Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

sexta-feira, 21 de março de 2008

Setúbal - Figuras ilustres

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28 Fevereiro 2007

As minhas fotos preferidas

Madrugada de um dia que há-de vir...

10 de Novembro de 1969

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Numa "visita de estudo" aos fósseis da zona a norte de Sesimbra que fiz com os meus alunos do 6ºano, encontrei próximo da Aldeia do Meco um "ciganito ranhoso" a quem tirei esta foto. Foi Sebastião da Gama o "mentor" do nome que então lhe atribuí... retirando dos versos, a carga negativa que continham...
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Figuras ilustres de Setúbal

Já não os conheci assim, tal como se mostram nesta fotografia.

Em 1960, eram já bastante mais idosos do que aqui aparentam...

Faziam ambos parte da "tertúlia" que, no princípio dos Anos Sessenta, tomava conta das duas mesas que, no antigo Café Central, de dispunham à esquerda de quem entrava pela "porta giratória" daquele espaço.
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Mário Piteira e João Borba
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Com um feitio brincalhão, Mário Piteira não deixava que alguém, à sua beira, tivesse tempo para estar triste. Sempre bem disposto, com uma piada ou "a última" anedota do momento, ele era a imagem da boa disposição.

Tive o condão de o ter como vizinho nos primeiros dez anos que vivi em Setúbal. Com ele me encontrava diariamente, mesmo que algum de nós não pudesse estar presente no convívio do Café Central.

O Eng. João Moniz Borba, filho do médico Dr.Paula Borba, foi Director do Museu de Setúbal e esteve ligado por várias vezes à Mesa da Santa Casa da Misericórdia.

Possuia uma Bocageana de enorme valor.


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24 Janeiro 2007

Figuras ilustres de Setúbal

Toda a gente conhece a rua Dr.Paula Borba, em Setúbal! É a rua principal do burgo.

Mais afastada do centro é a rua Dr.Luís Teixeira de Macedo e Castro, lá para a zona oriental, ao pé do Bairro que foi "Marcelo Caetano", entre a Camarinha e o Peixe Frito.

O que nem toda a gente conhece é a figura destes dois Homens... que eu tive a sorte de ver estampada numa fotografia que o Dr.Soveral Rodrigues teve a amabilidade de me emprestar.

Ainda conheci, durante muitos anos, o Dr.Macedo e Castro que morava no edifício da Avenida Todi, onde é hoje o Millenium BCP. Era um homem de idade quando o conheci. Era um "velho charmoso" com uma bonita presença e que apesar da idade que tinha, gostava muito de passear, muitas vezes sozinho. Já não conheci o Dr.Paula Borba que havia falecido já quando cheguei a Setúbal em 1957... Já lá vão uns bons anos!...


O Dr.Luís Teixeira Macedo e Castro e o Dr.Paula Borba

Luisa Todi - 9 de Janeiro de 1753

Luisa de Aguiar Todi nasceu em Setúbal, na Freguesia da Anunciada. faz hoje 254 anos. Foi baptizada no dia 30 desse mesmo mês.


Era filha do músico de teatro do Bairro Alto, Professor Manuel José de Aguiar e de D.Ana Joaquina de Almeida.


Estreou-se naquele mesmo Teatro entre os 14 e os 15 anos no Tartufo. Aos 16 casou-se com o violinista italiano Francisco Xavier Todi que também ali trabalhava.
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Luisa Todi
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"Em grande parte graças ao marido, Luisa de Aguiar Todi pôde tornar-se rapidamente a notável cantora que assombrou a Europa daquele tempo.
Luisa Todi atravessou a Europa em autêntica e esplendorosa glória.O seu nome ecoou por todo o Velho Continente e ainda fulgura como uma das maiores estrelas, senão a maior, da arte lírica" (cfr.Oscar Paxeco 1957)

. Luisa Todi na Avenida Luisa Todi

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Já reparou que na pauta musical que ladeia o busto de Luisa Todi as notas musicais simulam o seu nome? Há muito setubalense, farto de por ali passar, que nunca deu conta desse pormenor!...

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17 Dezembro 2006

A morte de Luciano Santos

Faleceu em Lisboa, no passado dia 12 de Dezembro,
o pintor Setubalense Luciano Santos
cujo nome está indelevelmente ligado à nossa Cidade.
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Luciano Santos - Auto retrato - Óleo - 1959
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O Tríptico de Luciano que preenche o topo sul do Salão Nobre dos Paços do Concelho de Setúbal é uma das suas obras de maior realce e dá àquela Sala uma Majestade sem confronto.

. O Tríptico dos Setubalenses Ilustres no Salão Nobre da CMS

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Luciano Pereira dos Santos nasceu em Setúbal, a 25 de Março de 1911. Tinha agora 95 anos.


Num texto escrito há mais de 50 anos, António Ferro, Director do Secretariado Nacional de Informação (SNI) pode ler-se sobre o pintor setubalense:

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Há pintores que são modernos (moderno, para mim, significa a verdade que parece mentira…) por simples temperamento; alguns por fria razão intelectual; outros por moda ou snobismo; outros ainda por deficiência de recursos técnicos que não conseguem mascarar com o seu falso vanguardismo; certos, finalmente (às vezes nem sabem nem querem saber que são modernos), por motivos de ordem poética, porque os seres e as coisas, para eles, têm sempre um halo que as transfigura…Luciano pertence, a meu ver, a esta última categoria de pintores.”

Segundo umas Notas Biográficas e Críticas escritas em 1960, por Óscar Paxeco, “a vocação que desde muito novo evidenciou para as Artes Plásticas levou a Câmara Municipal da sua terra natal a enviá-lo., como seu bolseiro, para a Escola de Belas Artes de Lisboa, a fim de fazer o curso de Pintura.
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Como aluno daquela Escola foi-lhe concedida a “Pensão Ventura Terra” e conquistou depois o “Prémio José Malhoa”. O trabalho com que alcançou este “prémio” encontra-se na Sociedade Nacional de Belas Artes.

Ainda estudante, viu adquirido um dos seus trabalhos para o Museu da Cidade.

Em 1940, recebeu em sessão pública e solene, das mãos do Chefe do Estado, Marechal Carmona, o “Prémio Nacional” da 3ªMissão Estética de Férias, atribuído pelo Ministério da Educação Nacional.

Exerceu o Ensino Técnico Profissional nas Escolas Industriais de João Vaz de Setúbal, Machado de Castro e Afonso Domingues de Lisboa..

Sobre Luciano, escreveu o Dr. Celestino Gomes:”A obra do pintor Luciano não precisa de explicação porque se explica a si própria: existe, colocada certa no tempo e no espaço.

Em finais da década de 50, dizia de Luciano o “brilhante crítico de arte Dr. Fernando de Pamplona”:

“Na figura, abalança-se ao retrato – e fá-lo com vigor e simplicidade que surpreendem. Não procura a elegância, sequer a graça, mas tão somente a nitidez e a fria análise. Obtém, por vezes, efeitos impressionantes, apesar da intencional dureza do modelado e dos contrastes.

.(…) “Luciano soube descobrir e captar o carácter racial das mulheres da Nazaré, corajosas, rijas, afeitas às durezas da vida, às suas feras batalhas. Estão neste caso “Nazarena ”

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Nazarena - Óleo - 1946
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Entre os mais recentes trabalhos de Luciano, figuram o “Painel do Baptistério” da Basílica da Estrela em Lisboa, os frescos da Escola Industrial de Setúbal, a decoração da Igreja Nova do Barrio (Alcobaça), o baixo-relevo policromado , em cerâmica para o Hotel Cibra do Estoril. São também da sua autoria os três vitrais enviados há pouco com destino a uma nova igreja de Macau.

De toda a obra de Luciano é de salientar o seu recente “Tríptico dos Setubalenses Ilustres”, solenemente inaugurado por Sua Excelência o Ministro da Educação Nacional, no Salão Nobre do Município de Setúbal” (Óscar Paxeco dixit) .

Uma Sessão solene, em 08.06.1971

O Ministro Veiga Simão com o Tríptico em fundo.
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Não conseguimos apurar em que dia foi feita
a inauguração do Tríptico,
no Salão Nobre da Câmara Muncipal de Setúbal,
mas um apontamento no jornal "Setubalense"
de 22 de Dezembro de 1952,
sobre Luciano dos Santos, diz sobre ele que:

“...tem agora integrada a sua alma de fina sensibilidade
e todo o talento da sua aprimorada vocação,
num tríptico que emoldurará uma das paredes
do Salão Nobre da Câmara Municipal.
Já terá iniciado a pintura, no seu estúdio de Alcobaça.”
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Avenida dos Aliados - Óleo - 1944

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Praça de Bocage - Óleo - 1952


01 Dezembro 2006

Notícias do "Setubalense" - 1949

02-05-1949
3º Serão de Arte
A 7 de Maio realiza-se no Grande Salão de Recreio do Povo, o 3ºSalão de Arte.
Será uma festa caracteristicamente infantil.
Fará a apresentação Maria Manuela Madruga Antunes.
Não é de mais louvar a proficiente actuação de D.Maria Amélia Amil Matta cujas alunas, na sua maioria de 4 a 6 anos, exibir-se-ão em delicados motivos coreográficos.

O grupo é constituído por: Fernando Carlos Fuzeta da Ponte, Maria do Carmo Parreira Gago da Silva, Raul Jorge Ferreira Crujeira , Ana Francisca Cavalheiro, Maria Amélia Batista Ferreira, Maria Fernanda Ferreira Crujeira, Maria de Fátima Cabral Adão, Maria Cristina Gago da Silva, Miguel José Parreira Gago da Silva Carlos Fuzeta da Ponte, Mário Alberto Fernandes Ferreira, Maria Paula Cabral Graça, Maria Amélia Machado da Silva, Maria Irene Medeiros, Maria Fernanda do Vale e Maria Josefina Corrêa Figueira.

Os cartões de admissão encontram-se na Secção de Turismo. Já foram feitas requisições, o que não é para surpreender, dada a graciosidade do espectáculo e o fim altruísta a que se destina.


09-05-1949
Depois das comemorações alusivas à inauguração do magnífico edifício destinado ao Liceu de Setúbal que terminaram com um baile com um cunho de mocidade e distinção como ainda não tínhamos presenciado em Setúbal, assistimos no último sábado, a mais um Serão de Arte organizado pela apreciada professora de piano Maria Adelaide Rosado Pinto que, com o seu dinamismo, nos proporcionou mais um espectáculo inolvidável, em que a direcção da parte coreográfica esteve a cargo da professora Maria Amélia Amil Matta.

Obedecendo a uma ideia felicíssima, foi agora a vez dos mais pequeninos emprestarem o seu concurso e estes "Serões", cujo produto reverte a favor da organização dos Parques Infantis.

E, lá os vimos, a começar pela infantilidade enternecedora de Fernando Carlos Fuzeta da Ponte, o mais pequenino, alguns já nossos conhecidos, mas todos com a maior diligência em "representar o seu papel" a que os seus verdes anos emprestaram uma graciosidade encantadora. E para os ajudar a rememorar, pela vida fora, este "Serão de Arte" que um dia, já entre as preocupações da vida, não deixarão de lembrar com saudade, mencionaremos os nomes dos intérpretes, que os assistentes nunca deixarão de contemplar com a maior simpatia e carinho:

Maria Fernanda Ferreira Crujeira, Raul Jorge Ferreira Crujeira, Maria de Fátima Cabral Adão, Ana Francisca Cavalheiro, Maria do Carmo Parreira Gago da Silva, Maria Cristina Gago da Silva. Miguel José Parreira Gago da Silva, Mário Alberto Fernandes Ferreira Maria Josefina Corrêa Figueira., Maria Paula Cabral Graça, Maria Amélia Batista Ferreira, Maria Amélia Machado da Silva, Carlos Fuzeta da Ponte.

Deram, também, muito apreciavelmente, a sua colaboração, Maria Irene Medeiros e Maria Fernanda do Vale.

E a festa terminou com uma interpretação da professora Maria Amélia Amil Matta que se exibiu num bailado "Tempestade" de grande elevação, numa interpretação coreográfica de alto significado artístico.


14-05-1949
Tribunal – Anúncio
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O Tribunal anuncia que correm éditos de 30 dias, citando quaisquer pessoas que se julguem com direito à quantia de cem escudos, depositada na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, do legado deixado por António de Sousa Brito Maldonado Bandeira, Visconde de Montalvo, a Escolástica de Jesus Banha, que foi desta cidade.
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9 de Maio de 1949
O Juiz de Direito
M.Costa Reis


A propósito desta "notícia", voltei a lembrar-me do Dr. José Soveral Rodrigues e da sua "memória exemplar". Rebusquei nos meus apontamentos de 1994 e voltei a encontrar mais um pouco da Memória do Dr.Soveral.


(Nota sobre o Visconde de Mantalvo,
nas Memórias do Dr.Soveral Rodrigues.
Directório "Isolados" ,Arquivo "Dr.Soveral", Pág.11) :
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Viveu em Setúbal, no princípio do século, e era um homem "bruto", boçal, com poucos "princípios" e veterinário. Chamava-se Bandeira. (António de Sousa Brito Maldonado Bandeira)
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Uma viúva achou piada ao Bandeira, pegou namoro e casou com ele.

Passados meses morreu. O Bandeira herdou uma fortuna enormíssima e como queria entrar na Alta Sociedade, no tempo de D.Carlos, comprou ao Rei um título e uma herdade que ele tinha e era chamada Herdade de Montalvo.

Foi assim que ele ficou conhecido pelo Visconde de Montalvo.

Era dono de uma casa, um rés-do-chão alto com um pequeno jardim à sua volta, ainda existente, junto à Igreja de StºAntónio, na rua Nova da Conceição (Av.5 de Outubro) onde, até aos finais da década de 60, viveram a família Ponte Lopes, num dos lados, e o João Marcelino Nunes ( mais conhecido por "Meu Menino") no outro lado e onde, ao tempo da revolução do 5 de Outubro, viviam os pais do Dr.José Soveral Rodrigues, num lado e os do Dr.Leão Duarte, no outro, sendo estes, ambos, ainda muito miúdos.

O Bandeira era avô do Dr.Bandeira Ferreira, excêntrico primo do Vasco Serra e que, no início dos anos 70, era membro do Instituto do Património, ao tempo chamado " Instituto dos Monumentos Nacionais"(?), e tanto mal causou à terra onde nasceu, ao ter contribuído para a reprovação sistemática dos projectos de remodelação do Largo de Jesus que, sucessivamente, a Câmara de Setúbal apresentava, para que, sobre eles, os Monumentos Nacionais dessem o seu parecer. O Arquitecto Castro Lobo, recentemente falecido, viu três desses projectos serem rejeitados sob a batuta deste "descendente do Visconde", qualquer deles muito melhor do que aquele que a Câmara Socialista acabou por ver aprovado há cerca de um ano e lá se encontra, neste momento, para vergonha de quase todos os Setubalenses...

Mas voltemos ao Bandeira inicial.
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Apesar de Visconde continuava a ser um bruto...
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O Visconde andava sempre atrás do Calafate para para este lhe fazer uns versos, até que um dia António Maria Eusébio lhe respondeu.

O Calafate

"Pois, então, senhor Bandeira, lá vão hoje os versos que o senhor me pediu." E mesmo ali lhos recitou...


"P'ra que serve ao senhor Bandeira
Na casaca ter primor?
E p'ra que serve essa flor
Que fede mais do que cheira?
P'ra que serve essa cacheira
Feita com tanto trabalho?
E mais um "pindoricalho"
Que à cinta fica pendente
A bater constantemente
Na cabeça do c...
Sim!!... P'ra que serve ao senhor Bandeira?!..."

Subentende-se que o Calafate poderia ter acrescentado:
"...Se você continua a ser uma grande besta..."

Pela memória do Dr.José Soveral Rodrigues em 27 de Julho de 1994,
durante o almoço, no Restaurante do Hernâni, na Lagoínha.

==0==

Nota 1: O Dr.Leão Duarte era filho único do Dr. Leonardo Duarte que chegou a ser Tesoureiro da Câmara e teve uma grande paixão pela filha do então Reitor do Liceu Dr. Nunes de Almeida.

Nota 2: No "palacete" de rés de chão alto, atrás mencionado, e no qual moraram, naquele tempo, os "meninos" Zé Soveral e Leão Duarte, a família do primeiro ocupava o lado direito do prédio, i.é., do lado do Quebedo, enquanto que a família do segundo ocupava o lado esquerdo, ou seja, o lado poente.

Mais tarde, o João Marcelino Nunes viveu na casa do Dr. Soveral Rodrigues, tendo o Dr. Ponte Lopes alugado a casa onde viveu a família do Dr. Leonardo Duarte.

Em 1995 vivia no rés do chão, do lado poente, o tal Dr.Bandeira Ferreira, primo do Vasco Serra, e que foi em tempos Professor assistente da Faculdade de Letras em Lisboa.

27 Novembro 2006

Fernando Lopes-Graça - 27.Nov.1994

Faz hoje 12 anos que faleceu o maestro Fernando Lopes-Graça.

Fernando Lopes-Graça, nasceu em Tomar, a 17 de Dezembro de 1906 e foi uma figuras que muito marcou o panorama musical do séc. XX português. Desenvolveu uma intensa actividade cultural, artística, pedagógica e cívica.

Como compositor criou uma obra extensíssima que percorre quase todos os géneros musicais e que mereceu reconhecimento nacional e internacional ao longo da sua vida.

Fundou e dirigiu durante mais de 40 anos o Coro da Academia de Amadores de Música, para o qual escreveu centenas de arranjos de canções tradicionais, grande parte das quais recuperadas em colaboração com o etnólogo Michel Giacometti

Fernando Lopes-Graça com Dulce Cabrita e Michel Giacometti

O maestro Lopes-Graça tinha uma relação de amizade com a Mezzo-Soprano Dulce Cabrita, que era irmã do fotógrafo Augusto Cabrita com quem, na década de 70, tive muito bons momentos em redor da arte da fotografia, não apenas em actividades culturais relacionadas com a nossa cidade mas também na tertúlia da Filmarte, ainda no Chiado, no laboratório fotográfico do nosso comum e saudoso amigo António Paixão.

Foi com Dulce Cabrita que o maestro Lopes-Graça actuou no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, na noite de 5 de Novembro de 1971, fêz há poucos dias 35 anos, acompanhando-a ao piano em obras da sua autoria.



Numa primeira parte, ouvimos obras suas que tocou a solo a terminar, depois de termos ouvido a voz inesquecível de Dulce Cabrita acompanhada ao piano pelo maestro, cantando "Quatro Sonetos de Camões", "O Menino de sua Mãe" de Fernando Pessoa e "Terra e Céu" de Carlos Oliveira.


A segunda parte do espectáculo foi iniciada com a obra "Sete pecinhas", do "Álbum do Jovem Pianista", inteiramente da responsabilidade de Lopes-Graça pianista, para logo a seguir ele próprio ter acompanhado ao piano a Dulce Cabrita numa série de canções integradas sob o título "Cantares do Mundo".

Três semanas mais tarde, em 26 de Novembro de 1971, fez ontem 35 anos, o maestro Lopes-Graça voltou a Setúbal, e de novo ao Salão Nobre dos Paços do Concelho mas, desta vez à frente do Coro da Academia dos Amadores de Música que dirigiu com muita segurança em Cantos Regionais Portugueses

O programa do 2ºConcerto, em 21 de Novembro de 1971

Maestro Fernando Lopes-Graça

A sua militância cívica e política na oposição ao Estado Novo, iniciada publicamente com a fundação em 1928 do jornal político-regionalista A Acção (Tomar) de que foi director com apenas 22 anos, valeram-lhe perseguições, prisões várias e um exílio temporário em Paris (1937-1939), impediram-no do exercício de funções docentes no Conservatório Nacional e, já nos anos cinquenta, do próprio exercício do ensino particular. A apresentação pelas orquestras nacionais das suas obras musicais foi, em várias ocasiões, interditada. Pelo vigor, a persistência e o alcance artístico e ético da sua acção multifacetada, Lopes-Graça tornou-se uma das grandes referências da cultura portuguesa.

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Lopes-Graça morreu, na sua casa da Parede, em 27 de Novembro de 1994.

14 Dezembro 2006

Tomás Mateus

Tomás José Emídio Mateus fez o 7ºAno do Curso Liceal
no Liceu de Castelo Branco.

Colaborou nos primeiros Livros de Despedida realizados pelos "setimanistas" nos anos lectivos de 1935/36 e 1936/37, tendo ficado célebre a sua autocaricatura em 1937.

Tomás Mateus - 1937

30 anos mais tarde, Tomás Mateus era já um pintor notável, de grande nível.

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Em 1969, creio que por intermédio do Eng.António Barroso, então Vice-Presidente do Municipio, a Câmara de Setúbal adquiriu uma obra de Tomás Mateus que, até à data da revolução de Abril se mostrava no Gabinete da Presidência.


Não sei onde pára agora. Não sei se permanece no mesmo sítio, se foi deslocada para algum Museu ou se lhe perderam o rasto...


O óleo de Tomás Mateus pertença da CMSetúbal
dimensões 511 x 801
fotografado em 01.11.1971


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18 Novembro 2006

Um Soneto com 85 anos...

“Eu sei que fiz um Amigo...

Se fosse vivo,o Dr.José Soveral Rodrigues faria hoje 101 anos.



Dr.José Soveral Rodrigues


Como homenagem, e comemorando o seu aniversário, deixo aqui esta Evocação que o Dr.Soveral Rodrigues fez durante um almoço, na Lagoínha, em 14 de Março de 1996, sobre factos ocorridos na sua Juventude.

Branca Rosalina Cordeiro, filha de Francisco Cordeiro (Professor de Geografia e Ex-Director interino da Escola Municipal Secundária), era em 1920, uma menina de 17 anos que frequentava, com muita galhardia, a primeira e única turma do 7ºano do Liceu de Setúbal.

Era a melhor aluna do seu ano... a única que, naquele longínquo ano, conseguiria atingir a magnífica média de 14 valores!

O Zé Soveral teria 17 anos por essa altura e era um dos seis rapazes daquele pequeno grupo de finalistas...

Um dia, quem sabe se movida por uma onda de juvenil ternura, a Branca Rosalina fez um Soneto que ofereceu ao então jovem José do Soveral Rodrigues.


O Soneto


Oh! Quem me dera ser gentil criança,
Assim tão sedutora... uma alvorada...
Na minha idade, a vida mata e cansa
Buscando o bem...e nunca achando nada...

Ser pequenina, alegre e inocente
O ideal da minha triste vida
Que tem sido amarga, tão diferente
Sem amor, sem um beijo, entristecida...

Vejo-me agora cheia de alegria
Junto de alguém, e tanto lhe queria...
Com quanto amor batia o coraçäo

Mas tudo é sonho... Pudesse eu fitar
Suave e tristemente o teu olhar
E murmurar baixinho... Meu irmão...

É lindo este Soneto saído do coração de uma jovem apaixonada... mas foi muito bonito também, e enternecedor, ouvir um "jovem com 90 anos" retirar, aos poucos, do fundo da sua memória, estas palavras em verso que, um dia, já lá iam setenta cinco anos, uma menina enamorada lhe fez chegar ao fundo do coração...





Esta fotografia, tirada em 1922, mostra um grupo de alunos onde sobressaiem a jovem poetiza Branca Cordeiro, à esquerda em primeiro plano, o José Soveral Rodrigues, ao centro recuado, à direita do Professor que é o Dr. Cipriano Mendes Dordio que chegou a ser Vice Reitor em 1947 e Reitor do Liceu Nacional de Setúbal em 1919 e 1950. A figura feminina que se mostra à direita deve ser a aluna Isabel Leonarda Marques que foi a Directora Técnica da Farmácia Marques, na rua Arronches Junqueiro, até à data do seu falecimento ocorrido há alguns anos atrás.

Memória antiga e recente

Memoria recente e antiga
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