* Victor Nogueira
As obras, novo edifício, desde a antiga entrada
principal até ao antigo pavilhão. As filas de espera. As precedências. Da
inutilidade de ser dos primeiros, por causa das categorias. As
"habilidadezinhas" para sair‑se da bicha. O encontro com a enfermeira
de Luanda. A história da outra vez. A história desta vez. O mano do mano (que
sou eu)
()
O
pequeno jardim nas traseiras. A calma e o sossego, sentado num dos bancos, o
chilrear dos pássaros e o ruídos dos carros passando lá em baixo. O jardim é
quadrangular. Três topos estão ocupados com edifícios térreos, com, inúmeras
portas e alguns aparelhos de ar condicionado. No outro topo, para o qual estou
voltado, avista‑se, por entre os edifícios da capela e do hospital, por entre
as árvores desfolhadas, a Ponte e o Cristo Rei. O jardim tem uma árvore grande,
debaixo da qual escrevo, e algumas outras pequenas. Outras pequenas árvores, o
relvado, a fonte, flores cor de laranja nas áleas empedradas. Aqui perto de mim
um homem de chapéu e cigarro na boca, vai arrancando a erva que cresce por
entre o empedrado. Trabalho lento, entremeado de conversa.
O Nuno, que me
cravou desenhos e agora não me larga. Deixou de ir para casa. A conversa da tia
ou mãe: "De onde conheces esse senhor para estares a falar com ele?".
A miúda com a cara queimada, de ar triste e casaco encarnado, que não fui capaz
de acarinhar. Nuno não me deixa escrever, empoleirado em mim, que lhe faça
desenhos e faz‑me inúmeras perguntas. O meu nome, porquê? Que faço ? Que são
férias ? Se ando no trabalho, onde moro.
Passam pessoas, que vão à junta
[médica], que caso a pessoa esteja doente (!) permite o prolongamento da
licença graciosa. O sal que deitam para que a erva não cresça, mas cujo efeito
dura apenas dois meses. A história de Átila, o flagelo de Deus. O tempo que se
espera inutilmente. (NOT - s/ data - 1972/73 ?)
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