* Victor Nogueira
As que brincam aos pobrezinhos. Os que mandam aguentar, ai aguentar. Os que mandam emigrar, mas não saem da sua zona de conforto (no Governo, nos conselhos de administração, em off-shores), os que chamam piegas aos portugueses (m/f) quando sempre foram os meninos da mamã e os queixinhas na escola ("não fui eu, sessôra, foi aquele"), os que acham que o desemprego é uma nova oportunidade para melhorar de vida, os dos que dos sem abrigo apenas conhecem aqueles que dormem no pórtico do seu banco da usura enquanto a polícia os não enxota (aos sem-abrigo, naturalmente). As que vivem da caridadedezinha noutros bancos que enchem a bolsa do grande patronato. Aqueles que mandantes ou simples manageiros consideram a humanidade descartável, incluindo que entre o diabo e o inferno escolhem o grande patronato, como seguro ugt. (VN)
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Escreve Pacheco Pereira no Abrupto
«A dama Espírito Santo que disse ao Expresso que os da sua laia, os ricos, iam para a Comporta “brincar aos pobrezinhos”, também vale pelo que vale. Zero. Mas já que a dama gosta de brincar “aos pobrezinhos”, então vamos brincar a sério. Vamos atribuir casa no Barreiro à dama, num dos dormitórios lisboetas que ali se fizeram há vinte anos, dar-lhe, vá lá, mais do que o salário mínimo nacional, 600 euros brutos, por exemplo, dar-lhe um emprego em Lisboa, num lar da Misericórdia, numa cantina, que é o que faz quem ganha esta fortuna, um marido a preceito, talvez funcionário da Câmara, mil euros brutos, dois filhos que está bem para a natalidade da classe dos ricos, agora a brincar aos pobrezinhos. Depois, acordamos todos os dias a dama, às 6 da manhã, merenda para os meninos, barco, autocarro, oito horas de trabalho, mais autocarro e barco e fazer o jantar. Aturar o marido, os filhos, limpar a casa. No dia seguinte, a mesma coisa, no dia seguinte, a mesma coisa. Um ano a “brincar aos pobrezinhos”, e aos “pobrezinhos de cima, porque os pobrezinhos de baixo estão na limpeza e no desemprego. Um ano. Sem Xanax. Ao fim do ano, volta para a Comporta. As mãos não são as mesmas. O cabelo não é o mesmo. A roupa não é a mesma. O marido e os filhos não são os mesmos. A cabeça? Não sei. Mas também não deve estar na mesma. Um ano a 600 euros não ajuda a querer “brincar aos pobrezinhos”. Agora já podem dar-lhe o Xanax, o Valium, o que quiser. Vai precisar.»
Está Penélope liquefeita
desfibrado o pensamento
sem vir a hora escorreita
que branqueie o vento
Pé ante pé pela estrada
segue feliz o riacho
busca a foz, a entrada,
que não seja em capacho
Está o ar de suão, abafado
sem eira nem beir'a verve
que lânguida de cansado
não arrefece nem ferve
Setúbal 2015.08.02
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