* Victor Nogueira
DOMINGO, JUNHO 03, 2007
... quando não lhe ferra o dente !
E podia lá deixar de falar nos gatos?
Quantos aos gatos, eram mais que muitos, e sentavam-se em cima da mesa e, quando entendiam que eu não lhes estava a ligar, sentavam-se em cima do livro que eu estava a ler e se continuasse a ignorá-los punham-se às turras com a cabeça no meu queixo. Enquanto lhes fazia festas punham-se em pé, lombo arqueado, cauda erguida, ronronando. Outras vezes lambiam-me o braço com a sua lingua áspera.
Uma vez a gataria era tanta que a minha mãe pegou numa gata e nos filhos recém nascidos e levou-os de carro para longe, para outro bairro. Esquecemo-nos do felino até que um dia a gata, esquálida, apareceu no quintal com um gatito agarrado pelo cachaço. E pronto, assim ela e o filho lá ficaram.
Quantos aos cães, ainda duas notas. Havia um, creio que o Jack II, que quando ia nas férias grandes a casa ainda eu vinha a centena de metros de casa e já ele começava em loucas correrias, do fundo do quintal para a frente da casa, com derrapagens estonteantes na mudança de direcção, saltando como louco à minha volta. mal eu saía do carro. Os gatos, esses recebiam-me com indiferença e altivez que os caracteriza. Lá em casa cães e gatos davam-se como Deus com os anjos.
Doutra vez apareceu no quintal um cão enorme, esquálido, do tamanho dum lobo, cambaleante de fome. Foi adoptado por mim e pelo meu irmão, mas aquilo era uma fortunaem carne para alimentá-lo. Tinha um defeito - atirava-se aos negros que entrassem lá em casa, com relutante excepção e condescendência para a lavadeira Maria e o criado Fernando. O carteiro, esse passou a atirar as cartas pelo portão e ala que se faz tarde. O cão apareceu morto um dia, talvez envenenado por alguém.
Isto as palavras são como as cerejas. Em tenpos o meu pai, contra a vontade da minha mãe, deixou-lhe uma cadela em casa, no quintal, em Paço de Arcos. Era uma cadela simpática e eu teria ficado com ela, se eu tivesse quintal. Entretanto a minha mãe teve de vir para minha casa e a cadela, quando o meu pai ia a casa da minha mãe, entrava, ia até à cozinha e percorria todas as assoalhadas, acabando na sala de estar, sentada, quieta, sossegada, olhando para o sofá onde a minha mãe, ausente, se costumava sentar e lhe fazia festas. Pensaria? Em quê?
E já repararam que há gatos e cães inteligentes, que só atravessam nas passadeiras ou acompanhando os peões quando o sinal fica verde para estes? Mesmo assim há automobilistas que indiferentemente lhes passam por cima.
Sem comentários:
Enviar um comentário