* Victor Nogueira
Segundo o articulista, europeísta convicto e militante, o "amigo" americano não merece crédito, desde a guerra do Iraque, mas Putin é pior. Declara o articulista: os EUA manipulam a informação, mas Putin manipula muitíssimo mais, especialmente as redes sociais, escreve o articulista. A Rússia nada tem de democrático e quer acabar com a "democracia" nos países "independentes" após a implosão da União Soviética. Um horror.
Diz o articulista, prosseguindo: Putin, um manipulador que pretende ser visto inquestionavelmente como «um arauto da paz e da ordem internacional» Sim, porque é mentira que os americanos queiram envolver a Europa «numa guerra contra a Rússia.» pois a NATO nunca interviria na Ucrânia pois esta não é membro da dita cuja.
Para o articulista «uma das consequências da desinformação em torno desta crise é que o movimento pacifista na Europa ainda não acordou para esta grave ameaça à paz e não está nas ruas a fazer pressão sobre Putin, como no passado fez sobre Bush durante a guerra no Iraque.»
Mas ... não eram falsos os argumentos que a tríade Bush, Aznar, Blair e Barroso agitou: de Saddam possuir armas de destruição maciça? Se assim foi, porque seria mais credível o espantalho agitado por Biden e certos vassalos "europeístas" acerca da "certeza" duma invasão da Ucrânia em vias de ser perpetrada pela Rússia?
Um dos objectivos de Putin, segundo o articulista, seria impedir a entrada da Ucrânia para a Nato. Ora essa não adesão teria consequências que «poderiam ser devastadoras para a Europa de Leste, fragilizando as suas democracias e a sua integração na Europa democrática.»
Costas larguíssimas têm as putativas "democracias", Estado-Unidense e da Europa do neoliberalismo capitalista
Contudo, apesar de todo o enviesamento do "democrático" articulista, anti-Putin e pró-Nato, a leitura do artigo permite ver o que de facto são as preocupações da Rússia e os objectivos dos EUA/NATO, entre cujos fundadores esteve a chamada "democracia orgânica" de Salazar e Caetano, no mínimo dos mínimos ... admiradores do fascismo e do nazi-fascismo.
Se a União Soviética e os países socialistas europeus foram varridos do mapa, se o "comunismo" falhou face ao triunfo da capitalista Civilização Ocidental, porque não foi a NATO dissolvida, porque se mantém, alargando o seu domínio de Norte a Sul, de poente para nascente, por todo o Atlântico, pelo Índico e pelo Pacífico?
Parafraseando slogans dos tempos da "guerra fria", segundo a "Voz da América", "A verdade é só uma, Radio Moscovo não fala Verdade"
Mas verdade, verdadinha, de fonte segura, desde os finais do século XX, Moscovo é a capital dum país cujo modo de produção é ... capitalista, antagónico do modo de produção socialista da implodida URSS. Na mira da NATO/OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) (Victor Nogueira)
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ANÁLISE - A guerra e a verdade, por Álvaro Vasconcelos 15 de Fevereiro de 2022
A primeira vítima da guerra é a verdade. Sabemos isso desde há muito e a guerra de informação à volta do conflito na Ucrânia não é exceção.
A informação americana deixou de ser credível para muitos, sobretudo depois da Guerra do Iraque e da desinformação sobre o programa nuclear e sobre as armas químicas que, bem sabiam, não existiam. Por arrasto, a informação dos governos europeus, mesmo os que se opuseram à Guerra do Iraque, tornou-se também menos credível.
Por outro lado, Putin, especialista em desinformação e mestre na utilização das redes sociais, conta com muitos que, por antiamericanismo, estão prontos a vê-lo como um arauto da paz e da ordem internacional, ou seja, a aceitar sem questionar os seus objetivos e a sua narrativa. Reflexo desta realidade são afirmações como a de que os americanos querem envolver-nos numa guerra contra a Rússia. Afirmação absurda, já que os americanos sabem que a Rússia não é o Iraque e que tal guerra levaria a um confronto termonuclear e à destruição da vida no hemisfério Norte. Putin sabe que a NATO nunca virá em defesa da Ucrânia, que não é membro da Aliança.
Uma das consequências da desinformação em torno desta crise é que o movimento pacifista na Europa ainda não acordou para esta grave ameaça à paz e não está nas ruas a fazer pressão sobre Putin, como no passado fez sobre Bush durante a guerra no Iraque. Afinal, é a paz na Europa que está em causa.
Comecemos pelo que sabemos da estratégia de Putin: concentração de forças militares significativas na fronteira e chantagem de guerra, acompanhada de exigências que implicam uma revisão da ordem europeia, nomeadamente o fim do alargamento da NATO para leste.
Ora, Putin sabe que nunca terá uma garantia legal de não alargamento da NATO. O seu objetivo é forçar o Governo da Ucrânia, através da ameaça de guerra, a ceder em três questões: na aspiração a ser membro da NATO; no reconhecimento de que a Crimeia é parte da Rússia; e na aceitação da independência da região separatista de Donbass. O seu objetivo é ainda mais ambicioso: uma mudança de regime em Kiev, o que poderá acontecer se o Governo de Zelenskii capitular às exigências do Kremlin. Neste caso, o Presidente ucraniano poderá ter de se demitir, o caos instalar-se na Ucrânia, criando a possibilidade de se vir a instalar um Governo pró-russo. Aliás, a pressão militar já está a enfraquecer, seriamente, o Governo ucraniano, dado o seu impacto económico e o isolamento aéreo do país.
As consequências da capitulação da Ucrânia poderiam ser devastadoras para a Europa de Leste, fragilizando as suas democracias e a sua integração na Europa democrática. Putin também sabe isso. Se o conseguisse, reverteria as conquistas democráticas e de integração do pós-Guerra Fria.
A estratégia americana para contrariar os objetivos de Putin é menos clara. Procura dissuadir uma possível invasão militar, ameaçando a Rússia com pesadas sanções, acompanhadas por um reforço limitado da capacidade militar da Ucrânia. Mas Biden também declarou, desde o início da crise, que nenhum soldado americano morreria pela Ucrânia.
Os Estados Unidos aceitam reabrir as negociações sobre a redução de mísseis de médio alcance e sobre o controle de manobras militares no Leste da Europa, mesmo que rejeitem pôr fim à chamada política de portas abertas da NATO ou ao estacionamento de forças militares nos países do antigo Pacto de Varsóvia, hoje membros da Aliança, como as repúblicas bálticas.
Mais difícil de perceber é a razão dos constantes alertas da Casa Branca de que a Rússia pode invadir a qualquer momento, reforçados pela retirada de pessoal diplomático. Tal estratégia facilita o objetivo russo de máxima pressão e de causar danos graves à economia da Ucrânia.
A Europa tem procurado desenvolver uma estratégia liderada pelo Presidente francês em coordenação com o chanceler alemão. A estratégia europeia acompanha a americana na denúncia da pressão militar russa e na ameaça que representa para a paz, mas tem uma nuance importante, e nisso se diferencia da americana: aceita o redesenhar da ordem europeia, o que pode incluir garantias de que a NATO não se alargará mais para leste.
Os europeus procuram também uma saída pacífica para o conflito no Donbass, com base nos acordos de Minsk, assinados pelos ucranianos no final da intervenção militar russa de 2014. Ao fazê-lo, a Europa está a dizer aos ucranianos que o Donbass será de facto uma região quase independente – como a Abecásia, na Geórgia, depois da intervenção russa de 2008 – e que não há solução militar para garantir a unidade da Ucrânia, mas apenas uma solução política, que implica que o poder de atração da Ucrânia seja maior do que o da Rússia. Desse poder de atração faz parte a perspetiva de integração económica na União Europeia e, a prazo, a integração plena.
Se a Ucrânia se mantiver unida face à pressão militar pode ser que a diplomacia europeia seja bem-sucedida. Putin poderá retirar as tropas dizendo que as suas preocupações sobre a ordem europeia foram atendidas e tendo conseguido que o gasoduto Nord Stream II já não poderá ser posto em causa.
A unidade da Ucrânia na democracia e na prosperidade e a convivência pacífica entre as suas componentes ocidental e russófila deve ser vista não só como a melhor solução para a crise, mas como um factor essencial do projecto de unidade democrática da Europa toda – do Atlântico aos Urais.
Fundador do Forum Demos
2022 02 15
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