Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

.

Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

.

Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

LocalizaçãoJardim Guerra Junqueiro (Jardim da Estrela), QuiosqueData1937
O Jardim da Estrela (ou Jardim Guerra Junqueiro) foi construído no século XIX, por iniciativa do Conde de Tomar, no local de um pequeno olival, sob a orientação do jardineiro francês Bonnard, coadjuvado pelo português João Francisco, tendo sido inaugurado a 3 de Abril de 1852. Famoso pelo Leão da Estrela, oferecido ao Jardim, em 1871, pelo explorador africanista Paiva Raposo é um local aprazível pelo arvoredo, bancos convidativos, esplanadas, coreto, lago, parque infantil, jardim de infância, miradouro...

------------


Campo de Ourique: onde o passado e o presente se encontramTraços da história e da vida de um bairro burguês

A.G.M.
A Tentadora, pastelaria centenária onde os moradores convivem
Campo de Ourique é um daqueles locais onde o passado se encontra com o presente. A vida, neste bairro histórico de Lisboa, é agitada porque acompanha o desenvolvimento citadino, mas também é serena como a expressão dos rostos dos habitantes mais antigos.

Numa mesa redonda, Eugénio Santos, na lucidez dos seus 93 anos, lê as notícias de um jornal diário. Há muito que passa grande parte do seu tempo no Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. “Venho almoçar e passo aqui a tarde a jogar dominó e a fazer outras actividades”, diz.
Eugénio Santos tem ainda a disposição da juventude e, por isso mesmo, faz questão de participar na peça de Natal que o Centro está a preparar. “A peça chama-se o Natal do Menino Jesus e foi escrita em verso”, conta entusiasmado.
Numa outra mesa, Hermínia Trindade, 75 anos, costureira de profissão, todas as segundas-feiras mede a tensão arterial aos utentes do centro. Hermínia Trindade é residente no bairro há 47 anos e desde que ficou viúva, há 14 anos, que é utente e voluntária no Centro. Tem um espírito dinamizador e confessa “tenho pena que nem todos os idosos participem com mais interesse.”
Hermínia Trindade diz que não trocava Campo de Ourique por nada: “temos aqui tudo, nem preciso de ir à Baixa. Compro tudo aqui”, explica. Sempre disposta a ajudar, Hermínia Trindade desabafa, em tom de brincadeira, “se calhar já é tempo de me reformar, para me dedicar mais a mim, ir visitar museus, ir ao cinema com as amigas.” Para esta residente de Campo de Ourique, a vida começa aos 75.
Tal como o Centro de Dia, a Junta de Freguesia do Santo Condestável, uma das freguesias do bairro, também procura dar apoio à população mais envelhecida do bairro, uma grande parte ainda. A Junta organiza excursões, idas à praia, para entreter os mais velhos e manter a união.
Lourenço Bernardino é presidente da Junta há 12 anos e considera Campo de Ourique “uma pequena cidade dentro da cidade.” Para o presidente, o bairro distingue-se pela sua auto-suficiência e pela forma como as pessoas estão ligadas por laços de convívio e proximidade. “Em Campo de Ourique há uma forma especial de cumprimentar os amigos. Sabemos sorrir”, conta.
Uma das grandes atracções do bairro é o Mercado de Campo de Ourique que em 1998 ganhou o prémio de “melhor qualidade e apresentação das frutas e legumes”, no concurso de retalhistas. Este mercado tem muitas histórias para contar. Uma delas é a de José Santos Bernardo, talhante de profissão, nascido no bairro há 58 anos. Para se lembrar da data de inauguração do mercado, pega numa caneta e rabisca uns números no papel. “O meu pai foi à inauguração do mercado quando tinha 21 anos e se fosse vivo teria 98. O mercado tem 77 anos”, explica orgulhoso.
José Bernardo lembra o passado do bairro como “uma grande família”. Hoje já não é assim mas, apesar disso, diz que “não trocava Campo de Ourique por lado nenhum”. Também os seus filhos não trocaram. Depois de se terem formado, escolheram continuar a viver em Campo de Ourique.
O vento que assolava a encosta dos Prazeres, tornou Campo de Ourique, desde sempre, um local famoso pelos seus “bons ares”, próprio até para príncipes convalescentes. O principal interesse da zona parece ter sido a sua localização privilegiada, entre o rio e a cidade antiga, numa encosta suave e soalheira.
A fixação de médicos no bairro ainda hoje se mantém. Em Campo de Ourique existem muitos consultórios. Além de médicos, o bairro sempre foi procurado por outros profissionais liberais como advogados, arquitectos, engenheiros, tradutores e auditores.
Nos locais mais antigos do bairro, é frequente encontrar figuras ilustres da sociedade. José Carlos Ferreira, empregado de balcão na pastelaria centenária A Tentadora, diz atender políticos, artistas, actores e jornalistas. Miguel Sousa Tavares é um desses clientes habituais, “sempre que está em Lisboa vem cá tomar o pequeno-almoço”, conta referindo-se ao comentador.
A Igreja do Santo Condestável, de estilo neo-gótico, é uma das construções recentes mais emblemáticas. Inaugurada a 14 de Agosto de 1951, homenageia Nuno Álvares Pereira e tem como atractivo os vitrais de Almada Negreiros. “No lugar da igreja havia uma fábrica de telha”, explica José Bernardo.
As ruas de Campo de Ourique estão repletas de lojas, cafés, pastelarias, consultórios e escritórios. Segundo Bernardino Lourenço, “o espaço convida ao convívio. Os cafés continuam a ser locais de leitura do jornal e de encontro com os amigos para dar dois dedos de conversa.”
As casas em Campo de Ourique vendem-se hoje por largos milhares de euros. O nível de vida é o da classe média alta, o que é confirmado pelas várias lojas de marcas caras e pela própria historia (ver caixa). Mas também residem no bairro pessoas de estrato social inferior. Para o presidente da Junta “a grande diversidade de estratos sociais criou desde sempre um ambiente solidário.”
A Garrafeira de Campo de Ourique é um dos estabelecimentos mais distintos do bairro. Iniciou a sua actividade em 1988 e é o local ideal para especialistas e apreciadores de vinho. Com as paredes cobertas de garrafas, a Garrafeira oferece um espaço diferente. A primeira impressão ao entrar na loja é a de viajar no tempo, tal é a variedade das colheitas. Para expressar o carinho por este local, a escritora e residente, Maria José Balancho, escreveu “Cartas de Amor a Campo de Ourique”, um livro que, para além de uma declaração de amor, é também uma viagem pelos locais emblemáticos do bairro.
Os moradores passeiam diariamente pelos espaços verdes. Os mais velhos encontram, no jardim que rodeia a igreja, um local de convívio e de lazer. Campo de Ourique sempre foi um bairro calmo, “mais ainda quando o Casal Ventoso acabou”, afirma José Bernardo, referindo-se à requalificação daquela zona.
O estacionamento é um dos problemas que tem afectado mais o bairro. A falta de espaço para os moradores estacionarem, principalmente à noite, é ainda uma questão a resolver.
A Junta de Freguesia do Santo Condestável há muito que reivindica o alargamento da linha metropolitana a Campo de Ourique, mas essa situação ainda está em estudo.
Os problemas e a procura de soluções, as memórias e as histórias mais recentes, os projectos e a obra feita, fazem deste bairro histórico um lugar, sobretudo, com muita vida. A vida dos que já viveram muito e a vida daqueles que ainda têm um futuro pela frente.
Um pouco de história
Na origem, Campo de Ourique era apenas uma encosta ventosa para onde vão viver os operários das inúmeras fábricas de Alcântara.
Até ao século XVIII o bairro não fazia parte do centro de Lisboa. Quando a primeira freguesia surgiu, a de Santa Isabel, era composta por conventos e quintas. Mais tarde o liberalismo extinguiu os conventos.
Campo de Ourique foi uma zona de grandes ideais liberais, o que é comprovado ainda hoje pelos nomes das ruas e avenidas relativos a homens ligados a revolução de 1820, como Ferreira Borges, Correia Teles e Saraiva Carvalho.
Campo de Ourique foi, desde sempre, uma zona de grandes tradições revolucionárias e republicanas que uniam operários e burgueses, apesar da diferença de classes. Foi nas ruas do bairro que germinou a Implantação da República de 5 de Outubro de 1910.
O início do século XX é uma época de prosperidade que se iniciou com a política de Fontes Pereira de Melo desde o fim do século XIX. Traça-se o vasto xadrez geométrico que constituirá o bairro, para o qual afluiu um estrato social médio-burguês, movido pelo prestígio que rodeava os novos espaços urbanizados. O ideário burguês determinava comportamentos e situações. Hoje o bairro mantém esses traços.
A expressão “rés-vés Campo de Ourique” remonta a 1755 quando o terramoto assolou Lisboa tendo destruído a cidade até à zona de Campo de Ourique, que ficou intacta. A partir daí o ditado generalizou-se.
Texto de Ana Pinto, Gilda Dias e Margarida Ponte
http://www.fcsh.unl.pt/cadeiras/plataforma/foralinha/atelier/a/www/view.asp?edicao=04&artigo=235
------------
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aqueduto_das_%C3%81guas_Livres
-----------------

Sem comentários: