Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

o regresso a Luanda, em 1974

* Victor Nogueira



Foto de família - o regresso  a Luanda, em Maio de 1974, após a "licença graciosa". 

Completamente alheia ao terramoto que foi o 25 de Abril, a minha mãe regressou a Luanda.

Em 1966 vim para Portugal, prosseguir estudos universitários, num país que então já era para mim o "estrangeiro"




As minhas idas a Luanda a partir de 1967 acabavam em "tragédia" com o meu pai,  contra a minha vontade,  puxando a conversa para a política e eu lhe contrapunha  que aquela era uma guerra perdida e que a independência de Angola era inevitável, quer com um regime multi-racial como o preconizado pelo MPLA, quer com um regime da minoria branca, como o de Ian Smith na Rodésia do Sul,

Se havia "censura" em Portugal, a partir de 1961 ela passou a ser férrea em Angola, até aí mais liberal, com a autêntica manipulação de que "Angola é nossa", mesmo influenciando  quem até aí não era afecto a Salazar e defendia a independência de Angola face a Portugal.+

A ironia é que o regresso tenha sido feito no transatlântico "Infante D. Henrique", da Companhia Colonial de Navegação (CCN), e que a tragédia tenha sido o chamado "retorno" a Portugal de centenas de milhares brancos e negros, pouco depois, muitos dos  quais nunca tinham estado em Portugal ou que de alma e coração, como o meu pai,  se consideravam não portugueses,  mas angolanos, que a long time ago haviam preconizado a independência de Angola multirracial, como defendia o MPLA.

A tragédia é que muitos brancos acabassem a defender a UNITA, um movimento racista e trIbalista, apoiado  pela PIDE e pela a União Sul-Africana, a do "apartheid".

Porque em abono da verdade se diga, nem o Manuel nem  a Maria Emília, alguma vez foram racistas ou defenderam o apartheid.


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