1. AMORAMIZADE(des)DESENCANTO
ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE
(Camões)
Nada tenho para te ofertar
Que saiba: joias, discoteca, dança;
No tempo busco vária temperança
que também vos dão bom estimar.
Um com outro bem quiz enredar,
Mas parece ser outra a contradança
Que muda a tua dor em festança,
Por aqui me deixando a vaguear.
Lembro a tua lábia, seio moreno,
Tua feição que muito me agradou;
A pele, doce ardor despertou
Que na barca me fez vogar, sereno,
Porém não está o meu coração pleno
De alegria, que por vós soou:
Nem grã Camões ou milionário sou
Para contigo navegar, no Reno.
Erros meus, má fortuna, amor ardente,
Não fazem da jornada bom soneto
Nem do navegante melhor "gineto"
Pois em ti está meu pensar, descontente'
Assim na Luísa Todi jazente,
Vogando entre o lume e o espeto,
Bem vivo, com meu bom ou mau "aspêto"
Buscando tua razão e paz, somente.
setúbal 1989.09.10
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4. TROCALETRA
Mar profundo
mar imenso
Guarida botão
em crescendo
uma flor
setúbal 1985.Setembro.18
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5. PRAXIS
DE BREU ESTÁ O CÉU NÃO HA POR QUEM CLAMAR
No horizonte não há qualquer linha
De breu está o céu, não há quem clamar;
Perdida a colorida janelinha
Não há, motivo algum, p'ra canter.
Uma a uma vão-se partindo as cordas
Que à vida nos prendem, veramente,
Uma de cada vez, cerrando as portas
Dia e noite, tão repentinamente.
Não há estrelas nem brisa no mar;
Em círculo de pedra encerrado,
Não há sol nem luar p(a)ra (en)cantar.
Riso e pranto no silêncio emprerrado.
setúbal 1999.09.15 (2)
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8. QUADRAS SOLTAS E RIMANCE
HAVERA BEM QUE PERDURE?
João Baptista é gestor
Do Pessoal saneado
Pelo fero pegador
De vitelas, apeado.
Em urbana prateleira
Sem planear o puseram,
Não lhe ligando, asneira,
pior bourrada fizeram.
É preciso ter engenho
E também alguma arte
P'ra mostrar algum empenho
Na quarentena, á parte.
Não há bem que sempre dure
Nem mal que se não acabe;
No galho está um lemúre,
Sabiá sem claridade!
Vai embora, vai partir,
0 trem da grã palhaçada?
Alguém poderá cair,
Oh! Mas que bera maçada!
Talvez fiquem as saudades
Da rainha, que doçura,
Tão rápida nas berdades,
No enredo: que secura!
1989.09.11
SETÚBAL
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9. SONETOS
O AMOR É UMA COMPANHIA
É bem, uma companhia, o amor
Por alguém já não querer andar sózinho,
Buscando a claridade e o carinho
P'ra noite e dia terem belo valor.
De Olimpo a vida ganha outro sabor
Desde que se encontre o bom caminho
Do brocado e mui verdejante linho
Vestindo o mar e o céu de calor.
A fera guerra o amor já serena
Fazendo brotar, velha, novas mágoas
Na sempre distante felicidade.
Em doce e renovada cantilena
Por vales e montes partindo fráguas,
Com belo engenho, arte e qualidade.
1989.09.03 (2)
SETUBAL
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NO MUNDO ALGO SE PERDE OU MAL CRIA
Na vida é bem, não desconcerto,
Em cada dia nascer novo mundo;
No cimo do monte ou no mar profundo
Natureza e vida buscam acerto.
Desde sempre tem havido conserto;
Veio o homem meter-se no assunto
E agora bem dá volta ao bestunto
P'ra ver se isto não fica um deserto.
Com fera guerra mata seu irmão,
A vida destruindo, chacinando,
Tudo coberto de fome e ruína,
Sem que se possa cultivar o pão.
Sol, céu, flores e canto se calando;
Em nós a tristeza desta chacina.
SETÚBAL 1989.09.05
vem de
https://www.facebook.com/notes/victor-nogueira/-a-poesia-nas-palavras-em-setembro-02-/10151665242639436
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