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QUADRAS SOLTAS EM DESALINHO
Em ti com meu sentido
Começo a escrever
Como fora perdido
Razão do meu viver,
A brincar ou a sério
Lá vou eu versejando
Será mau despautério
Na vida ir cantando?
Uns fumam, outros bebem,
Outros com putas vão,
Mas mérito não tem
Estar em perdição.
Bem custoso é ser sozinho,
Ser deserto sem obra,
Sem dar ou vir carinho,
Picado por má cobra.
D. Roberto é alegre,
Bem faz rir a chorar;
Não há quem soletre
Porquê o seu pesar!
De longe, aos meus amigos
Escrevo ou telefono,
Haja ou não rodrigos,
Ou ligo gramofono,
Bem olha sem que veja
Onde param teus lábios;
Não há quem os meus beija
Com ua flor, bem sábios.
É triste rodopio
Estar de mãos vazias,
Sem bom canto nem pio
Preso a nostalgias.
É tudo brincadeira
P'ro meu mal apartar;
Matar alguma asneira
P'ra no mundo ficar.
P’ra quê esta tenção
De sozinho errar?
É bem ou maldição
Assim continuar?
Terá algum sentido
O que mal faço ou digo?
P'ra quê andar perdido
Ouvindo: “Não, contigo”?
 Há emparelhamento
 Que valha a maldição
 De viver em tormento
 Em grande assombração?
 Passo por minha tela
 Os meus grandes amores
 Não há sebo nem vela
 Que deem novas cores! 
Também, quem tal diria
No tempo dos quanta,
De tal bem me riria
Com tão bela estampa.
 Venha Deus, o Diabo
 Encontrar solução
 P'ra isto, que diacho
 Ensinar-me a lição.
 É bom pegar no carro?
 Ou ir fotografar?
 Onde lançar o sarro,
 Sem a pena agravar?
 Depressa ou devagar
 Vai o tempo escorrendo,
 En pé, a escrevinhar,
 A noite aparecendo.
 Amanhã, novo dia!
 Quantos mais seguirão?
 São bem como a enguia
 Não se agarram, não.
 Pois agora são cinco
 As quadras ‘inda em falta
 A mioleira trinco
 Para pôr fim à pauta.
 Agora só são quatro
 Isto é, quinze versos..
 Bem digo: "Vade retro!"
 Que finais tão travessos.
 Três, a conta Deus fez,
 Sou quase a terminar,
 Serei eu tão má rez,
 Que não possa acabar?
 Vejam lá, isto vai!
 Terá algua leitura?
 Parece que não cai
 A boa, má feitura!
 Houve engano na contagem
 Doze seria ao lado;
 Assim fica esta ponta
 Como estou, chalado!
1989.09.03
SETUBAL
 
 
2 comentários:
Passa pelo meu blog Reflexões Exteriores... parece que foste distinguido!
Tiago'
Olá Vitor,
Não estás chalado, não.
Estás é como uma veia... de tirar o chapéu!
Um abraço amigo,
Maria Faia
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