* Victor Nogueira
Viva o 1º de Maio! Respeita quem trabalha e produz! Não faças compras no 1º de Maio
No 1º de Maio de 1974 e no 25 de Abril de 1975 e anos subsequentes o comércio encerrava, tal como aos sábados e domingos. Depois, com as políticas do PS, PSD & CDS esta conquista foi revertida, sobretudo em benefício das grandes superfícies comerciais.
Fica, de Ary dos Santos, o "Soneto do Trabalho"
Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos e das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.
Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas.
Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reacção não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.
Levanta-te meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.
:Na minha correspondência dessa altura registo:
«O Partido Comunista Português pretendia declarar uma greve geral para o próximo 1º de Maio. Mas a Junta de Salvação Nacional instaurada após as 1ªs convocações - Haverá greve ou não? Ou limitar-se-á a uma convocação gigantesca? Até que ponto a SEDES e a CDE bem como os sindicatos conseguirão “controlar” a situação para não obrigar a Junta a desmentir as suas afirmações ?
(...) Domingo de manhã houve uma manifestação popular. À noite fui ao cinema ver " Malteses, Burgueses e às Vezes", que era português e passado em Angola, nomeadamente em Luanda.
O 1º de Maio - Dia do Trabalhador - é finalmente feriado. Prevê se uma manifestação, que de resto agora são livres
Em Évora, no ISESE, antes do 25 de Abril o ISESE encerrava no dia 1º de Maio – Dia de S. José Operário, cuja estátua, com esta etiqueta, estava no 1º lance das escadas do piso térreo para os superiores.» (MCG – 1974.04.27/28)
No 1º de Maio de 1974, em Évora, passei o dia inteiro sem comer; estava tudo fechado.
«Passaram hoje em Évora uma coluna de carros de assalto, jipões e jeeps. Os soldados iam sorridentes, acenavam, alguns tinham flores nos canos das armas. Os populares gritam "Obrigado, rapazes!" e eu depois tenho pena de não ter correspondido ao aceno dos militares, apesar de estar comovido. (...)
O 1º de Maio - Dia do Trabalhador - é finalmente feriado. Prevê se uma manifestação, que de resto agora são livres.
Viste o TV 7, ontem, domingo? É muito para um homem só ouvir finalmente, aquilo que alguns pensavam, muitos sentiam, mas não se podia dizer. E sobretudo o fim da guerra colonial, o direito à greve...
Não, (...) não creio que se possa retroceder. A luta dos próximos tempos será de morte (não, não me refiro à guerra civil!); espero que o povo português não perca tudo o que pretenderão tirar lhe: uma sociedade mais justa e humana. Mas de algo estou certo: "a longa noite do fascismo não voltará!".» (MCG - 1974.04.27/28)
«Já é sábado, ao entardecer. Estou aqui na esplanada da pastelaria "Mexicana”, aqui na Praça de Londres. As pessoas falam animadamente; todo o comércio, no entanto, está todo fechado: está em vigor a semana de 5 dias de trabalho. Assisti, ao meio da tarde, ao encerramento dos cafés e pastelarias, cujos clientes as abandonaram calmamente - muitos com pacotinhos de bolos - não fossem os manifestantes (que não cheguei a ver) partirem os vidros. Esperemos que a "palavra de ordem" não se tenha esquecido que há muita malta que precisa dos restaurantes para almoçar e jantar; no 1º de maio, um tipo ainda aguenta, mas agora... ( ) ah! Neste preciso momento abrem se as portas da pastelaria. Talvez o encerramento tenha sido apenas para o tempo da manifestação dos caixeiros, iniciada no rossio. (Foi mesmo!). (MCG - 1974.05.11)
Sentado aqui no "Copacabana" vejo as pessoas que passam aqui na rua ou que "estacionam" na esplanada. Um velho mal barbeado pede qualquer coisa às pessoas com chávena, pires e copos mais ou menos vazios diante de si, mas ninguém lhe liga. Relanceio o meu olhar ao meu redor e são velhos e velhas que enchem as cadeiras da esplanada. Além, na "Mexicana", a juventude é a nota característica. Que fazem estas pessoas ? De que vivem? Tão ociosas que estão!
Faço horas aqui na Avenida Guerra Junqueiro, junto à Praça de Londres. (...) Levanto o olhar e dou pela papelaria em frente; na montra títulos de livros ou assuntos na "berra": "Sobre o Capitalismo Português", "4 ismos" (uma porcaria!), "O Drama do Chile", "Tarrafal, Aldeia da Morte", "Watergate, o Processo do Século"´ (e eu a pensar nos julgamentos de Nuremberga ou de Estocolmo, respectivamente, sobre os crimes contra a humanidade, dos Nazis e dos Americanos no Vietname!), "O Capital (Karl Marx), "O Estado e a Revolução" (Lenine), "Como Iludir o Povo" (idem)...(MCG - 1974.09.12)
ADENDA -
O 1º de Maio de 1974 esteve na base duma Reunião Geral de Alunos convocada para esse dia, conforme comunicado da Comissão Coordenadora das Actividade da AEISESE:
«Ao 1º dia do mês de Maio de 1974, pelas 16,35h, estudantes do ISESE, reunidos em Assembleia na sede do MDE [Movimento Democrático de Évora], como anteriormente se verificara a 30 de Abril, para informalmente discutirem alguns objectivos ligados ao funcionamento interno daquele estabelecimento de ensino, a fim de em RGA [Reunião Geral de Alunos] a realizar 6ª feira, pelas 21:00 horas, serem definidas as medidas a tomar e a sua resolução imediata.
No início da reunião verificou-se a presença de 47 estudantes.
As razões que levaram aqueles estudantes a tal procedimento foram justificadas pelo apoio ao 1º de Maio – DIA DO TRABALHADOR – e a sua celebração festiva.
Mais se acrescenta que para além do momento histórico porque passamos a vontade dos estudantes foi aceite pela mesa informalmente constituída.
Foi então posta em causa a natureza da reunião, tendo-se decidido que a mesma não revestia qualquer aspecto de Reunião Geral de Alunos. Quaisquer decisões ali tomadas deveriam ficar sujeitas a posterior ractificação. (...)»
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Jorge Magalhães
O 1°de Maio, foi a primeiro direito legal após o 25 de Abril e instituído Feriado Nacional. Os trabalhadores do Comércio e distribuição alimentar, têm o feriado consagrado no Contrato Coletivo de Trabalho. Tem que perder o medo, fazer valer os seus direitos e não ir trabalhar no seu dia, o dia do trabalhador.
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