em Angola] eu sonhei ir para as aulas ainda... de noite ?!!! O Sol agora dá-lhe para isto, abandona cá a malta para vos fazer [no hemisfério sul] umas visitas mais prolongadas. (ADP - 1967.11.21)
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Sábado choveu bastante aqui em Lisboa; isso pouco me afectou se não considerar que cheguei a casa completamente encharcado: calças, sapatos, casaco, enfim, de manhã tomara banho de chuveiro, de tarde banho de chuva! De assinalar um relâmpago enorme que iluminou a noite, cerca das 19 horas, seguido dum enorme estrondo. Deduzo que foi o que caiu sobre o edifício da Rádio Renascença, Às 7 da manhã de domingo um estrondo enorme que me parece ter abalado a casa - soube depois que tinha explodido um paiol nos arredores de Lisboa. E pela leitura dos jornais tomei consciência da extensão e gravidade do temporal: avultados prejuízos materiais e - segundo os jornais, dezenas e dezenas de mortos. Felizmente e porque Campo de Ourique não teve grandes prejuízos, nada sofri. O tempo serenou e arrefeceu. (NSF - 1967.11.27) (...)
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As Associações de Estudantes de Lisboa [e a JUC - Juventude Universitária Católica] resolveram solidarizar se com as populações sinistradas, prestando os estudantes o auxílio que puderem, [desobstrução de casas e caminhos, distribuição de alimentos e vestuário, vacinações, etc.] formando se em cada Escola três subcomissões com actividades específicas: Mobilização, Donativos e Propaganda (JCF - 1967.11.28)
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1968
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No dia 21 de Fevereiro os estudantes de Lisboa pretenderam fazer uma manifestação de protesto contra a guerra no Vietname, não aceitando a pesada responsabilidade que os americanos pretendem dividir com o mundo ocidental. Essa manifestação culminaria com a entrega dum abaixo assinado. (...) A manifestação estava marcada para defronte da Embaixada dos EUA, na Av. Duque de Loulé, para a mesma hora da chegada do Almirante Américo Tomás da sua visita à Guiné. Pelo que me contaram a polícia de choque e os cães polícias (para quê tanto aparato ?!) obrigaram os estudantes a dispersar. Estes foram até à Avenida Almirante Reis e ali, encurralados, foram presa fácil para a Polícia de Inducassão e Defesa dos Estudantes.

Apenas a RTP e um dos jornais diários falaram do incidente. (...) (Ao slogan "Abaixo a Guerra no Vietname" seguiram se "Abaixo o Fascismo" e Abaixo a Guerra Colonial". No fundo estou convencido que o primeiro foi um mero pretexto para os segundos e daí o aparato todo)

Semanas antes, na Universidade do Porto,os estudantes boicotaram a visita do Embaixador dos EUA aquela Universidade. (NSF - 1968.03.21)
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A temporada de ópera começa dentro de dias. Apresentarão "A Sonâmbula", "Os Palhaços", "Rigoletto", "Manon", "As Bodas de Figaro", além de duas outras cujos nomes me não ocorrem. Tenciono assistir a todas. Ah! são no[Teatro da] Trindade. (NSF - 1968.04.30) (2)
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Há umas semanas fui ao Teatro da Trindade ver a ópera "Os Palhaços" e à saída encontrei o Artur Horta. Como de costume, quando nos encontramos à noite, encetámos um dos nossos célebres diálogos, nos quais abordamos os mais variados assuntos, desde os mais transcendentes aos mais corriqueiros, que se prolongam pela noite fora, até de madrugada. A nossa deambulação levou nos, dessa vez, até à veneranda Rua do Quelhas, onde discutíamos a metempsicose e o panteísmo. Eram quatro da matina; andávamos uns passos, parávamos, retomávamos a marcha e assim sucessivamente. Éramos os senhores da rua, onde não passava viva alma ! Às tantas reparámos num guarda nocturno que, atravessando a rua e dirigindo se nos, perguntou onde morávamos: "Eu em Campo de Ourique, o meu colega aqui na Lapa". Fez um comentário acerca do adiantado da hora, que havia muitos malandros, etc., etc. "Malandros?! Que quer dizer com isso ?"  pergunto com certa rudeza, pois o ataque é a melhor defesa. Ah! os senhores sabem, há muitos ladrões de automóveis!". E, mirando nos de alto a baixo: "Bem, vê se que os senhores são bons rapazes, estão bem vestidos! Desculpem. Boa noite." E foi se. E durante algum tempo o pobre do guarda nocturno foi tema da nossa conversa, ele e a sua teoria de que o hábito faz o monge.
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E lembrar me eu que há dias fui ao "Coliseu" ver o "London Royal Balet" de quedes (3), em mangas de camisa e com barba de dois dias, por ter sido convidado à última da hora.
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Há dias um comunicado nos jornais informava que um dos bailarinos da Companhia do Maurice Béjart tinha sido expulso de Portugal por, durante um espectáculo, ter se imiscuído na política do Governo Português e ter incitado a juventude à subversão. Segundo as informações que tenho, de fonte não oficial, ele teria simplesmente comunicado ao público o assassinato de Robert Kennedy vítima dos fascistas, e pedido um minuto de silêncio contra todos os regimes fascistas e ditatoriais existentes no Mundo. (4)
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E isso faz me lembrar que se diz por aí que houve uma greve dos empregados da Carris que pretenderiam aumento de salários; a greve teria sido sufocada, mas os jornais, que eu saiba, nenhuma referência fizeram ao assunto. (NSF - 1968.06.24)
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Hoje todo o mundo, em Lisboa, anda à borla nos autocarros e nos eléctricos da Carris; não é nenhuma graciosa oferta da companhia aos seus utentes. Os seus empregados pretendiam um aumento de salário, que lhes não foi concedido - diga se de passagem que eles ganham muito mal. Assim hoje e não sei por quanto tempo os transportes circulam, cumprindo os horários habituais, mas os condutores não cobram bilhetes, por decisão tomada pelo respectivo Sindicato. A não cobrança dos bilhetes acarretará prejuízos à Carris, pelo que muito provavelmente os seus empregados alcançarão o que pretendem. Mas,... como é tradicional, os grandes accionistas não quererão ver os seus dividendos diminuídos, pelo que o Zé Povinho, um dia destes, verá o preço dois bilhetes aumentar.
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Já no ano passado, quando uniformizaram para um escudo o preço dos bilhetes dos eléctricos - acabando com os de $70 e aumentando os dos elevadores de $20 para $50 - já não me ocorre a que pretexto, pretenderam "actualizar o dos autocarros. Eu creio que os transportes colectivos alfacinhas são mais acessíveis que os tripeiros ou os de Luanda. (...) Ultimamente a Companhia adquiriu novos autocarros onde, para aumentar a lotação, quase não existem bancos, amontoando se os passageiros em pé, à retaguarda e no centro. Neles deixamos de ser humanos para sermos gado, amontoados em equilíbrio instável. Há semanas os eléctricos começaram a sofrer idênticas transformações, suprimindo se os bancos para aumentar a lotação. (NSF - 1968.07.01)
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Os transportes na Carris continuam a ser gratuitos. Os jornais vespertinos não aludem ao assunto enquanto que os matutinos de hoje se limitam a publicar uma nota do Ministério das Corporações e Previdência Social. À noite já gozavam com a situação e desde então muitas são as pessoas que aproveitam as circunstâncias para passearem e andarem o menos possível a pé. Os autocarros e os eléctricos vão pejados de gente. (...) Em média os funcionários da Carris ganham 60$00 por dia e pretendem um aumento de cerca de 25$00 diários. (NSF - 1968.07.02)
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Os empregados da Carris retomaram, há três dias, o serviço normal As negociações entre o Sindicato e a Companhia continuam, mas um intervenção do Ministério das Corporações e Previdência Social deu àqueles, para já, um aumento de 20$00 diários e 520$00 mensais, respectivamente aos assalariados e aos empregados. (NSF - 1968.07.06)
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Uma nota por mim ontem lida no diário vespertino "A Capital" informava que a Carris contactara com a Câmara Municipal de Lisboa com vista a um aumento de preço dos bilhetes dos eléctricos. Comentários!? (NSF - 1968.08.04)
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Quinta-feira fui "pragueado" por uma cigana. Fui ao Zoo com o Zé, o filho mais velho da Maureen. A cigana seguiu me durante muito tempo para ler a sina e não havia meio de largar me. Tanto me aborreceu para mostrar lhe a mão que assim o fiz, avisando a de que lhe não daria um tostão. Blá, blá, blá e eu placidamente a comer um baleizão (5). "Agora deixe me ver a sua mão esquerda" E eu deixei, com o meu sorriso céptico e trocista, enquanto mordiscava o sorvete. Blá, blá. "Ó Victor, deixa também ler a minha sina", diz o Zé. "Mas olhe que o menino paga", avisa a cigana. "Hein! isto é a pagar?". Responde a cigana: "Sim são vinte escudos, dez por cada mão!" (Se lhe pedisse uns cinco escudos, dava lhe, agora vinte!?) "Não lhe dou. Eu disse lhe ao princípio que não pagava" "Ah! mas o senhor deixou continuar e até deu a outra mão!" A discussão continuou, se é que discussão se podia chamar, até que ela descobriu: "Ah! o senhor não quer mesmo pagar!" "Pois não" "Olhe que eu rogo lhe uma praga!" Não faz mal, eu sou céptico e aguento todas as pragas. " "Vai ficar ainda mais aleijado... " "Não se preocupe" "... e morrer atropelado!", disse ela. "Ninguém fica cá para semente", respondi lhe. E lá se foi a resmonear. Ainda cá estou. (NSF - 1968.08.05)
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Os empregados da Carris foram todos agradecer ao Presidente do Conselho a intervenção do Governo. Discursos, ramos de flores, palmas, beijinhos às criancinhas!...

Para quê? Agradecer o quê? O Governo só tem razão de ser para servir a Nação. É a sua obrigação. Para isso é que lá está! (NSF - 1968.08.20)
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Uff! que calor! Estou todo pegajoso!... E eu que durante quatro ou cinco dias não posso tomar banho de chuveiro ou de praia por causa dum raio duma vacina anti variólica que fiz hoje. Vede o paradoxo: uns serviços medico sociais a fomentarem a falta de higiene. Só neste jardim! (ELF - 1968.08.24)
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Nesta última semana os Patiño e os Schum... (qualquer coisa)(6) deram cada um a sua festa de arromba, que reuniram celebridades de todo o mundo. Gastaram se rios de dinheiro, que não aproveitaram ao povo nem trouxeram, a meu ver, qualquer benefício à Nação. Festas deste género são um insulto aos milhares, se não milhões de portugueses que vivem miseravelmente. De modo algum uma creche dada às gentes de Alcoitão modifica a minha opinião. Enquanto os convidados circulavam, sorridentemente, pelos salões, de taças com espumantes capitosos na mão cheia de anéis, elas exibindo luxuosas e dispendiosas jóias, garotos andrajosos, nas escadas do cinema Império, assediam os espectadores que saem da sessão da noite, pedindo uma esmola, por necessidade ou por "profissão". (7) (...) Os jornais dedicaram páginas àquelas festividades, mas não falam em determinados e graves problemas nacionais. (NSF - 1968.09.08)
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Em meados de Agosto e em princípios de Setembro a CMLxa apreciou e rejeitou os pedidos a ela dirigidos pela Carris. Esta, alegando os encargos sobrevindos com o aumento dos salários e ordenados dos seus empregados, pretende aumentar em 50 % as tarifas dos carros eléctricos (da tarifa única, urbana, de 1$00 para 1$50); posteriormente , com o estabelecimento de zonas, criando novas tarifas. Os vereadores fizeram uns discursos muito lindos, que são os defensores dos interesses dos munícipes e um tal aumento é incomportável para os modestos orçamentos dos lisboetas, daqueles que utilizam tais transportes frequente e normalmente. (...) A Carris, descontente como é lógico, recorreu para uma Comissão Arbitral, formado por representantes seus, do Governo e daquela Câmara, que terá de apresentar as conclusões das suas deliberações até 9 Outubro, p.f.
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Não sei quando termina a concessão da exploração dos transportes urbanos àquela Companhia; creio que ela não tem muitas esperanças de ver renovada tal concessão ou, tendo as, procede como se as não tivesse. A rede de transportes não é modernizada - até quando se manterão os ronceiros eléctricos, que empatam o já demasiado confuso e caótico trânsito automóvel?. O aumento do volume de passageiros não é acompanhado do correspondente aumento de eléctricos e de autocarros; assim, nas horas de ponta, é ver os passageiros que aguardam, nas paragens de autocarros, tempos infindos - a lotação é limitada - que se apinham nos eléctricos - onde cabe sempre mais um. Voltando à lotação limitada nos autocarros, já tem acontecido não entrarem passageiros, por estar a lotação esgotada, e entrarem empregados da Carris e da PSP ou GNR, os quais, ao contrário daqueles, não pagam bilhete. Estarão protegidos contra todos os riscos ?! Muitas vezes ocupam os bancos, contribuindo para a completa lotação do autocarro. Com que direito ? O motorista raramente abre as portas, mas tal preceito não se aplica aos empregados daqueles três organismos que, frequentemente, entram e saem onde querem!
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Para fazer face ao aumento de passageiros a Carris tem aumentado a lotação nos eléctricos e autocarros suprimindo os lugares sentados; deste modo os passageiros apinham se incómoda e desesperadamente naquilo que tem mais de transporte de gado do que maximbombo (8) ou eléctrico! (NSF - 1968.09.24)
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O dr. Salazar continua gravemente enfermo. Creio que não poderá voltar a ocupar o cargo [de Presidente do Conselho de Ministros] nem tal seria aconselhável. Subordinado ao título "Le probléme de la sucession au Portugal", o semanário francês "Le Monde" publica um artigo numa das suas edições. (...) O Presidente da República exonerou o das suas funções. "Le Roi est mort! Vive le Roi!" Vi pela primeira vez o Dr.Marcelo Caetano, desempenado, sorridente, com um longo palmarés. (NSF - 1968.09.25)
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1969
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Lisboa está cheia de movimento e colorido. (NSF - 1969.12.19)
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1972
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Não é uma paisagem tropical, mas sim um recanto da aprazível estufa fria de Lisboa. (...) (MCG - 1972.11.23)
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1973
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Mudei hoje de poiso [nos Olivais]; trouxe a máquina da sala de jantar para a saleta onde durmo. São já 15 horas e pela persiana entreaberta entram os gritos e o chapinhar das pessoas nas águas da piscina, juntamente com o ronronar dos automóveis ali na Avenida de Berlim. Setembro chegou e com ele se foi o calor e veio esta temperatura amena que prenuncia o Outono. É agora tempo bom para os passeios e os jovens casais que passam pelas ruas, pelos jardins e pelos corredores do metropolitano, enlaçados, joviais ou simplesmente de mãos dadas aumentam, por vezes, a minha solidão e o desejo duma outra vida. Que nada tem a ver com esta esterilidade e desengano em que me encontro. (MCG - 1973.09.10)
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Os jornais de ontem noticiaram o suicídio do Presidente Allende da República do Chile, marxista eleito há três anos. Pretendia instaurar no Chile uma sociedade socialista, num processo evolutivo de transformação das actuais estruturas sociais. A sua experiência pretendia instaurar uma nova ordem social respeitando o ordenamento jurídico legal da ordem social que pretendia transformar. (MCG - 1973.09.13)
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As visitas que hoje fizemos a várias pensões foram muito instrutivas. Algumas não tinham condições, especialmente nos prédios antigos, onde os quartos são na maioria interiores, dando para saguões, tristes, soturnos e deprimentes.. Isto já sem falar nas cores horríveis de alguns. Mas não se arranja quarto por menos de 2 000 $ mensais [1973]
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1974
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Já passa da meia noite. Ao regressar hoje do jantar topei com montes de pinheiros às portas das casas, junto ao lixo. As "Festas" foram se. (MCG - 1974.01.08)
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O nome do café não sei. O tempo é de aguaceiros e o ar é cheio de ruídos. Lisboa é um desencanto e as raparigas são muito magras. Nas mesas lado a lados as pessoas sentam se mas não falam, desconhecidas que são umas das outras. A minha mãe acabou de ler o jornal e diz que esta casa não serve mal. Diz me para chamar o empregado mas sugiro lhe que espere pois ainda tenho um guardanapo para escrever. (9) (...) Não gostaria de viver em Lisboa. Perde se muito tempo pelos caminhos. (...) Esta rua é muito barulhenta, passam muitas ambulâncias. (...) (MCG - 1974.04.02)
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Um breve regresso a Económicas ~ Está um dia de calor abafado. Desconhecendo ainda o que a casa gasta, saí de manhã com o guarda-chuva na mão e o casaco debaixo do braço. O que vale é que Lisboa é grande e a minha parvoíce passa desapercebida. Estive em Económicas com a Manuela Silva, sobre a possibilidade de participação no corpo docente do ISESE. Para além disso S.Exa perguntou me o que fazia eu, e como lhe dissesse que estava no "exército industrial de reserva", perguntou-me o que me interessaria (talvez haja possibilidade no MEC) e ficou de contactar comigo. Os contínuos (o sr. Pinto e o sr.Cascais), seis anos depois - vê lá! - ainda se lembram de mim e perguntaram me se eu voltava para Económicas. Ah!Ah!Ah! (9 a) (MCG - 1974.09.12)

Hoje foi um domingo de trabalho: um dia de salário (1974)! A resposta ao apelo do [1º Ministro] Vasco Gonçalves por causa do Spínola. Havia movimento, talvez não tanto quanto aos dias de semana. No Marquês (10) grupos de voluntários limpavam as inscrições na pedra do monumento enquanto nos prédios circunvizinhos se arrancavam os variadíssimos cartazes colados post-25 de Abril. Tal como na estação do Rossio, onde 3 raparigas varriam o passeio enquanto uma mulher, casaco de malha castanho e ramo de cravos vermelhos na mão esquerda, limpava os cartazes da frontaria com a mão direita. (MCG - 1974.10.06)
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Ontem fui pela 1ª vez ao teatro de revista Pides na Grelha ali num barracão ao Martim Moniz [Teatro Ádoque] (...) Uma chuva miúdinha caia à saída e no percurso que fiz a pé até ao Cais do Sodré fui vendo "os homens da noite" ou seja, os coladores de cartazes. Bem... o primeiro "homem da noite" era uma velhota que colava cartazes manuscritos nas traseiras da Igreja de S. Domingos. Na Praça da Figueira, um grupo colava cartazes do PS enquanto que na Rua do Carmo os MRPP anunciavam o comício - que pretendem homenagem nacional - em memória de Ribeiro dos Santos, estudante [de Economia] assassinado pela PIDE há dois ou três anos.(...)
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Pois ontem fomos almoçar à cantina da Associação de Estudantes de Economia e a páginas tantas uma voz forte silenciou o vozear das conversas e um MRPP começou a denúncia da "traição dos sociais fascistas" (PCP mais a pró UNEP) e da provocação que foi o arranque das placas que assinalavam o Largo Ribeiro dos Santos. (11) Ao fim de algum tempo a malta ligou à terra e continuou a conversar, mas o "MR" prosseguiu o seu arengar às massas e... pôs à votação uma moção de protesto e um comunicado (perante o desinteresse notório e ostensivo da maioria dos presentes na cantina). Entretanto MR's vendiam pelas mesas o "Luta Popular" e UNITÁRIOS (PCP) o "Avante". Quem vota contra? Quem se abstém? Quem vota a favor? (Sentado a um canto da cantina observo, mas não vejo qualquer braço levantar se. De resto, a partir de certa altura, mal consigo perceber o que o MR lê ou comenta). Assim, muito surpreendido, ouço o tipo proclamar a aprovação com 4 abstenções e nenhum voto contra! Ah! Ah! Ah! Esta táctica é que eu não conhecia. Enfim... (Foi mais ou menos assim que se aprovou a Constituição de 1933) (MCG - 1974.10.11)
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A Câmara Municipal de Lisboa mandou arrancar as placas "Largo Ribeiro Santos" que o MRPP e o povo do bairro tinham colocado em substituição das antigas (Largo de Santos), em homenagem ao estudante Ribeiro Santos, assassinado pela PIDE. MCG - (1974.10.21/22).
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Hoje não me apetece ir a Lisboa! Lisboa é o andar dum lado para o outro, a azáfama sem sentido. Outrora era a Associação de Estudantes [de Económicas] e o cinema. Depois, já em Évora, era a Emília  e os nossos almoços e as conversas sobre o momento político e o movimento estudantil. A ela se juntou o Luís Filipe, que andou comigo no 1º ano de Sociologia  Mas... a Emília passou e a sua presença amiga e gentil é a lembrança da mulher e do afecto que não consigo ter. O Luís Filipe é a divergência dos caminhos - a minha radicalização (ao menos teórica e intelectual) - e a sua aceitação desta sociedade, revelado no curso [que acabou por tirar], no emprego que arranjou, na vida que levará, que a colecção completa dos Livros RTP/Verbo e de Bolso Europa América e do Círculo de Leitores prenunciam, conjuntamente com um passatempo caro - a fotografia. Os outros amigos? O tempo nos separou. Lisboa seria então, na semana passada, a procura de emprego. (1974. Outono)
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1993
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O regresso a Paço de Arcos, pela auto-estrada, foi uma limpeza em rapidez, pois Agosto é um bom mês para férias, porque o pessoal sai da cidade, para as suas vacances, havendo pouco trânsito e muitos locais para estacionar. (MMA - 1993.08.19)
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1 - Espécie de saloio em terra de gente (1964.06.01)
2 - Estas temporadas de ópera a preços populares eram organizadas pela FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho), que após 1974 deu origem ao INATEL (Instituto Nacional para os Tempos Livres dos trabalhadores). Os bilhetes eram-me arranjados pela minha tia Esperança, farmacêutica no Chiado. (1998.Maio).
3 - Sapatos de lona. Do Coliseu, ali à rua das Portas de Santo Antão, nada me recordava. Pensava no entanto que teria um aspecto grandioso ou ao menos imponente, pelo que há uns anos fiquei desiludido quando lá voltei, para assistir a um plenário sindical. Nesta zona situavam-se muitas casas de espectáculos, como os cinemas Politeama, Arco-Íris, Odeon, Condes e, no outro lado da Avenida ou nas cercanias, o Éden, S. Jorge , Tivoli, para além doutros mais modestos, como o Olímpia, o Restauradores e o Arco do Bandeira, este com uma inconfundível fachada arte nova. A maioria deles já encerrou, após agonia de alguns como salas de filmes pornográficos, e outros foram reconvertidos, ou em salas mais pequenas, ou em hotéis para lá da fachada, como o Éden. Dos teatros de revista do Parque Mayer apenas persiste o ABC, estando os restantes encerrados, o espaço transformado em parque de estacionamento pago, subsistindo alguns restaurantes e dois modestos alfarrabistas. Dois edifícios, no Rossio, foram devorados pelas chamas e reconstruídos. Um foi o Teatro Nacional D. Maria II, em 1965, e outro a Igreja de S. Domingos, em 1959, embora nesta tenham deixados as marcas do fogo e derrocadas marcadas nas colunas, altares e paredes. Ao fogo estiveram outrora estes edifícios ou anteriores ligados. O primeiro, porque dele partiam as procissões e autos de fé de quem seria queimado por heresia,a mando e sentença dos dominicanos e da Santa Inquisição,cujo palácio, entretanto reconstruído pelo Marquês de Pombal após o terramoto de 1755 e no século seguinte destruído também por um incêndio, se situava no local onde Almeida Garrett mandou erguer o Teatro Nacional que já teve o seu nome. Também a Igreja de S. Domingos, destruída pelo mesmo terramoto tal como sucedeu com o vizinho Hospital de Todos os Santos, esteve em 1506 ligada à intolerância, por nela se ter iniciado a matança de 2 000 judeus e cristãos-novos. (1998.Maio)
4 - Comunicado do SNI (Secretariado Nacional da Informação), publicado nos jornais vespertinos de 9 Junho 1968: "Durante o espectáculo duma companhia estrangeira, realizado em Lisboa, na noite de 6 do corrente, foram dirigidas à juventude exortações derrotistas e tomadas posições de especulação política inteiramente estranhas ao próprio espectáculo.
Perante a luta que temos de manter em defesa da integridade nacional, não pode consentir se que uma companhia estrangeira aproveite, abusivamente, um palco português para contrariar objectivos nacionais.
As autoridades foram assim forçadas a impedir a permanência em território português do súbdito estrangeiro responsável por aquele espectáculo" (NSF - 1968.07.02)
5 - Termo de Luanda, que significa sorvete, do nome do proprietário das casa que os fabricava, cujos carrinhos de mão percorriam a cidade.
6 - Schlumberger.
7 - Depois de Abril de 1974 os pedintes desapareceram das ruas de Lisboa e doutras cidades, não por qualquer medida repressiva, mas porque as condições de vida melhoraram. Vinte anos depois regressaram, tal como os encontrei na Madeira, embora muitos sejam jovens que agressivamente exigem dinheiro pela arrumação de carros em lugares que indicam, muitas vezes para aquisição de droga. Contudo não se amontoam às portas das igrejas, como outrora.
8 - Termo de Luanda, que significa autocarro.
9 - Esta carta foi escrita num guardanapo.
9 a) Em Luanda as entradas e saídas nos Liceus eram controladas. Pelo que em Portugal, na 1ª vez que entrei em Económicas, no antigo Convento do Quelhas, em 1966, dirigi‑me ao porteiro, creio que era o Cascais, dizendo que era aluno e se podia entrar. Enfim, caloirices ingénuas, como depois verifiquei, pois a entrada nas faculdades era franca e ninguém controlava as movimentações.
10 - Praça Marquês de Pombal. Para Norte fica o Parque Eduardo VII, com o Pavilhão dos Desportos e a Estufa Fria. Trata-se dum lugar aprazível, para onde transitou a Feira do Livro após permanência na Avenida da Liberdade e uma breve passagem pelo Terreiro do Paço. (1998.Maio)
11 - Houve na altura uma grande controvérsia pois a Câmara de Lisboa de então não concordava com o baptismo do Largo, ali para Santos e perto de Económicas, como se dará notícia mais adiante. (1998.Maio)
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Quadro - Salvador Dali - Persistência da Memória

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Lisboa - Jardins


Jardim Botânico
Museu Nacional de História Natural





Jardim Tropical (antigo Jardim Colonial)

Lisboa - Museu dos Coches


Generalidades



Liteira





Coche



Antigo Picadeiro Real