foto de família - luanda - o grande automobilista na rua frederico welwitsch (1951), no bairro do Maculusso –
O carro era vermelho, a pedais, e a moradia dos meus pais era creio que no r/c da vivenda que se vê ao fundo, cuja senhoria morava no 1º andar. Fora das fotos, de quase nada me lembro dessa casa, salvo que havia um corredor central e uma varanda nas traseiras, com um quartito onde ficava o quarto de banho com chão de cimento e chuveiro de campanha, daqueles de lona, suspenso dum gancho, que subiam e desciam graças a uma roldana, para ser cheio de água.
Eram um luxo as casas de banho, pois em Portugal nessa época não as havia mesmo nas casas abastadas das aldeias ou da chamada classe média ou pequena burguesia, nas cidades e vilas, sendo posteriormente colocadas pelos inquilinos, a expensas suas e não dos senhorios, como sucedeu na casa do meu avô António, na rua dos Bragas (Porto) ou da minha tia avó Esperança, na vivenda à Raúl Lino em Paço de Arcos, com banheiras amovíveis e de metal ou banhos em grandes alguidares creio que de zinco. Mesmo no enorme casarão de Goios (Barcelos) foi o meu avô António Barroso que a expensas suas mandou erguer uma casa de banho - um luxo - na parte do meu primo Zé onde passava férias, antes de construir a casa no Mindelo.
Nos anos 60/70 os quartos da generalidade das pensões não tinham casa de banho privativa mas sim uma colectiva por andar, ao fundo do corredor, e os banhos eram pagos à parte. E nas casas que alugavam quartos a estudantes eu previamente avisara as hospedeiras que mudava de roupa e tomava banho diariamente, pagando assim mais que os outros, o que não me impedia de nos 1ºs tempos ouvir os comentários da D. Maria José Pinto (Lisboa) ou da D. Vitória Prates (Évora): "Senhor Nogueira, tantos banhos fazem mal à saúde", retorquindo-lhe que se não preocupassem, pois estavam incluídos na mensalidade ajustada.
Na varanda da vivenda em Luanda havia um malão de madeira com a colecção completa da revista de banda desenhada O Senhor Doutor, que ia retirando e fui rasgando ao folhear desajeitadamente, triste feito que hoje lamento como lamento o meu pai não mo ter impedido. A minha enorme colecção de BD ficou em Luanda porque o meu pai não a trouxe, antes da independência de Angola em 1975. Nela figuravam os jornais infantis como a Joaninha, da revista Modas e Bordados, bem como o PimPamPum e o Bambi, suplementos dominicais respectivamente d’ O Século (Lisboa, enviado pelo meu avô Luís) e d’A Província de Angola (Luanda). Entre as revistas lembro-me d’O Cavaleiro Andante (tb enviada pelo meu referido avô), incluindo a edição angolana, o Zorro,O Mosquito, o Tintin, Le Journal Spirou, o Mundo de Aventuras (edição dos anos 40/50), o Foguetão (em formato grande, que apreciava), João Ratão, o Flecha (doºs anos 50), Camarada (da Mocidade Portuguesa) e outras de que me não recordo, para além de bd brasileira como o Gibi, Grandes Obras Primas da Literatura Ilustradas, Ciência aos Quadrinhos, História aos Quadrinhos, entre outras.
Mais ou menos no sítio onde estou ficava o Colégio D. Duarte, onde frequentei a 1ª e a 2ª classes, sendo minha professora Judite Mata, e do 1º dia de aulas falo no poema "No cimo das escadas". Entrei a meio do ano lectivo e no final estava apto a fazer exame, mas como não tinha idade fui impedido de fazê-lo e tive de repetir a 1ª classe, o que terá sido um frete.
Como se vê pela foto a rua quase não tinha movimento automóvel mas contava a minha mãe que ao regressar da escola eu avistara um carro ao longe e, pousando a pasta dos livros cuidadosamente no meio da rua, pernas para que te quero em busca da segurança do passeio. A mala era de cartão com tampa e nela se transportavam o livro e os cadernos escolares. As carteiras, com tampo que se levantava para guardar o material escolar, tinham um tinteiro individual no qual se molhava a pena de aparo de metal, que no meu caso e nos primeiros tempos espalhava borrões de tinta azul pelo caderno das cópias e dos ditados.
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Frederico Welwitsch (1806-1872) foi um médico e naturalista austríaco, conservador do Museu e Jardim Botânico da Ajuda entre 1840 e 1844 que de 1853 a 1861 explorou a flora africana por encomenda do governo português e foi remetendo os espécimes para o Jardim Botânico. Os seus inestimáveis e valiosos herbários são compostos por espécimes da flora angolana (c. 9400 exemplares) e da flora portuguesa (c. 3000 exemplares). No deserto do Namibe, no sul de Angola, este cientista descobriu uma planta à qual e em sua homenagem foi posteriormente dado o nome de Welwitschia mirabilis e é como que uma relíquia do tempo dos dinossauros e do cretácico. Esta espécie vegetal pode viver entre mil a dois mil anos.
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