Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNdomingo, 3 de novembro de 2013
Há quem faça do silêncio areal
Há quem faça do silêncio areal
e da palavra punhal
esfolado lamaçal
Há o silêncio de platina
que não rima com mofina
nem morfina
Há a palavra d'ouro
que termina em estouro
no degoladouro
Há o silêncio que rima
com estima
e a palavra que lavra
e não é parva
Há o caleidoscópio
ópio do cinescópio
e o espelho
armado ao pingarelho
Há a festança com abastança
e o respeito levado a peito
Há a verdade certeza
concerteza presa
do andor que preza
em torno da chama
que queima com a teima
Há as palavras sem sentido
breves no ouvido
que ferve sem a verve
Setúbal 2013.11.02
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