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Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNterça-feira, 30 de junho de 2009
Interrogação ?
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Que é o hi5?
* Victor Nogueira
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domingo, 28 de junho de 2009
Escrito num muro em branco ...
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O Destino ...
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E eu comento: «o destino ! ... O que é o destino? E a vida? Quão limitado é o nosso poder sobre a vida e ténue a linha que num instante a transforma em nada.»
Victor Nogueira
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sábado, 27 de junho de 2009
Donatília é bonita
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Donatília é bonita
mui bonina d’encantar,
veloz, bailando catita,
não deixa de m’espantar
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Na berma deste caminho
não deixa de m’espantar;
sozinho sem seu carinho
ando, sempre a vaguear
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É mal, triste minha sina,
andar sempre a vaguear;
em mim seu bem não atina
apesar de meu escribar.
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À nina digo adeus,
em mim seu bem não atina;
fraco sou, não sendo Zeus,
estou navegando à bolina!
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Victor Nogueira
Setúbal, 2006.07.08
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terça-feira, 16 de junho de 2009
A fluidez do pensamento e a vagarosidade da escrita
* Victor Nogueira
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AS PALAVRAS
Rede com dois gumes
letras do nosso pensamento
são
os olhos que nós temos
e os seus lábios os nossos lábios (1)
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Está um domingo chuvoso, frio, cinzento! Mas as palavras não chegam a formar se na consciência, enovelam se, enevoam se, liquefazem se e a máquina [de escrever] imprime apenas nada que talvez seja muito. Ou tudo. (MLF - 1969.02.23)
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Tinha uma carta já escrita, fluente na minha mente. Chegou a hora de escrevê la e ela ruiu, as palavras escorregaram por entre os dedos, em todas as direcções, e no papel nada fica senão uma pasta informe (...) Nunca liguei á poesia. Achava la inútil, algo inexistente para mim. Ouvi falar em rima (amor com fervor, queijo com vejo, morte com sorte), em métrica, etc. Das divisões silábicas apenas me lembro dos alexandrinos.... Bem, como a prosa é mais fácil, com mais canelada para a direita, menos cotovelada para a esquerda, resolvi escrever epístolas por gosto e exercícios de apuramento e chamadas escritas a contra gosto e relógio. Se alguém dissesse que eu acabaria um dia por escrever frases desiguais empilhadas umas em cima das outras a que a minha amiga chama poemas, eu rir me ia. Mas também nunca nos dias da minha vida sonhara viver em Évora e tirar um curso de sociologia. (NSM - 1969. Páscoa)
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Passa da meia noite. A hora é de silêncio e recolhimento. Contrastando com o meu estado de alma, o gira discos toca uma alegre e movimentada música espanhola. (...) A mão é muito mais lenta que o pensamento e tolhe o na sua fluidez. (NID - 1971.05.26)
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Pronto. Lá arrefeceu tudo ao pegar na caneta para dizer do meu espírito, do que nele se passa. Esvai se me por entre os dedos e nas mãos apenas o resto do que não é. (NSM - 1971.12.01)
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O discurso lógico trai a manifestação dos sentimentos; "as palavras são (redes) de dois gumes..." e o discurso lógico uma corrente que nos arrasta para onde não queremos. Um olhar, a mão que se levanta para acariciar um rosto, os dedos entrelaçados, o corpo que sentimos junto ao nosso, a simples presença, o saber se aqui nesta sala ou na outra, não entendes que tudo isto, na sua simplicidade, diz mais e responde e/ou acalma mais interrogações que todas as palavras? É preciso saber ler para além das palavras ou não recusar essa leitura. Lembro me dum poema do Alberto Caeiro, cuja humildade e simplicidade me atraem, humildade e simplicidade perante as pessoas e as coisas que talvez nunca sejam minhas. Levanto me e vou ali á estante buscá lo. Escolho o poema que trancreverei. Hesito na escolha. Será este!
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XLV - Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.
Mas o que é um renque de árvores? Há árvores apenas.
Renques e o plural árvores não são coisas, são nomes.
Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso! (MCG - 1972.07.14)
Não era assim que esta carta estava escrita no meu pensamento. Aliás, no meu pensamento esta carta já teve várias formas. Mais fluidas. Variando conforme o estado de alma e o correr do tempo. Mas quando chegou a altura de fixar a fluidez do pensar, o que fica é esta pálida, imperfeita e distorcida imagem, feita de signos que se alinham em carreirinha uns a seguir aos outros. (FPG - 97.06.18)
domingo, 14 de junho de 2009
Ouvindo música
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O rádio transmite neste momento a valsa O Danúbio Azul [de J.Strauss]. E eu deixo me levar na onda dos seus acordes, vogando liberto deste quarto deserto. Mas a valsa terminou e alguém pediu um disco dum tipo qualquer que pede à querida que relembre os momentos felizes, para que ele possa esquecer todo o seu amargor. É o programa do Matos Maia. A malta telefona, repete uma frase publicitária, pede um disco e, frequentemente antes de desligar, pergunta: "Posso dizer o meu nome?" E ficam todos felizes da costa ! ... Pobres pessoas que se contentam com tão pouco! (ASV - 1969.02.29)
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Vivaldi é um compositor muito agradável de ouvir se. A sua música é sonora, alegre, colorida! (NSF - 1969.12.12.)
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A tarde cai e do gira-discos evolam se as notas da "Dança Macabra", que de macabra nada tem. (NSF - 1970.05.17)
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A tarde está tristonha. Dos alto-falantes do gira discos saiem as notas da "Rapsódia Húngara" de Liszt. Não há dúvida que o piano é um instrumento agradável de ouvir. E a Rapsódia Húngara nº 6?! Dá uma sensação de afirmação persistente, que nunca se quebra. Mas uma das minhas composições preferidas é o "Concerto para piano, nº 1", de Tchaikowski. (NSF - 1970.03.21)
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Como sempre ouço música. Desta feita o meu amigo Vivaldi e os seus concertos, que têm algo de primaveril, recordando bosques e pássaros e riachos. (NID - 1971.04.05)
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Bach no gira discos: a calma e a harmonia do velho Johann Sebastian. O turbilhão que é o meu espírito talvez se acalme com ele. Rios tumultuosos sobem dentro de mim. Eles preferiam Zorba (1) e o delírio até à exaustão: descansar o cansaço.
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Bach é agora um hino à alegria. Se fosse traduzir por imagens o que ele me desperta falaria de flores cujas pétalas se abrem lentamente, ao retardador, de qualquer coisa de esvoaçante, de saltitante, duma sensação de leveza. Bach permitiu que se rompessem os diques feitos das recusas, das negações, das violências destes dias de exames, calor e frustração. (MCG - 1972.07.14)
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sábado, 13 de junho de 2009
Ouço o Concerto nº 1 para piano, de Tchaikowski
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Ouço o Concerto nº 1 para piano, de Tchaikowski. Os sons desprendem se em cavalgada, saiem do piano pelo alto-falante, umas vezes de mansinho, outras violentamente, elevam se, envolvem nos, penetram em nós e arrebatam nos. Neste momento os violinos dialogam com o piano, tentam impor se lhe, este assemelha se a um riachozito saltitante. A voz daqueles eleva se, tentam emudecê lo. Os violinos perdem a sua delicadeza, tornam se autoritários. Abafam o piano, o frágil, quem diria, piano! Veio a calma. Lentamente, a medo, uma flauta tenta quebrar o silêncio. Outras vozes vão se lhe juntando. Violinos e piano restabelecem o diálogo, secundados por outros elementos. Há uma quietude no ambiente. Uma voz grave, que não identifico, surge. O piano saltita pelo riacho, de pedra em pedra, apressa se, corre ligeiramente pelos prados. Os outros seguem no. Os sons misturam se, elevam se em cascata. O diálogo repete se serenamente, em espiral. Termina mais uma cena.
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Silêncio. Violência. Brusquidão. Violinos e piano defrontam se de novo. Implacavelmente o piano tenta impôr-se. Consegue, com alguma luta. Os violinos aceitam a derrota e rendem lhe homenagem. Ele aceita a do alto da sua vitória. Os sons ora dialogam, ora competem entre si. Os violinos são os árbitros. Parece que nada mais pode deter o piano, soltito, com ternura, com delicadeza, umas vezes, com altivez, outras. Ah! os outros silenciaram no. Mas ele debate se, liberta se, corre, surdo à majestade dos violinos. Está sozinho. É perseguido, tenta fazer se ouvir. Mas é tarde ! Este final soberbo, empolgante, arrebatador ! (NSM - 1969.01.23)
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quinta-feira, 11 de junho de 2009
bARREdo TARA NO TARÓ DE FACA E ALGUIDAR ...
* Victor Nogueira
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Narro:
ferro o ferro na barra do carro
de gorro na berra corro
…………………………………pelo cerro
cerro o curro………….de samarra e cimitarra
jorro a jarra de barro com jarros
para o morro de jorro
com a borra e o sarro
…………………………………………………do cigarro
Serro com a serra o tarro
Em guerra, perro mas com garra
agarro o tira com um tiro
…………………………...atira ao perro
…………….varro a murro e a pera áspera serra
marro na parra da Dora
…………………………adoradora dadora
…………………………pura….loura
Porra! Chora cora (da) de choro
Berra a birra a cigarra:
farro não farro na farra o catarro
Com faro
zurra o burro
Gira corre a zorra, a pirralha
Ralha ralho acirro, sorri:
Sorry!
Mira-se vira-se e pira-se
à nora; gira para fora da nora
……………………...sem forro que aforre, forreta
Forro a desforra
A Sara com a vara sara na gare
…………………...gira para ler no bar: zero bares
devora na voragem carnívora:
…..………………...será uma hora
………………………….uma lira
………………………….uma léria
…………ou era o que lera na hera: cácárácá?
tira a tira e pira-se da pira de erva de hera
Fera quero vero ver
……………….........ser ter haver
Eros de cera
……de Ceres
paro a surra miro o mira através da mira
Neura a nora da nora nova demora onde mora
Cora
hora a hora
Ora!
Paro no laró!
De couro sem decoro decora
……………………….de couro cora com a corda!
o dori na barra
……………….no barreiro ou no barredo;
que dor adora a Dora no braseiro?
Atura a tora? Caturra urra Hurra!
Que ardor na alvorada alvoreada!
Desarvorada pelo arvoredo mirrado
Mirrada victória de Pirro. …Ou de Pirra?!
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Setúbal 1989 Março
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quarta-feira, 10 de junho de 2009
Um dia quase estival
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10/Jun 18:17
Texto e foto de Victor Nogueira
Aqui, no Estuário do Sado, faz sol, o céu está luminoso, azul e a claridade deslumbrante, com flocos brancos de «algodão». O Parque Verde, lá em baixo, visto do alto da torre onde moro, está verde, florido e vicejante :-).
Os miúdos jogam à bola, andam de bicicleta, conversam ou jogam às cartas.
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Tal como os ciganos, de negro vestidos, em torno duma mesa e à sombra dum prédio
terça-feira, 9 de junho de 2009
A UMA PRINCESA QUE SE DIZIA AMIGA, TALVEZ, mas LEVIANA?
* Victor Nogueira
Para uma bela Princesa
Boa amiga, muito mui mais
Que não manteve a chama acesa
Faltou sem dizer água-vais.
À prima toda a gente cai:
Foi do livro, ida a Lisboa;
Telefonou, ficou um ai
De quem por ela se magoa.
Pois fiquei em grande aflição
Não aprovei, mas lá passou.
Na segunda, oh! confusão
Nem cuidou nem telefonou.
Que sucedeu? Caiu ao chão?
Ora, estava apenas cansada,
Na cama com chateação
Tudo varrendo com penada.
À terceira ,”não falto, não"
“Até já!", foi a despedida.
O jantar deu nova canção
Boa disposição perdida!
À quarta, a mesma hist6ria.
Adeus, bela conversação
Amigo p'ro lixo, sem glória:
Amor em má escuridão.
Tu, em não me aparecendo
Assim, foi um ar que te deu;
Minha amizade fenecendo
E de mim te aparto eu.
É duro, bem triste, tirar
Fiança que desmereceste,
Ao trair meu simpatizar
Por ti, que bem me pareceste!
SETUBAL
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segunda-feira, 8 de junho de 2009
ANéMONA DO MAR
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* Victor Nogueira
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De um punhado
de branca areia salgada
fez-se
verde madeiro
.........................vogando
........................................ao sabor da corrente
na esteira de todos os sorrisos
De ilha em ilha
castelos no ar
que a chuva........gota .......a ........gota
...........................construiu
e o sol dispersou
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Victor Nogueira
Évora 1969 Fevereiro
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Variações e mil ...
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segunda-feira, 1 de junho de 2009
ANAsoRISO DOS OLHOS GRANDES
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A bondosa Ana Maria Caldeira
É rapariga de sorriso aberto;
É bem dela esta sua maneira
Quando o ar é doce, não encoberto.
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Veio de longe, lá d'Amareleja,
Agora em Cetóbriga parou,
Mas há quem a procure e a não veja
Quando vai cirandar no gira-vou.
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Ambos luzentes, olhos grandes tem.
São como no céu o sol a brilhar,
Um sorriso de menina mantem,
Quando o mal dela sabe afastar.
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Cara redonda, um rosto castiço,
Com farto cabelo:, liso e castanho,
Brancamorena, de corpo roliço,
O ser ou viver não quer de antanho,
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Caminha pelo mundo na procura
D'encontrar alguma felicidade;
Por vezes fica a noite bem escura,
Não sabe que fazer da liberdade,
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Dela bem graciosas são as filhas,
Duas, Aida e Catia de seu nome,
Contudo não pode viver em ilhas
Se delas quiser apartar a fome.
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Tem o seu coração nas duas mãos,
Mas por vezes é mui desconfiada;
Quando tal sucede é chateação
E vai todo o pessoal de abalada.
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Mundo e pessoas a entusiasmam:
Então anda tudo na reinação
No entanto, ao chegarem miasmas
Não sabe manter boa actuação.
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É muito amiga em seu ofertar
A quem no goto dela bem cair;
Nem sempre alcança resguardar
E o seu pecúlio vê partir.
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Se por todo o lado encontra amigos,
Muitos raramente Ihe são fiéis;
Deve pois cuidar do anda comigo
A ver se há boa troca de papeis.
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Mas com este meu pequenino escrito
E andando muito breve, de abalada,
P'ro futuro fica neste registo
A nossa boa amiga retratada.
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Setúbal 1987.07
Victor Nogueira