* Victor Nogueira
Não temos de ser pobres ou as nanidades do Senhor Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, émulo de Vasco da Gama.
No “Sol”, que em tempos recuados foi de “esquerda”, título recuperado pelas direitas à direita, o Almirante das vacinas e da voz de comando expões o seu manifesto, qual douto conselheiro: «Nas próximas eleições legislativas, os temas centrais que me parecem relevantes, e que suponho para a maioria dos portugueses, são: prosperidade – preços, habitação, salários baixos; equidade– justiça, educação e saúde para todos, desigualdades sociais, imigração; segurança – ameaças internas e externas; e liberdade – crescimento da intolerância.
Os partidos que aspiram governar, e têm sido o garante da democracia, devem ser claros e objetivos nas suas propostas, sem demagogias ou evitando discutir problemas difíceis.»
Uma pausa. O senhor Almirante das vácinas fala em "prosperidade", "equidade" "segurança" e "liberdade", a sua quadrilogia, mas não em "Igualdade" e "Solidariedade". Para Ele "Os partidos devem não só evitar demagogias como devem evitar ”discutir problemas difíceis”.
Tudo simples, como convém para ignaros (e)leitores, tudo ao nível do Chega, especialista em descomplicar problemas difíceis, como é sobejamente "entrevisco". Para o Senhor Passaláqua de Gouveia y Melo «Só com informação adequada os portugueses poderão tomar decisões conscientes para o seu futuro coletivo.» Portantus, nada de complicações que turvem o virginal (e)leitorado. No rame-rame eleitoral, tudo muito chãozinho, muito pela rama, muito rasteirinho, muito ao de leve, como suave pena ao sabor da brisa e de mar chão.
A nível de política internacional o Senhor Passaláqua de Gouveia y Melo encanta com o seu trinadoe uma brilhante descoberta. «Neste contexto, qual deverá ser a posição portuguesa? Portugal não só é um país Europeu, estrito senso, é também um país verdadeiramente Atlântico.»
Longe vão os tempos de Vasco da Gama e Afonso de Albuquerque, feros marinheiros que lançaram os esteios do Portugal do Minho a Timor e policiavam os cinco oceanos pelas sete partidas do Globo Terráqueo.
Mas, desprevenidamente afirma o Senhor Almirante: «O Oceano Atlântico une continentes que agregarão, num futuro próximo, cerca de metade da população mundial. Se há geografia económica interessante, pois no fim a economia são as pessoas, essa geografia é e será certamente o Atlântico.» Esperemos que Donald Trump não o escute, não vá querer abocanhar Portugal tal como pretende incorporar a Gronelândia, e rebaptizar o Mar da Palha como Mar das Américas.
Liderando, mas atento à rectaguarda, D. Eduardo Henrique preconiza: «Manter e reforçar as relações económicas com os outros 26 países da União Europeia. Explorar parcerias e sinergias em setores estratégicos permitirá garantir uma base de retaguarda segura, podendo também acelerar a transformação da economia para um paradigma mais eficiente.»
É bem verdade que este suculento naco de prosa contém palavras de alto gabarito e par'ó baile, como parcerias, sinergias, resiliencia, diáspora, alavancar, paradigma. ..
Talvez o ignaro (e)leitorado desconheça o que significam, mas seguramente o comum do maralhal ficará de boca aberta e queixo caído, murmurando entre si e para com os seus botões ou fecho éclair: “não sabemos nem entendemos o que Ele diz, mas ao falar assim e com estes termos é pessoa muito inteligente, um génio, porque só as genialidades palram assim”.
Reparem neste outro naco similar: «Estamos perante uma fita de tempo acelerada com oportunidades escassas e tempo muito limitado para ação. Só uma economia de conhecimento, ágil, inovadora, tecnológica, capaz de atrair e reter o talento e fortemente competitiva, evitará o perigo de se ver a deslizar para a carruagem de trás do desenvolvimento.
Complementarmente, maximizar a participação nas cadeias de valor internas e internacionais da EU»
Fenomenal. Pena que o ignaro pé descalço não seja capaz de ler de fio a pavio esta luminosa prosa ao Sol, condenado a soletrá-la esforçadamente, em balbuceio, se para tanto chegar o engenho e arte no "Talant de bien-faire".
Outro naco de igual calibre: « Explorar as vantagens geográficas do país, no centro das rotas Atlânticas, facilitará o desenvolvimento de um hub logístico por via do transporte marítimo, aéreo e ferroviário.»
O Senhor de Passaláqua polvilha a sua prosa com deslumbrantes estrangeirismos: hub, big data, smart grid, start-ups, offshores, soft power, design, IoT, por vezes com laivos poéticos, como em «desenvolvimento da economia azul no offshore português» concretizando. « parceria com a UE, os EUA e a China». Mas não com os malvados dos russos
Mais adiante informa o Senhor de Gouveia y Melo qual o azeite que iluminará e oleará a caranguejola da economia às candeias para um míssil super-sónico: « Libertar a economia do atrito que limita o seu crescimento. A liberdade, os mercados, a tecnologia e a inovação são os verdadeiros motores da economia. »
Com elevado brilhantismo o Almirante das vacinas expõe a milonga ao jeito de quadratura do círculo: « Estrangular financeiramente as pessoas ou as empresas para sustentar um Estado menos eficiente não será uma solução vencedora. A redução gradual e generalizada dos impostos, sem comprometer a defesa do Estado Social, que é um marco do progresso das sociedades europeias, poderá ser uma solução exigente mas necessária.»
Depois D Eduardo desvela um pouco o seu sapiente pensamento, como espada de Excalibur cortando o nó-górdio: «Há um ciclo pernicioso para a economia que deve ser quebrado. As empresas não devem ser obrigadas a entrar no jogo das influências e proximidade do aparelho do Estado para sobreviver. Se queremos empresas de sucesso, temos de lhes proporcionar um ecossistema institucional fiável, justo, estável e livre dos pequenos poderes. Esses não só prejudicam a evolução económica como prolongam uma rede de influências nefastas para a democracia.»
Chegado a este ponto, falta-me a paciência, leio o resto da prosápia em diagonal, acelerado, e salto para a final, fecho com chave de ouro americano:
«Creio que esta visão para o futuro de Portugal encontrará eco numa ampla maioria de portugueses e de portuguesas, que, em breve, serão outra vez chamados a escolher uma nova Assembleia da República e o futuro Governo, que, nos termos da Constituição da República, conduzirá a política geral do país, cabendo ao Presidente da República, no quadro das suas responsabilidades e poderes constitucionais, garantir o regular funcionamento das instituições democráticas.»
A talhe de foi-se, o senhor de Passaláqua divide o seu longo manifesto ao Sol em vários capítulos, a saber:
# Não temos de ser pobres, "prosperidade", "equidade" , "segurança" e "liberdade" # Um plano de ação num contexto de incerteza internacional # Solidificar e expandir a base económica de retaguarda # Ganhar resiliência e alavancar o ‘soft power’ # Apostar no Digital e na Inovação # Apostar no Mar e na Defesa # Otimizar o que Portugal já faz bem # Uma Economia Centrada nas Pessoas e Sustentável # Educação e formação # Valorizar as diásporas # Preservar o ambiente
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