Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
.
Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
.
Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNquinta-feira, 30 de abril de 2020
quarta-feira, 29 de abril de 2020
conseguimos, pá!
Conseguimos, pá.
“o Horror, O HORROR”, no “coração das trevas”
Estamos a conseguir, pá!
Um Mundo Novo vos espera: aquele em que reine a Paz dos Cemitérios e da Roma Imperial.
No Planeta azul, cada vez mais cinzento, aos 29 dias de Abril da Era Comum
"Sonha" ou a degradação no tempo
o antes ...
... e o agoramente!
Notícias do Bloqueio II
Estão suspensas as palavras
Proibidos os gestos
de ternura, amizade e amor.
O silêncio invade as ruas
entra nas casas
senta-se á mesa da gente.
Que sentido tem dizer
amor
amiga
camarada
companheiro?
Que sentido tem
abrir as mãos e os olhos
e perguntar qual o significado do
que vemos, ouvimos, entendemos e sentimos?
Gaivotas loucas, alvoraçadas, enchem os ares
de movimento e ruído
enquanto a vida escorre pelos dedos
indiferente
medíocre
submissa.
1985.Outubro.02 - Setúbal
terça-feira, 28 de abril de 2020
Um 1º de Maio no tempo do fascismo [1962]
A despeito da indiferença da população e dos trabalhadores, as entidades governativas ordenaram medidas especiais de segurança, tendo a PSP montado um dispositivo de vigilância e de patrulhamento na zona do Terreiro do Paço, onde foram estabelecidas as aconselháveis precauções. Junto das esquadras da área foram concentradas forças para acorrer em caso de necessidade, enquanto os automóveis das brigadas moveis [da Legião Portuguesa] não deixaram de percorrer a zona. Também foram montados serviços de vigilância, nas gares e estações, como medida de precaução. (...)"
Acorreram os pelotões ao mesmo tempo que os grupos de desordeiros engrossavam, envolvendo, na massa, as muitas pessoas que transitavam despreocupadas. (...)
A força policial tentou afastar a multidão que então se formara num ápice, aconselhando, através de potentes altifalantes portáteis, as pessoas ordeiras a afastarem-se, o que muitos fizeram, e outros, embora o quisessem, não o conseguiram.
Á desobediência seguiu-se a tentativa de resistência e a Polícia viu-se obrigada a carregar de bastão em riste, no meio de gritaria e insultos dos manifestantes, sucedendo-se as correrias.
Não sem bastante trabalho a Polícia conseguiu fazer evacuar da praça, do lado oriental, os que ali se concentravam, tendo estes e mais outros grupos que então se formaram subido as ruas Augusta, da Prata e dos Fanqueiros. Nesta última artéria diversos díscolos desligaram os "trolleys" dos carros eléctricos para provocar o congestionamento do trânsito.
A Polícia teve de carregar novamente e os desordeiros, muito aumentados e continuando a misturar-se com a multidão que procurava, em vão, afastar-se desses locais, fugiam dum lado para logo aparecerem e se reagruparem noutro.
Disparos para o ar para intimidar os desordeiros
Perante a agressão praticada pelos desordeiros a Polícia viu-se na necessidade de empunhar as armas de fogo para impor respeito e intimidar os díscolos. Várias descargas, algumas de armas automáticas, foram feitas para o ar e durante algum tempo ouviu-se tiroteio.
Os elementos provocadores não cessaram entretanto a sua actividade, procurando alastrar a confusão até à Praça da Figueira e Martim Moniz, para onde fugiram perseguidos pela força pública.
O aparecimento de um esquadrão de cavalaria da GNR facilitou depois a tarefa da polícia, abreviando a dispersão dos desordeiros.
Atingido mortalmente quando actuava com os desordeiros na área da Madalena
Voltaram a repetir-se incidentes à noite
À noite, como atrás dissemos, depois de terminarem os espectáculos, outros grupos de desordeiros voltaram a tentar perturbar a ordem no Rossio e proximidades, obrigando os esquadrões da GNR e os pelotões da PSP a intervir mais uma vez. (...)
Num breve momento a Polícia teve de disparar alguns tiros de advertência.
Mais de uma centena de detenções.
No decorrer dos acontecimentos da tarde e da noite foram detidos mais de cem indivíduos que foram entregues à PIDE, que está a proceder a investigações sobre as suas actividades e apurar as responsabilidades que lhes cabem.
Entre as detenções efectuadas à noite figuravam duas senhoras e um homem que, dentro de um automóvel em que seguiam e haviam parado próximo de um ajuntamento que as forças da ordem dispersaram, injuriaram e ameaçaram a polícia.
Um outro indivíduo foi preso quando atirava pedras a um esquadrão de cavalaria. Na esquadra do Teatro Nacional foram-lhe apreendidos panfletos de propaganda subversiva que ele transportava dentro da capa de um livro.
A outros presos foram encontrados fragmentos de vidro com os quais chegaram a golpeara agentes da Polícia.
Temos informação de terem sido detidos três estrangeiros capturados no decurso dos incidentes.
A calma voltou a partir da madrugada.
Quando dos incidentes ocorridos à noite a Polícia mandou encerrar os cafés e casas de pasto existentes na área entre o Rossio e a Praça do Comércio. A partir da 1,30 da madrugada a cidade voltou à normalidade, mantendo-se, no entanto, de prevenção até ao alvorecer, as forças da polícia com intenso patrulhamento na Baixa.
O dia de ontem foi de inteira calma e apenas os estragos nalguns estabelecimentos, que ainda não tinham sido reparados, faziam lembrar as ocorrências da véspera."
Enquanto isto se passava em Lisboa, reinaria a paz noutras zonas do país, como na Covilhã, importante centro industrial onde, segundo o jornal que vimos citando, "o Governador Civil de Castelo Branco (havia comunicado) ao sr. Ministro do Interior ter recebido da Secção do Sindicato Nacional do Pessoal da Indústria de Lanifícios daquela cidade o seguinte telegrama da gerência duma fábrica de Cebolais de Cima, em que se empregam mais de mil operários: "Nesta hora em que tantos parecem esquecer o seu dever de portugueses, os operários da indústria de lanifícios de Cebolais de Cima dão o seu exemplo de trabalho, na ordem e no amor da Pátria"
No Porto a PSP dispersou os grupos de agitadores
Bem, não reinaria propriamente a paz em toda a parte, pois o Diário de Notícias anunciava que "no Porto a PSP dispersou os grupos de agitadores".
O esquema da notícia é o mesmo. Assim, segundo o jornal, "o 1º de Maio na cidade do Porto foi, para a a sua população, um dia de trabalho como outro qualquer. Todos os estabelecimentos funcionaram normalmente e nada houve até ao fim da tarde que fizesse prever uma alteração da ordem pública ou qualquer agitação".
Contudo não faltaram as medidas de precaução da PSP, o que não impediu os manifestantes de se manifestarem a partir das 18,30 .
Como em Lisboa houve feridos entre os manifestantes e a prisão de "alguns mais recalcitrantes" Tal como em Lisboa, "as correrias, diminuindo de intensidade a pouco e pouco, duraram até depois da meia noite, mantendo-se o serviço de vigilância enquanto foi julgado necessário."
Eis pois como a imprensa ao serviço do fascismo relatava o 1º de Maio, segundo ela obra de uma minoria de subversivos, díscolos e desordeiros, que forçavam multidões a manifestarem-se durante horas seguidas, obrigando à efectiva declaração do estado de sítio, apesar das forças policiais carregarem com os cavalos, dispararem tiros que matavam e feriam, e prenderem para que a PIDE averiguasse. e a "ordem pública" fosse mantida.
1 comentários:
- Vieira Calado disse...
- Eu estava lá e assisti, desde o princípio ao fim, tanto mais que morava na rua dos Fanqueiros.A polícia disparava para o ar?Pois. Disparou para uma janela, na minha rua, onde alguém (creio que uma velhota) observava as cenas...As cenas espalharam-se até à Rua do Salitre, se a memória não me falha.E até ao Carmo.Para quem olhava para o Rossio, desde a plataforma superior do elevador da Glória, onde eu estive, parecia uma guerra aberta, com tiros, fumarada, carrinhas da polícia, pequenos carros blindados, gente a fugir de um lado para o outro...Um abraço
- 10 Junho, 2008
segunda-feira, 27 de abril de 2020
Emergência ou Calamidade: OS MEXILHÕES E OS JOGOS DE ALTO RISCO ENTRE MARCELO & TÓ COSTA
Não, não são desenhos meus
* Victor Nogueira