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DE BREU ESTÁ O CÉU NÃO HA POR QUEM CHAMAR
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De breu está o céu, não há quem chamar;
Sem qualquer linha no horizonte,
Perdido farol, luzeiro luzente,
Não há motivo, nenhum, p'ra chorar!
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Não há estrelas nem brisa no mar;
Riso e pranto num silêncio crescente,
Em círculo de pedra envolvente,
Não há sol nem luar p(a)ra (en)cantar.
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Sem rio, nave ou ponte na calha,
Uma a uma vão-se partindo as cordas
Que à vida nos prendem com prontidão;
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Vagueando sem rumo, com a tralha,
Uma de cada vez, cerrando as portas,
Dia e noite, com tanta brusquidão.
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Setúbal 1991.07.01
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CAMINHANDO INTERROGATIVAMENTE
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Caminhando o caminho, bem ou mal,
Partindo a derrota que seguirei,
Em busca daquilo que serei
Usando faladura em areal.
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É razão instinto de animal?
Acordado pe(r)di o que sonhei?
Como águia ou pardal não voei
Atolado em verde lamaçal?
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Como posso dormir ficando desperto?
Onde vivem o amor e o ódio?
Como fazer a paz estando em fera guerra?
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Como afastar do mundo o mar, deserto,
Afastando a dormideira do ópio?
Caminho em busca do sol na terra!
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Setúbal 1089.09.12
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Fogoso é o fogo da juventude:
Amar longa e mui profundamente;
Logo restam o pó e a cinza, sómente,
Não trazendo qualquer boa virtude.
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No ribeiro, o arrulhar no açude,
Encanta de verdade, tão bem assente;
Mas o passar do tempo, só, desmente,
Mostrando não haver bem que não mude.
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E lento, passa o mundo bem veloz,
Com máscara ou riso no olhar
A cobrir ou mostrando o ser da alma.
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Mas de ontem fica a tenção, a voz,
Da paz e felicidade encontrar,
A juventude esvaída na calma.
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Setúbal 1989 09 11
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O MUNDO É COMPOSTO DE FAZENDA E MUDANÇA
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.Cada um de nós é só ele próprio
E a sua boa ou má circunstância,
Procurando em tudo uma substância,
Com arte ou não, o alfa milenário.
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Há na terra quem faça santuário
Do sentir ou razão, em abundãncia;
Mas é do cacau terna a fragância
Do fado ter um bom ou mau solário.
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O tempo bem diz que é tudo ilusão;
O amor, doçura, felicidade,
Em lixo ou pó substanciando.
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Honra, beleza, sentir, no caixão;
Erramos, pelo campo ou na cidade,
No mundo, bem ou mal, vagueando.
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Pinhal Novo - 1989 09 10
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Com desconcerto, há na vida tempo
P'ra estar sózinho ou na companhia,
Em paz ou na guerra do dia-a-dia
Com grã siso ou sem qualquer assento.
Devagar na viagem correndo,
Çom má tristeza ou boa alegria,
Os pés em terra ou na fantasia,
Palrando ou nada mesmo dizendo;
A casa com ou sem comodidade,
Com comida em fartura ou faltosa,
Com amor, ódio, carinho ou secura.
Vivendo ou não, onde a felicidade,
Na vida, destemida ou receosa,
Perdida ou na doce candura?!
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Setúbal 1989 09 10
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Rico ou pobre estão sem paz, na guerra.
Na vida esta é a lei dos contrários,
Em tudo havendo tom, matizes vários,
Variando a qualidade na terra.
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Há quem mal entenda, por isso berra,
Não sabendo como dar volta ao fadário,
Roubando-se assim o operário
Do profundo vale ao cimo da serra.
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É preciso bem unir cem mil forças
Para um mundo novo construir,
Onde haja gosto e felicidade.
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Haverá tempo do leão e corça
Andarem juntos, em paz, a sorrir,
Sem ódio ou pressão, com liberdade?
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Setúbal 1989 09 08
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A VIDA É VARIADO GOSTO E DESGOSTO
Com boa fala ou coração calado,
A vida é um correr bom ou mau tempo,
Triste, ledo, colorido ou cinzento,
Dos outros próximo ou apartado.
Com ou sem casa, bem ou mal amado,
Macho, fêmea, trazem seu sentimento
Do mundo ser ou não um bom momento,
No quotidiano com diferente rendilhado.
É crer nervos crispados suavizar;
Leda ou triste, a dor desta jornada
Em florido peito acalmar, a rir.
Tal é a vida, sendo o respirar
Do viajeiro, com sua passada,
Tenção p'ro horizonte se atingir.
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1989.09.08 Setúbal
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É a guerra o monstro que ceifa a vida
Ruína as casas, viola a criança;
Velhos, novos, não fogem à matança,
No campo a seara é já perdida.
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O fogo e a peste, em grande corrida,
Afastam do burgo a bela festança;
O mal, a vida e natureza alcança.
Só dos loucos pode ela ser querida.
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Homens, mulheres, crianças, lutam
Por outro mundo novo construir;
Cantam rouxinóis, bem alto voam águias.
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Na verde planura os cordeiros vivam;
Na festa, na eira, todos a bailar,
P'la paz lutando, sem demagogias.
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Setúbal 1989 09 06
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NO MUNDO ALGO SE PERDE OU MAL CRIA
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Na vida é bem, não desconcerto,
Em cada dia nascer novo mundo;
No cimo do monte ou no mar profundo
Natureza e vida buscam acerto.
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Desde sempre tem havido conserto;
Veio o homem meter-se no assunto
E agora bem dá volta ao bestunto
P'ra ver se isto não fica um deserto.
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Com fera guerra mata seu irmão,
A vida destruindo, chacinando,
Tudo coberto de fome e ruína,
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Sem que se possa cultivar o pão.
Sol, céu, flores e canto se calando;
Em nós a tristeza desta chacina.
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Setúbal 1989 09 05
Odete Maria Botelho Botelho, Carmen Montesino, Lia Branco e 3 outras pessoas gostam disto.
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Lurdes Martins (re)Nasçamos!
6/11 às 23:32 · GostoNão gosto
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