* Victor Nogueira
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Mas a noite nem sempre tem luzeiros, nem sempre tem estrelas e deste modo regressaram o silêncio e a ausência de Joana Princesa Cujo Nome Não É Desvendado. Pelo que João Bimbelo partiu em sua demanda, do cimo do monte ao fundo do vale, por fragas e rochedos, por entre janelas entreabertas, portas fechadas, soleiras que se não ultrapassavam, ficando o riso de João Bimbelo apenas à flor da pele, sem marca que se visse.
Quando João encontrava Joana e ouvia a sua voz, havia estrelas, sol e gaivotas loucas no horizonte, num crepitar de mil candeias que enchiam os ares com a leveza e a fragilidade dum murmúrio de ave a navegar. Mas perante o silêncio e ausência Daquela cujo nome não é desvendado, transformava-se João em novelo emaranhado e cinzento como riacho sem norte ou águia sem rumo. E assim por todo o lado surgia uma pesada, envolvente e crescente aridez, invadindo todos os poros e o menor interstício, as palavras e os gestos esfarelando-se em negro de chumbo, um peso no lugar do coração, a respiração cortada e apertada por um punhal longo e profundo.
Porque perante o silêncio e ausência da Princesa Donairosa Cujo Nome Se Não Desvenda, sentia--se João Baptista como se fora um cego, que tacteia a estrada para chegar a ela, sem saber se na encruzilhada não teria uma vez mais tomado o caminho errado e que os afasta de novo cada vez mais. Pois dentro dele João só tinha a voz e o silêncio dela, para além desse duplo desejo seu de estar com ela e de sabê-la consigo; perante o silêncio de Joana Princesa não sabia João se não era para o vazio da ausência dela que ele se dirigia. Apesar de outros serem seu desejo e vontade. Mas nada pode o vento contra o mar a não ser encrespá-lo em ondas alterosas ou torná-lo chão como um espelho liso. E aos homens nada resta senão orientar ou recolher as velas para que a nau prossiga ou se não afunde.
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