Este fim de semana vim até à minha "terra-natal" emprestada e que me adoptei - Paço d'Arcos. Mas a crónica desta viagem será para outra altura. Hoje foi a noite de S.João e do 32º aniversário do Rui Pedro, miúdo que era ainda ontem, tal cono a Susana, a irmã, que em Agosto festejará mais um aniversário, que já não deve dizer como em adolescente, para "crescer" - para o ano faço 1 6 anos qunsado em Junho ainda só tinha ... 14!
Noite de S. João, tantas que passámos na feira de évoraburgomedieval, abafados pelo calor, o Salão Central fechado para férias, reabrindo de seguida na "esplanada" que já não existe, substituída por um paralepípedo. Esplanada como a de Setúbal, onde agora é o Tribunal de Menores, sem nada a ver com as de Luanda - Miramar, Avis, Tivoli, Império.Supra-sumo era mesmo o Miramar, no cimo do morro na Cidade Alta, a vista espraiando-se pela baia onde se reflectiam as luzes da Marginal e da Ilha do Cabo, com que o estuário do Sado ou "baíia" de Setúbal tem alguma semelhança quando vista do forte de S. Filipe. Por esta altura em Évora dividiamo-nos entre as piscinas, a frescura da feira à noite e a preparação dos exames da 1ª época, verdadeiro e opressivo colete de forças.
E se no Porto, várias vezes fui com as minhas tias caçulas para a féerie das Fontainhas. De que vi hoje, na televisão, a reportagem do fogo de artifício, espectáculo deslumbrante com aliás sucede aqui em Paço de Arcos, no último dia das Festas do Senhor Jesus dos Navegantes, em Agosto.
Em Setúbal deixei de ir à Feira de Santiago, desde que a mudaram para as Manteigadas, cujo som abafado passei a ouvir no último andar duma torre no cimo dum encosta com um parque verde ao sair da porta. Mas para mim feira feira era na Avenida Luísa Todi. Tal como deixei de ir à Feira de Azeitão quando a trasladaram da rua central de Vila Nogueira para um campo feito a régua e esquadro.
E vamos às memórias, pouco rendilhadas. Como quem ao escrever esta nota marca o ponto ou assina o livro de visitas.
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Em 1995 resolvi concorrer ao concurso das marchas populares de Setúbal, com pseudónimo.. Fartei-me de ouvir marchas de Lisboa para apanhar o ritmo e o tom, mas não ganhei e, sem falsas modéstias, acho que as vencedoras eram de qualidade inferior ás minhas, que também me parecem "musicáveis". Mas ... enfim ! Na altura as letras vencedoras eram musicadas posteriormente. Mas entretanto passou a ser exigência que as letras fossem acompanhadas pela respectiva música pelo que terminou a minha carreira "marchista".
Aqui ficam as quadras que escrevi no passado milénio
Setúbal, terra d'encanto
João do Grão
Venham ver a nossa terra
É jardim à beira-mar
Do vale ao cume da serra
Um espelho d'encantar.
Póvoa doce, sem igual,
Pescado com moscatel
Trigo, pão, um laranjal,
Bem perfumado, com mel.
REFRÃO
Ai venham ver, sem maldade!
Com balões, doce florir,
Gaiata, namoradeira,
Sempre jovem, a sorrir.
E bailando sem canseira
Ai venham ver,sem maldade!
Ardem nossos corações
Em cravinho de papel,
Cantam Bocage, canções,
Em versinho d'água-mel.
Ai venham ver,sem maldade!
Com este mar, rio á janela,
Em nós cant'a liberdade
De manjerico, singela.
E azul da mocidade.
Meu amor vem á janela,
São os Santos a bailar,
Vai-te embora, sentinela,
Fiquem todos a cantar.
Com o povo a sorrir
E bondade no olhar,
Sem vontade de partir,
Numa noite de luar!
Setúbal, sempre varina
Manuel Vicente
Setúbal sempre varina
Capital do pescador
Terra airosa e mui ladina
Póvoa com sal e calor.
Venham ver a nossa terra
Com arquinho e balões,
Num tempo de paz, sem guerra,
Em florindas tradições.
REFRÃO
Baila Setúbal a cantar,
Gaiata, namoradeira,
Com o Sado ao luar
Corações numa fogueira!
Baila Setúbal sem parar,
Alegre, bela e vistosa,
Com a brisa a marulhar
Numa canção preciosa.
Baila Setúbal, um altar,
Com giesta e rosmaninho,
Os golfinhos a pular
Numa terra de carinho.
Valha-nos Sant'Antoninho,
Com mil cravos de papel,
Procurand'o sapatinho,
P'ró casamento sem fel.
Cada canção, um desejo
Em cantata de papel,
Manjerico no cortejo
Da nossa terra sem fel.
Setúbal mar de prata
Maria Papoila do Mar
Setúbal nasceu,
Com um mar de prata,
Setúbal cresceu,
Generosa e farta.
O rio tem pescado,
No vale com giesta
Por todos bem amado,
Com o povo em festa.
Setúbal navega,
Na sua falua
Vistosa, boneca,
Com o pé na lua.
Cantem os andores,
No azul do céu,
Amam os amores,
Em doce pitéu!
REFRÃO
Venham ver Setúbal,
Airosa e ladina,
Dançando Asdrúbal
Com sua varina.
Venham, não se cansem,
No baile da terra,
A tristeza encerrem,
Com o mel na guelra.
Cantem salmonetes
Saiam da janela
Pulem os pivetes
Na rua singela.
Lá vem Setúbal,
Cheira a rosmaninho
Não é Tentúgal
Mas belo cantinho.
Tem bom moscatel
Doce São João,
Pedro no batel,
António na mão.
Com a boca um beijo,
No arco em foguete,
P'ra matar desejo
Sem qualquer ralhete.
Contem esta trova,
Ao Santo confessa,
Não há Casanova
Sem falsa promessa.
*****
À noite não fui gozar o S. João. Preferi ir para a cama. Acordei às duas da manhã. Disso se encarregaram as minhas tias Isabel e Teresa, batendo me suavemente (irra!) com os alhos e falando pelos cotovelos. (Diário III - 1963 - pag. 196) (1)
1 - Trata-se duma festa muito animada, que se desenvolve pela madrugada dentro, sobretudo na encosta das Fontainhas, com os concursos das rusgas e das cascatas.
*****
Uma única vez fui à noite de Santo António em Lisboa, com as minhas tias Lili e Esperança e mais pessoas amigas. Elas deliciaram-se com as sardinhas assadas mas eu nada comi. As ruas estavam atravancadas de mesas com barricas cheias de água nunca mudada e onde mergulhavam a louça talheres e copos dum freguês para o outro, os pratos e copos "lavados" engordurados e os talheres com restos de sardinha agarrados. Era fruta demasiada para o meu estômago e sensibilidade pelo que passei fome enquanto o pessoal se divertia e em vão me queria convencer a saborear os "pitéus". [2011.06.23]
As feiras de Évora, Setúbal e Lisboa
O Rossio de S. Brás está praticamente livre de feirantes. Restam apenas as barracas de louças e bugigangas. Depois do meu regresso de Beringel comprei um copo, uma caneca, colheres, um prato e uma tigela, que seria para o "Nestum" mas acabou por ficar para a fruta. (MCG - 1972.07.10).
Hoje será a noite de S. João, de festa para os eborenses, que passearão lá pela Feira. Este ano há dois circos; o resto é como nos anos anteriores, com a novidade de haver barracas dos partidos políticos, onde comprei umas publicaçõezitas. (MCG - 1975.06.24).
Hoje é o último dia oficial da Feira de S. João em Évora. A Feira estava em decadência, cada ano que passava. Mas desta feita, para além de muitas tendas de comerciantes (vestuário, calçado, plásticos, louças, mobiliário), havia as tradicionais de comes e bebes bem como os divertimentos. Não vi o poço da morte - creio ser o 1º ano que não vem - mas em contrapartida havia 3 pistas de carros eléctricos e nada mais nada menos que 3 circos, acontecimento inédito: o Billy Smart, o Royal e o Mariano. A Celeste foi ao 1º e diz que é igual ao que vimos em Lisboa, no Coliseu. (NSF - 1976.07.05).(...)
Quando era estudante, em Évora, a Feira de S. João era um alvoroço - embora coincidisse com a época apertada de exames - onde a malta ia nas frescas noites, em grupos, passear ou "espairecer" pelas diversões e movimento. Depois, bem, depois a Feira de S. João, como a Santiago, deixaram de ter o encanto de outrora, tal como o circo, maravilha, delícia e alegria sempre renovada da infância. Hoje, do circo, gosto dos palhaços e dos ilusionistas, (embora nem sempre), ao contrário do que sucede nos programas que a TV por vezes transmite. Das feiras, hoje em dia, vejo as exposições e um ou outro espectáculo, extasiando-me nas tendas das vergas e olaria, que jamais compro. (MMA - 1986.07.28).
No regresso passámos por uma feira ali na Luz, em Lisboa, defronte ao Colégio Militar. (1) Era uma feira praticamente de louça e bugigangas, quase todas feias para o meu gosto. Comprei dois bonecos de barro (artesanato). Havia lá umas canecas de barro, em forma de sorridentes e rechonchudos monges (dispunha bem olhar para eles, tinham um ar simpático) Estou arrependido de não ter comprado um. Ficará para a próxima. Aquilo é uma roubalheira. Um tipo tem mesmo de regatear. Chegam a fazer abatimentos de 50 % sobre o preço inicial. Safa! (MCG - 1973.09.19),
A Feira Popular de Lisboa é muito sem graça. Nada nos saiu nas rifas. Não encontrámos as barracas das farturas (seguir o cheiro não foi suficiente). Joguei nas máquinas dos carros de corridas. As pistas dos carros de choques estavam quase vazias e assim não tinha piada andar nelas. De resto são mais caras que em Évora (também alguma diferença deveria haver entre os provincianismos de Évora e de Lisboa).
Ah! mas o que gramei, onde apanhei dois valentes sustos, donde saí gelado mas com uma vontade enorme de repetir a proeza, foi na montanha russa. Aquilo é que é emoção! Ao menos enquanto um tipo não se habitua, Duas descidas bruscas (um tipo até trava com os pés, o coração a saltar- lhe pela boca), uma curva a grande velocidade, toda inclinada (e um tipo, esquecendo -se da força centrípeta, agarra -se desnecessariamente para não ser projectado)... Também no outro "comboio fantasma", que afinal nada tinha de especial, salvo os ruídos (bater as portas e chiadeira) e a escuridão. Não tem qualquer emoção. (MCG - 1973.09.22),
Começando naquela Igreja e estendendo-se quase até ao Rio, passando ao lado da Igreja de Santa Engrácia, Panteão Nacional, estende-se a Feira da Ladra onde se encontra um pouco de tudo. (2) Especialmente roupa, mas também fardas, sapatos, capacetes de aço e caixas vazias de munições (relíquias da I Guerra Mundial ?), malas, sacos, carteiras, ferro-velho, antiguidades, móveis, moedas... enfim. De tudo o que vi, no entanto, só me interessava um par de candelabros. Mas não cheguei a perguntar o preço. Havia um jardim com vista para o rio e para a parte baixa da Feira.
As ciganas vendiam roupa e tinha a sua piada ver as pessoas experimentarem calças por cima das que traziam vestidas. Havia de ser uma grande experimentação! Já eram 17 horas quando lá chegámos. Havia um mar de gente modesta (mais alguns hippies e estrangeiros), que se acotovelava e furava, enquanto os automóveis passavam tangentes aos peões e buzinavam. (3).
Não comprei nada. Só me interessavam antiguidades, mas receio ser facilmente enganado, pois não sei avaliar aquela mercadoria. Mas estendais de antiguidades havia poucos; a maioria era ferro-velho: dobradiças, fechaduras, chaves enormes, bicos de fogões a gás... Ouvi lá um negociante de antiguidades dizer a outro que à 3ª feira o negócio é melhor. (XXX - 1973.09.23) .
Cheguei há pouco da Feira [de Santiago], onde fui dar uma volta e dois dedos de conversa com o pessoal conhecido após o jantar lá em baixo no Centro, única maneira de variar o cardápio, pois ao almoço não tenho tempo para grandes variações e aprendizagens. Tal como as mulheres, os homens, desde pequeninos, deviam ser ensinados a cozinhar coisas variadas e saborosas, embora simples. Felizmente que em tempos descobri um livrito acessível que posso consultar e seguir sem necessidade de ter ao lado, para consulta permanente, um dicionário da especialidade, para decifrar os termos técnicos como "refogado" ou "esturgido" e quejandos. (XXX - data ?) (4)
.Em Setúbal é tempo da Feira [de Santiago] onde fui duas ou três vezes e onde sempre vou encontrando gente conhecida para dois dedos de conversa. Este ano há apenas uma exposição dedicada a uma das celebridades cá da terra, que foi a cantora lírica Luísa Todi. Falta me ver a parte da cerâmica e olaria, embora este ano já tenha comprado o "recuerdo", cerâmica dum país andino ou como tal vendida. Mais uma "bonecada" ali para uma das estantes, para dificultar a limpeza do malfadado pó que mal acabado de limpar logo renasce dum modo que faria inveja à capacidade reprodutora dos coelhos! (MMA - 1993.08.03)
g
1 - Realiza-se anualmente, durante o mês de Setembro.2 - Realiza-se todas as 3ªs feiras e sábados, de manhã. Trata-se duma feira cujas raízes remontam aos tempos medievais.3 - Outra feira que merece referência é a do Relógio, no bairro de Chelas, aos domingos de manhã.4 - Passe a publicidade, trata se do Guia Prático de Cozinha, da autoria de Léone Bérard, editado pela Livraria Bertrand em 1977.
Voltei à Feira da Luz há uns anos, quando andava a palmilhar e fotografar por todos os recantos de Lisboa e descobri ali perto uma "aldeia" perdida no meio da cidade - Carnide. Como outra, salvo erro ali para Moscavide, paredes meias com a Estação do Oriente. Pois nesta feira da Luz em cima duma camioneta estava um vendedor ambulante, daqueles que em grande "tragédia" generosa, vendem a mercadoria ao desbarato, sempre mais uma peça em mãos largas para desespero no jogo encenado com a mulher avessa a tão prejudiciais "larguezas". Pois quis fotografar o vendedor que se apercebeu e num jogo de esconde esconde a cara com a mercadoria frustrou a minha sessão fotográfica, um olho em mim, outro na assistência, onde havia sempre quem caísse na esparrela e de lá saísse ajoujado de mercadoria, talvez desnecessária - mas era uma "pechincha" ! - como sucede em super ou hipermercados ou nos saldos e baixas de preços..
Fica apenas referência porque não tenho à mão as notas de outras feiras por onde tenho deambulado, como as de Grândola, Carcavelos, Sintra, Mafra ou das cercanias das Caldas da Rainha, no tempo de alguns anos em que a minha vida se repartia por esta cidade e pelas de Setúbal [onde vivia(mos), eu e F., alternadamente] e Lisboa (onde trabalhava). Ou das velharias, em Setúbal, Paço de Arcos, Algés, Vila Nogueira de Azeitão ..
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